São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 2005

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Realidade não foi alvo de inspirador da série

DA REPORTAGEM LOCAL

Márcio Souza tinha dez anos quando andou pela primeira vez na Madeira-Mamoré. Não se lembra de muitos detalhes da viagem, mas guardou com cuidado de menino a sensação fresca de andar pela primeira vez de trem.
Nos anos 70, quando o governo militar começou a desenvolver na Amazônia projetos "dignos de Gabriel García Márquez", como a Transamazônica e o Projeto Jari, o escritor de Manaus retirou do baú os velhos vagões da infância.
"Mad Maria" foi o jeito que encontrei para tocar nas sandices desse período. Se eu falasse na Transamazônica, iria em cana", rememora Souza, 58.
O escritor conta que não foi nas florestas da região que pesquisou para fazer seu terceiro romance. "As únicas selvas nas quais entrei foram o Museu Britânico, a Biblioteca Nacional de Paris e a Biblioteca Nacional do Rio."
Mas o livro que serve de base para a série da Globo não tem, segundo seu autor, a menor pretensão de contar fidedignamente a história da ferrovia.
"Não é um livro de história. É um romance. Eu inventei o médico, o engenheiro, o índio, os trabalhadores. Mas eu tinha de pôr o sujeito trabalhando e não sei como se assenta um trilho ou como um médico da época procedia. Foi isso que busquei nas bibliotecas."
Sobre a construção da ferrovia ele diz não ter achado muito material. "O arquivo sobre a estrada que ficaria no Ministério dos Transportes foi queimado pelo Exército. Disseram para mim que era mais barato queimar do que transportar a papelada."
Da pouca bibliografia existente, afirma ter aproveitado apenas "Estrada de Ferro Madeira-Mamoré" (1907), do americano Neville Craig, obra que foi uma das bases do estudo de Foot Hardman. "A Ferrovia do Diabo", de Manoel Rodrigues Ferreira, outra referência do tema, ele diz não ter lido por achar "muito fraco".
Souza, que será tema da próxima edição do prestigiado "Cadernos de Literatura Brasileira", do Instituto Moreira Salles, a sair em agosto, conta que nunca releu seu "Mad Maria", que foi lançado em 1980 e que desde então é reeditado continuamente.
O escritor tampouco se envolveu na produção da minissérie global. "Só estou olhando de camarote", brinca o atual diretor do Teatro Experimental do Sesc do Amazonas. (CEM)


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