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Análise
Renovação de orquestra e criação da Sala São Paulo são marcos da Era Neschling
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
Como fica a Osesp agora? Um
dia depois da notícia da demissão do maestro Neschling, essa,
naturalmente, é a pergunta que
todos se fazem. Uma primeira
resposta prática já foi anunciada, com a devida eloquência:
Yan Pascal Tortelier será o novo regente titular, com contrato de dois anos (2009-2010).
Depois acontece o processo de
escolha do novo diretor artístico, que assume em 2011.
Desde junho do ano passado,
quando o Conselho da Fundação Osesp aceitou o pedido do
próprio Neschling de não renovar seu contrato, muitas versões têm circulado sobre o episódio. Quase nunca se relata a
sequência de fatos.
Aconteceu o seguinte: depois
de três anos de atividade, o
Conselho resolveu chamar especialistas para estudar melhor
como se administra uma orquestra, segundo padrões internacionais. A notícia chegou
ao maestro, que a interpretou
da pior forma e reagiu anunciando pela imprensa sua decisão de não prosseguir à frente
da Osesp depois de 2010.
O Conselho só podia mesmo
confirmar a saída do regente.
Neschling em princípio ficaria
com a Osesp nas próximas duas
temporadas. Durante esse tempo, seria iniciada a busca de um
novo diretor artístico, com
orientação de dois experts.
Resumo: sentindo-se ofendido ao ver contestada sua autoridade total sobre a orquestra, o
maestro foi diretamente à imprensa. O Conselho ou voltava
atrás, e perdia o respeito, ou
mantinha-se firme e perdia o
maestro. Perdeu o maestro
-nos dois sentidos da frase.
De lá para cá, Neschling deu
várias declarações agressivas.
Isso, mais uma carta de protesto dos músicos -que até então
não tinham dado um pio- foi o
sinal que faltava para que o
Conselho demitisse o maestro.
Os mais de 11 mil assinantes
da Osesp vão chiar; mas tudo
mostra que Neschling chegou
ao limite -até ele, que sempre
passou dos limites.
Legado
Com este longo ciclo da orquestra chegando ao fim, ninguém pode tirar do maestro a
glória de ter realizado, contra
todas as expectativas, o mais
ambicioso e mais bem sucedido
projeto musical nessa área de
que já se teve notícia entre nós.
A renovação da Osesp, a partir de 1997, e a construção da
Sala São Paulo (inaugurada em
1999) são marcos de um período que será conhecido com justiça como a Era Neschling. Não
só se chegou a resultados musicais de alto nível, mas mudou-se a forma de administrar as
coisas, criando um modelo hoje
seguido, em alguma medida,
por muitas instituições.
O mínimo que se pode dizer é
que a Osesp de Neschling desprovincianizou a música clássica brasileira, com repercussões
em outras áreas. Cabe enfatizar
que a programação de concertos ao longo desses 12 anos foi
excepcionalmente interessante, com raros exemplos análogos, mesmo entre as maiores
orquestras do mundo. Abriu espaço ainda para o reconhecimento da música brasileira, lá
fora não mais do que aqui.
A temporada 2009 já está fechada e não deve sofrer mudanças, sob o comando de Tortelier. A do próximo ano, imagina-se, também. Crucial agora
será encontrar um diretor artístico capaz não só de fazer a
orquestra crescer musicalmente, como ela pede, mas de sustentar à altura seu projeto cultural. Esse terá sido maior legado da Era Neschling. Direta ou
indiretamente, em maior ou
menor escala, todos nós somos
hoje o resultado; tomara que
não o seu fim.
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