São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

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Para o diretor do Glastonbury Festival, cachê mais baixo é o segredo do sucesso

DO ENVIADO A CANNES

É o sonho de qualquer amante de música: promover, no quintal de casa, shows de alguns dos mais populares artistas do mundo, como Radiohead, Oasis, The Cure, Killers, Paul McCartney e Coldplay. É o que faz Michael Eavis, que desde 1970 organiza o gigantesco Glastonbury Festival no gramado de sua fazenda, na cidade de mesmo nome, na Inglaterra.
Hoje com 73 anos, o fazendeiro Eavis consegue atrair nomes de peso do pop internacional e reunir 180 mil pessoas de uma maneira quase anacrônica para os padrões atuais. Porque o Glastonbury não faz parte dos festivais corporativos, ligados a empresas privadas que dominam o circuito de grandes eventos no mundo.
Como Eavis consegue contratar gente como The Who e R.E.M. sem contar com um grande patrocinador? "Não é um evento lucrativo -perdemos dinheiro no ano passado. Mas as bandas topam tocar por cachês mais baixos porque sabem que não fazemos isso por dinheiro. Glastonbury tem uma história e um conceito sólidos", disse Eavis à Folha, após receber, no Midem, um prêmio pela contribuição do festival a causas ecológicas.
A curiosa e distinta história a que se refere Eavis começou em 19 e 20 de setembro de 1970, primeira edição do evento. "Eu trabalhava na fazenda e queria fazer algo. Sempre fui fã de Elvis e de rock, costumava tocar música pop para as minhas vacas. Então decidi montar um festival." Nos dois dias, passaram pela fazenda de Eavis, entre outros, Marc Bolan (do T-Rex). O evento recebeu 1.500 pessoas, que pagaram uma libra por ingresso (com direito a tomar leite fresco).
O festival cresceu exponencialmente -170 mil pessoas no ano passado, com mais de 2.000 atrações que se dividiam entre performances de música, teatro, comédia e artes plásticas, em dezenas de palcos. Assim, as 400 vacas da fazenda de Eavis não circulam mais pelo evento, como acontecia antigamente. Entre 24 e 28 de junho deste ano, os animais serão levados para uma área afastada dos palcos, para não serem incomodados pelo barulho.
Grandes artistas aceitam tocar em Glastonbury por preço baixo porque sabem que o festival não tem fins lucrativos. No ano passado, Eavis doou cerca de 2 milhões de libras (quase R$ 6,5 milhões) a entidades carentes britânicas, e enviou ao Senegal sete toneladas de galochas que haviam sido utilizadas pelo público, para tentar evitar o lamaçal criado pelas chuvas. "Os hippies dos anos 1970 estavam 40 anos à frente do tempo", brinca Eavis. "Naquela época, eles já se preocupavam com a natureza."
Para a edição 2009 do Glastonbury, Eavis diz que já vendeu 90% dos ingressos -mesmo sem ter anunciado ainda as atrações. Um dos nomes cotados é o da banda Little Joy, de Rodrigo Amarante (Los Hermanos) e Fabrizio Moretti (Strokes). Emily Eavis, filha de Michael e co-organizadora do festival, disse em entrevista que o disco da banda foi um dos melhores que ouviu em 2008, e que "adoraria" tê-la no evento.


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