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Para o diretor do Glastonbury Festival, cachê mais baixo é o segredo do sucesso
DO ENVIADO A CANNES
É o sonho de qualquer amante de música: promover, no
quintal de casa, shows de alguns dos mais populares artistas do mundo, como Radiohead, Oasis, The Cure, Killers,
Paul McCartney e Coldplay. É o
que faz Michael Eavis, que desde 1970 organiza o gigantesco
Glastonbury Festival no gramado de sua fazenda, na cidade
de mesmo nome, na Inglaterra.
Hoje com 73 anos, o fazendeiro Eavis consegue atrair nomes de peso do pop internacional e reunir 180 mil pessoas de
uma maneira quase anacrônica
para os padrões atuais. Porque
o Glastonbury não faz parte dos
festivais corporativos, ligados a
empresas privadas que dominam o circuito de grandes
eventos no mundo.
Como Eavis consegue contratar gente como The Who e
R.E.M. sem contar com um
grande patrocinador? "Não é
um evento lucrativo -perdemos dinheiro no ano passado.
Mas as bandas topam tocar por
cachês mais baixos porque sabem que não fazemos isso por
dinheiro. Glastonbury tem
uma história e um conceito sólidos", disse Eavis à Folha, após
receber, no Midem, um prêmio
pela contribuição do festival a
causas ecológicas.
A curiosa e distinta história a
que se refere Eavis começou
em 19 e 20 de setembro de
1970, primeira edição do evento. "Eu trabalhava na fazenda e
queria fazer algo. Sempre fui fã
de Elvis e de rock, costumava
tocar música pop para as minhas vacas. Então decidi montar um festival." Nos dois dias,
passaram pela fazenda de Eavis, entre outros, Marc Bolan
(do T-Rex). O evento recebeu
1.500 pessoas, que pagaram
uma libra por ingresso (com direito a tomar leite fresco).
O festival cresceu exponencialmente -170 mil pessoas no
ano passado, com mais de
2.000 atrações que se dividiam
entre performances de música,
teatro, comédia e artes plásticas, em dezenas de palcos. Assim, as 400 vacas da fazenda de
Eavis não circulam mais pelo
evento, como acontecia antigamente. Entre 24 e 28 de junho
deste ano, os animais serão levados para uma área afastada
dos palcos, para não serem incomodados pelo barulho.
Grandes artistas aceitam tocar em Glastonbury por preço
baixo porque sabem que o festival não tem fins lucrativos.
No ano passado, Eavis doou
cerca de 2 milhões de libras
(quase R$ 6,5 milhões) a entidades carentes britânicas, e enviou ao Senegal sete toneladas
de galochas que haviam sido
utilizadas pelo público, para
tentar evitar o lamaçal criado
pelas chuvas. "Os hippies dos
anos 1970 estavam 40 anos à
frente do tempo", brinca Eavis.
"Naquela época, eles já se preocupavam com a natureza."
Para a edição 2009 do Glastonbury, Eavis diz que já vendeu 90% dos ingressos -mesmo sem ter anunciado ainda as
atrações. Um dos nomes cotados é o da banda Little Joy, de
Rodrigo Amarante (Los Hermanos) e Fabrizio Moretti
(Strokes). Emily Eavis, filha de
Michael e co-organizadora do
festival, disse em entrevista
que o disco da banda foi um dos
melhores que ouviu em 2008, e
que "adoraria" tê-la no evento.
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