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"Post-Coitum" retoma tradição amorosa francesa
INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema
Passemos pelo título, que pode
ser enganosamente atraente e também enganosamente rebarbativo.
O que Brigitte Roüan propõe em
"Post-Coitum - Animal Triste" é a
saga de Diane (a própria Roüan),
charmosa quarentona, editora,
bem posta no casamento, que, em
dado momento, se descobre atraída por um jovem que quase poderia ser seu filho, Emilio (Boris Terral).
Não há nada de novo, em princípio. Estamos no terreno das complicações sentimentais, provavelmente a maior tradição do cinema
francês (e, ainda hoje, o melhor
antídoto à proclamada chatice de
boa parte dos filmes que nos chegam de lá).
Por isso mesmo, o filme de Brigitte Roüan nos oferece algumas
coisas um tanto inesperadas e saudáveis.
A primeira delas é a completa ausência de problema moral ou psicológico em Diane. Essa leitora
persistente está aberta ao desejo, e
isso é o que conta.
Seu marido, o advogado Philippe
(interpretado por Patrick Chesnais), também não vê as coisas à
latina: ele nota a paixão da mulher
e sofre por ela existir, mas sua dor
não parece ser motivada pelo
egoísmo, e sim pelo sentimento de
perda.
O filme pode ser dividido em
duas partes. O surgimento e o crescimento da paixão de Diane, primeiro, que coincide com o trabalho de maturação do livro de um
jovem escritor, François (Nils Tavernier).
Depois, o fim da paixão e a horrível depressão em que ela mergulha.
É na primeira parte que se encontra o melhor: a sedução, a beleza de Diane, seu trabalho apaixonado.
Não obstante, já vemos ali tudo o
que depois contribuirá para o enfraquecimento do longa-metragem: a desnecessária narrativa em
flash-back, a música horrível, a
história paralela do crime passional de que o marido se encarrega
como advogado.
Assim, não é de espantar que a
parte mais agradável -e superficial- da história não consiga preparar a parte mais árdua, que é a
fossa interminável da mulher, depois do abandono por seu jovem
amante.
Aí falta imaginação para mostrar
outra coisa além de uma mulher
que fuma e bebe sem parar e não
fala com ninguém. E "Post-Coitum" dá uma murchada solene.
Para terminar: qualquer espectador advertido terá notado que o cinema francês, com raras exceções
(os filmes de Rohmer, sobretudo),
não filma mais Paris.
Quando filma, o faz timidamente, como aqui. É como se os franceses não fossem capaz de reconhecer a beleza e a atração desses lugares. Precisa vir um polonês, tipo
Kieslowski, para fazê-lo.
É verdade que "Post-Coitum -
Animal Triste" tenta evitar a chatice que muitas vezes com razão (e
outras sem) se atribui ao cinema
francês. Se tivesse cuidado um
pouco mais de seus exteriores, o
filme andaria melhor.
Filme: Post-Coitum - Animal Triste
Produção: França, 1997
Direção: Brigitte Roüan
Com: Brigitte Roüan, Patrick Chesnais,
Boris Terral
Quando: a partir de hoje, no Espaço
Unibanco de Cinema - sala 4
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