São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 2005

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TV

Série de musicais da DirecTV, que estréia nesta quarta-feira, coloca o cantor para comentar sua obra em arquivo em vídeo

Biografia redescobre relíquias de Chico

RICARDO ALEXANDRE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Há muitos e muitos séculos, Chico Buarque confessava seu espanto com o fato de que, quando pensava nos tratos que recebia da crítica literária e teatral, a imprensa musical sempre lhe parecia a mais justa e equilibrada. Pois a série "Chico Buarque", que o canal 605 da DirecTV estréia na próxima quarta, é a retrospectiva mais equilibrada e respeitosa que o cantor poderia querer à altura de seus 41 anos de carreira. É fruto da proximidade com um especialista em música vindo da imprensa televisiva, o diretor Roberto de Oliveira, que comandou vários especiais de Chico desde os anos 70.
"Chico Buarque" não é um documentário", vai logo esclarecendo o diretor. "É um grande musical, embora se valha de certas características de documentário. A idéia é Chico revisitar sua obra, e tudo o que há de importante a se dizer está na sua música." Com isso, entenda-se a publicação dos arquivos restaurados da TV Bandeirantes, em especiais desde 1974, tratados como relíquias, exibidos na íntegra e comentados pelo nossos velhos olhos azuis: Chico Buarque de Hollanda.
Costurando o formato, há um ou outro desvio de rota, como locações deslumbrantes (Rio de Janeiro no primeiro capítulo, Roma e Paris nos dois próximos) e arquivos pessoais do próprio cantor e de Oliveira. As declarações são inseridas sem edição, os musicais estão na íntegra, o áudio original está brilhante. Parece simples, mas quando entra Chico, Francis Hime e o regional do bandolinista Isaías esmerilhando "Meu Caro Amigo", ao vivo em 76, tudo parece fazer sentido.
"Eu havia produzido muita coisa valiosa com Chico na Band e muito disso corria risco de desaparecer, então a idéia inicial era recuperar esse material e disponibilizá-lo ao público", explica. "E, mais do que publicá-lo, era preciso contextualizar, explicar, e ninguém melhor do que o próprio cantor para isso."
Amparado pela Lei do Audiovisual, Oliveira projetou uma série de dez episódios. Nesta semana, vai ao ar "Meu Caro Amigo", sobre os parceiros e mestres de Chico. Em 23 de fevereiro, vem "À Flor da Pele", gravado em Paris, sobre a perspectiva feminina na obra do cantor. Em 25 de março, é a vez do aspecto político da música buarquiana, em "Vai Passar", com locações em Roma, onde Chico viveu durante o exílio nos anos 70. Esses são os três episódios com exibição acordada com o canal musical da DirecTV e previstos para serem reunidos em um box de DVDs no segundo semestre. Os sete episódios seguintes, que Oliveira pretende concluir neste ano, devem seguir o mesmo formato. Tratarão de cinema, teatro e literatura.
No meio de tanto material de arquivo, veio a surpresa: Chico havia terminado uma nova canção, a tempo de incluí-la no primeiro episódio da série. "Renata Maria", parceria com Ivan Lins, é a segunda música composta nos últimos meses pelo cantor (a primeira foi "Porque Era Ela, Porque Era Eu", para o filme "A Máquina", de João Falcão).
"Acho que ele está saindo de uma fase literária e começando mais uma fase musical", suspeita o diretor, que ambiciona incluir uma nova gravação em cada um dos dez episódios mensais. "Chico está no auge de sua carreira. Não vejo a hora de ouvir coisas novas dele."


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