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Francês é substituto temporário na Osesp
Yan Pascal Tortelier regerá a orquestra até o segundo semestre de 2010, quando um novo maestro será escolhido
Tortelier já foi titular da Filarmônica da BBC e esteve à frente da Osesp em 2008; ele substitui John Neschling, demitido anteontem
JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
John Neschling será substituído na Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado) pelo maestro
francês Yan Pascal Tortelier,
61. A contratação será anunciada o mais tardar em dez dias.
Ele regerá a orquestra até o
segundo semestre de 2010,
quando um novo regente, a ser
escolhido por uma comissão, se
tornará o titular definitivo.
O maestro francês esteve à
frente da Osesp por duas semanas, em maio do ano passado,
em programas de música francesa que deixaram os músicos e
o público bem impressionados.
Ele substituiu de última hora o
também francês Michel Plasson, inicialmente contratado
para aqueles concertos.
Filho do violoncelista Paul
Tortelier (1914-1990), Yan Pascal Tortelier já foi titular da Filarmônica da BBC, de Manchester, e da Sinfônica de Pittsburgh. A Folha não conseguiu
localizar o maestro, que mora
em Londres, e seu empresário
estava viajando.
Ao assumir a Osesp, ele terá
problemas de agenda. No final
de abril deveria reger a Sinfônica de San Francisco, na mesma
semana em que Neschling dirigiria em São Paulo uma versão
de concerto de "Falstaff", ópera de Giuseppe Verdi. Tortelier
tem ainda concertos agendados em Pittsburgh (EUA) e
Melbourne (Austrália).
Neschling foi demitido anteontem, por e-mail, por Fernando Henrique Cardoso, presidente do conselho da fundação que é responsável pela administração da orquestra. Procurado pela Folha, FHC disse,
por sua assessoria, que não dará nenhuma declaração adicional sobre a demissão. O maestro se desgastou por atritos
com o governador José Serra,
com o secretário estadual da
Cultura, João Sayad, e com
músicos, que o julgavam arrogante e se queixavam de seu
autoritarismo.
Também entrou em choque
com os integrantes do conselho
da orquestra, que acusou em
dezembro de "irresponsáveis"
no processo de escolha de seu
sucessor. Seu contrato expiraria em outubro de 2010. A informação sobre a demissão o
pegou de surpresa. Sayad não
quis comentar a maneira como
se deu a demissão: "Cabe à
Fundação Osesp se pronunciar", disse.
A Folha apurou que pouco
depois das 16h de anteontem
FHC enviou ao maestro, que
está na Suíça, e-mail que o alertava para a importância de um
comunicado que lhe seria enviado em seguida. Sem mais informações, Neschling mobilizou amigos e só por volta das
19h30 soube do que se tratava.
Às 20h10 os músicos recebiam e-mail com a notícia da
demissão, e pouco depois o site
da orquestra exibia carta assinada por FHC que reprimia o
maestro pela "gravidade" de
suas críticas ao conselho e deixava "poucas dúvidas" quanto a
sua suposta intenção de manter uma relação de conflito.
Ontem pela manhã a Folha
teve rápida conversa telefônica
com ele. "Eu não quero falar
sobre nada", afirmou, da Suíça,
depois de se dizer "chocado".
A escolha de Tortelier, embora mantida em sigilo, já estava feita. Não está claro se ele
cumprirá os compromissos assumidos por Neschling. A orquestra tem turnê pelos EUA
no segundo semestre. A temporada de 2009 começa em 5
de março com o oratório "Paulus", de Felix Mendelssohn-Bartholdy. Antes disso, em 12/
2, os músicos se fechariam por
duas semanas para gravações.
Entre as peças do CD estão as
"Séries Brasileiras", de Alberto
Nepomuceno (1864-1920).
Em junho último o conselho
anunciou que o contrato de
Neschling não seria renovado,
contrariamente aos planos dele de permanecer até 2012.
Repercussão
Segundo um de seus amigos,
a fundação acreditou que Neschling estava disposto a reverter
a situação por meio da mobilização do público da Sala São
Paulo. Manifesto na internet
pela permanência tinha ontem
1.184 assinaturas; comunidades
do Orkut pediam o mesmo. Em
de 13 de dezembro, o público o
aplaudiu ao final do concerto
aos gritos de "fica, fica".
Nelson Freire e Antonio Meneses, os dois músicos eruditos
brasileiros de maior projeção
internacional, lamentam a demissão. "Ele transformou a
Osesp numa orquestra de primeiro mundo", diz Freire. "Espero que essa história seja repensada e que ele volte."
Meneses diz estar "realmente chocado": "Neschling é possivelmente o músico que fez a
maior diferença na música brasileira dessas últimas décadas e
merecia ao menos uma despedida digna de suas realizações".
Colaborou IRINEU FRANCO PERPETUO
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