São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

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"Táxi" questiona "política de tortura"

Documentário vencedor do Oscar 2008 tem como fio condutor taxista afegão morto em prisão americana

CRISTINA FIBE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 2002, o taxista afegão Dilawar, 22, transportava três passageiros quando foi capturado e levado à prisão americana de Bagram, no Afeganistão. Sem nunca ter sido acusado de crime nenhum, o rapaz foi torturado até a morte.
O caso de Dilawar é o fio condutor de "Um Táxi para a Escuridão", Oscar de melhor documentário no ano passado e que estreia hoje no Brasil. O diretor, Alex Gibney, procura explicar como os métodos de tortura usados pelos EUA se espalharam entre Bagram, Abu Ghraib, no Iraque, e Guantánamo, em Cuba, sob orientação dos altos escalões do governo Bush.
Outra inspiração para que Gibney decidisse expor os abusos foi seu pai, Frank, morto em 2006. "Como um ex-interrogador da Marinha, ele ficou furioso com a ideia de que o nosso país poderia ter desenvolvido uma política oficial de tortura", conta o diretor, por e-mail.
"Sua irritação me motivou a perseguir a difícil tarefa de fazer o filme." Apesar de dizer não ter sofrido pressão do governo americano, Gibney afirma que o maior obstáculo foi conseguir que os entrevistados falassem. "Táxi" traz depoimentos de envolvidos com o caso Dilawar, soldados condenados por tortura, membros do governo e ex-prisioneiros.
Para financiar o documentário, ele diz ter sido procurado "por pessoas conservadoras, que ficaram ofendidas pelo que a administração estava fazendo. Eles investiram uma boa quantia de dinheiro. Acho que a maioria dos americanos ficou ofendida pelo que o governo Bush andava fazendo, mas tinha medo de protestar".
Os protestos tiveram algum efeito. Gibney diz achar que a postura dos EUA mudou. "Não acho que tortura seja uma regra agora. Antes, era", afirma.
"Lamentavelmente, a maioria do Congresso foi extremamente covarde e apoiou o "Military Commissions Act" [de 2006], que pode tornar membros da administração imunes a processo. Ao mesmo tempo, a pressão pública e a coragem de alguns senadores resultaram em leis que proibiram muitos dos abusos e determinaram novas diretrizes."
Sobre o que Barack Obama pode fazer em relação à tortura, Gibney afirma "ter esperanças de que ele feche Guantánamo e encontre uma maneira honrosa de determinar quais prisioneiros devem ser soltos e quais devem ser julgados".
"O fato é: os americanos e o mundo merecem equidade (soltando os inocentes) e justiça -um rígido, mas justo, julgamento das mentes que comandaram o 11 de Setembro e outros atos terroristas."


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