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CRÍTICA
Na série, o que importa é apenas a música
FREE-LANCE PARA A FOLHA
De espécie de pin-up da
bossa para inimigo número um da ditadura, daí para
gatão de quarenta, daí para reserva moral da música brasileira, Chico Buarque sempre conduziu sua imagem pública de
maneira exemplar e sofisticada. Tanto quanto Caetano ou
Roberto, só que sem viver no limite do sofrimento humano
como este ou angariar a antipatia geral como aquele. Roberto
de Oliveira, que já registrou o
cantor inúmeras vezes, agora
faz o registro em vídeo de Chico Buarque com a maior cara
de Chico Buarque da paróquia.
A série tem cores absolutamente formais. Chico fala, ninguém interrompe, a música se
faz, ninguém interrompe, Chico fala mais um pouco sobre si
e sobre a música, e assim a coisa vai. Comparado ao ótimo
"making of" já em exibição,
com cortes rápidos e depoimentos divertidíssimos, a formalidade fica ainda mais evidente. O negócio aqui é a música, nada mais, nada menos.
Roberto de Oliveira, um dos
grandes diretores de musicais
surgidos na TV brasileira pós-festivais, não faz distinção entre clássicos populares e canções obscuras e rebuscadas. As
imagens devem ser belas, históricas, profundamente musicais e, mais importante, servirem aos temas dos programas e
terem a cara de Chico Buarque.
Faz sentido que o diretor se
apresse em distinguir sua série
de um documentário. "Meu
Caro Amigo" carece de material histórico, documental, e a
ausência dos arquivos da TV
Record, onde Chico surgiu e fez
seus principais sucessos para o
povão, nos anos 60, chega a ser
incômoda às vezes. Mas, de novo, é um corte plenamente justificado pela opção pela música. Quem quer informação que
vá para o chicobuarque.com.
Até porque um documentário humanizaria o biografado, e
"Meu Caro Amigo" mitifica
nosso caro amigo ainda mais.
As cenas na Biblioteca Nacional durante a exposição "O
Tempo e o Artista" e os depoimentos em "off", como máximas de sabedoria, alimentam o
fanatismo crescente em torno
de Chico, mas pouco desvendam de sua intrincada personalidade e inteligência artística.
Por outro lado, repare a capacidade rara de acomodar, num
mesmo episódio, sob o mesmo
tema, todo o espectro do autor
de "Construção" e, ainda assim, tornar cada faceta (o romântico, o político, o parceiro
etc) complementar. Há momentos quase litúrgicos (como
quando surgem as parcerias
com Edu Lobo) e outros abertamente divertidos (como o
mantra-malandro "Maricotinha" em dueto com Dorival
Caymmi). É Chico Buarque em
alta definição, para as macacas
de auditório e para os castristas
resistentes. É Chico Buarque
em forma e conteúdo. Vai reclamar de quê?
(RA)
"Chico Buarque" (primeiro
episódio: "Meu Caro Amigo")
Quando: quarta (exibições a partir
das 12h), no canal 605 da DirecTV
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