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Realidade não foi alvo
de inspirador da série
DA REPORTAGEM LOCAL
Márcio Souza tinha dez anos
quando andou pela primeira vez
na Madeira-Mamoré. Não se lembra de muitos detalhes da viagem,
mas guardou com cuidado de
menino a sensação fresca de andar pela primeira vez de trem.
Nos anos 70, quando o governo
militar começou a desenvolver na
Amazônia projetos "dignos de
Gabriel García Márquez", como a
Transamazônica e o Projeto Jari,
o escritor de Manaus retirou do
baú os velhos vagões da infância.
"Mad Maria" foi o jeito que encontrei para tocar nas sandices
desse período. Se eu falasse na
Transamazônica, iria em cana",
rememora Souza, 58.
O escritor conta que não foi nas
florestas da região que pesquisou
para fazer seu terceiro romance.
"As únicas selvas nas quais entrei
foram o Museu Britânico, a Biblioteca Nacional de Paris e a Biblioteca Nacional do Rio."
Mas o livro que serve de base
para a série da Globo não tem, segundo seu autor, a menor pretensão de contar fidedignamente a
história da ferrovia.
"Não é um livro de história. É
um romance. Eu inventei o médico, o engenheiro, o índio, os trabalhadores. Mas eu tinha de pôr o
sujeito trabalhando e não sei como se assenta um trilho ou como
um médico da época procedia.
Foi isso que busquei nas bibliotecas."
Sobre a construção da ferrovia
ele diz não ter achado muito material. "O arquivo sobre a estrada
que ficaria no Ministério dos
Transportes foi queimado pelo
Exército. Disseram para mim que
era mais barato queimar do que
transportar a papelada."
Da pouca bibliografia existente,
afirma ter aproveitado apenas
"Estrada de Ferro Madeira-Mamoré" (1907), do americano Neville Craig, obra que foi uma das
bases do estudo de Foot Hardman. "A Ferrovia do Diabo", de
Manoel Rodrigues Ferreira, outra
referência do tema, ele diz não ter
lido por achar "muito fraco".
Souza, que será tema da próxima edição do prestigiado "Cadernos de Literatura Brasileira", do
Instituto Moreira Salles, a sair em
agosto, conta que nunca releu seu
"Mad Maria", que foi lançado em
1980 e que desde então é reeditado
continuamente.
O escritor tampouco se envolveu na produção da minissérie
global. "Só estou olhando de camarote", brinca o atual diretor do
Teatro Experimental do Sesc do
Amazonas.
(CEM)
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