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TV
Série de musicais da DirecTV, que estréia nesta quarta-feira, coloca o cantor para comentar sua obra em arquivo em vídeo
Biografia redescobre relíquias de Chico
RICARDO ALEXANDRE
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Há muitos e muitos séculos,
Chico Buarque confessava seu espanto com o fato de que, quando
pensava nos tratos que recebia da
crítica literária e teatral, a imprensa musical sempre lhe parecia a
mais justa e equilibrada. Pois a série "Chico Buarque", que o canal
605 da DirecTV estréia na próxima quarta, é a retrospectiva mais
equilibrada e respeitosa que o
cantor poderia querer à altura de
seus 41 anos de carreira. É fruto da
proximidade com um especialista
em música vindo da imprensa televisiva, o diretor Roberto de Oliveira, que comandou vários especiais de Chico desde os anos 70.
"Chico Buarque" não é um documentário", vai logo esclarecendo o diretor. "É um grande musical, embora se valha de certas características de documentário. A
idéia é Chico revisitar sua obra, e
tudo o que há de importante a se
dizer está na sua música." Com isso, entenda-se a publicação dos
arquivos restaurados da TV Bandeirantes, em especiais desde
1974, tratados como relíquias, exibidos na íntegra e comentados
pelo nossos velhos olhos azuis:
Chico Buarque de Hollanda.
Costurando o formato, há um
ou outro desvio de rota, como locações deslumbrantes (Rio de Janeiro no primeiro capítulo, Roma
e Paris nos dois próximos) e arquivos pessoais do próprio cantor
e de Oliveira. As declarações são
inseridas sem edição, os musicais
estão na íntegra, o áudio original
está brilhante. Parece simples,
mas quando entra Chico, Francis
Hime e o regional do bandolinista
Isaías esmerilhando "Meu Caro
Amigo", ao vivo em 76, tudo parece fazer sentido.
"Eu havia produzido muita coisa valiosa com Chico na Band e
muito disso corria risco de desaparecer, então a idéia inicial era
recuperar esse material e disponibilizá-lo ao público", explica. "E,
mais do que publicá-lo, era preciso contextualizar, explicar, e ninguém melhor do que o próprio
cantor para isso."
Amparado pela Lei do Audiovisual, Oliveira projetou uma série
de dez episódios. Nesta semana,
vai ao ar "Meu Caro Amigo", sobre os parceiros e mestres de Chico. Em 23 de fevereiro, vem "À
Flor da Pele", gravado em Paris,
sobre a perspectiva feminina na
obra do cantor. Em 25 de março, é
a vez do aspecto político da música buarquiana, em "Vai Passar",
com locações em Roma, onde
Chico viveu durante o exílio nos
anos 70. Esses são os três episódios com exibição acordada com
o canal musical da DirecTV e previstos para serem reunidos em
um box de DVDs no segundo semestre. Os sete episódios seguintes, que Oliveira pretende concluir neste ano, devem seguir o
mesmo formato. Tratarão de cinema, teatro e literatura.
No meio de tanto material de
arquivo, veio a surpresa: Chico
havia terminado uma nova canção, a tempo de incluí-la no primeiro episódio da série. "Renata
Maria", parceria com Ivan Lins, é
a segunda música composta nos
últimos meses pelo cantor (a primeira foi "Porque Era Ela, Porque
Era Eu", para o filme "A Máquina", de João Falcão).
"Acho que ele está saindo de
uma fase literária e começando
mais uma fase musical", suspeita
o diretor, que ambiciona incluir
uma nova gravação em cada um
dos dez episódios mensais. "Chico está no auge de sua carreira.
Não vejo a hora de ouvir coisas
novas dele."
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