São Paulo, sexta, 23 de janeiro de 1998.



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"Post-Coitum" retoma tradição amorosa francesa

INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema

Passemos pelo título, que pode ser enganosamente atraente e também enganosamente rebarbativo.
O que Brigitte Roüan propõe em "Post-Coitum - Animal Triste" é a saga de Diane (a própria Roüan), charmosa quarentona, editora, bem posta no casamento, que, em dado momento, se descobre atraída por um jovem que quase poderia ser seu filho, Emilio (Boris Terral).
Não há nada de novo, em princípio. Estamos no terreno das complicações sentimentais, provavelmente a maior tradição do cinema francês (e, ainda hoje, o melhor antídoto à proclamada chatice de boa parte dos filmes que nos chegam de lá).
Por isso mesmo, o filme de Brigitte Roüan nos oferece algumas coisas um tanto inesperadas e saudáveis.
A primeira delas é a completa ausência de problema moral ou psicológico em Diane. Essa leitora persistente está aberta ao desejo, e isso é o que conta.
Seu marido, o advogado Philippe (interpretado por Patrick Chesnais), também não vê as coisas à latina: ele nota a paixão da mulher e sofre por ela existir, mas sua dor não parece ser motivada pelo egoísmo, e sim pelo sentimento de perda.
O filme pode ser dividido em duas partes. O surgimento e o crescimento da paixão de Diane, primeiro, que coincide com o trabalho de maturação do livro de um jovem escritor, François (Nils Tavernier).
Depois, o fim da paixão e a horrível depressão em que ela mergulha.
É na primeira parte que se encontra o melhor: a sedução, a beleza de Diane, seu trabalho apaixonado.
Não obstante, já vemos ali tudo o que depois contribuirá para o enfraquecimento do longa-metragem: a desnecessária narrativa em flash-back, a música horrível, a história paralela do crime passional de que o marido se encarrega como advogado.
Assim, não é de espantar que a parte mais agradável -e superficial- da história não consiga preparar a parte mais árdua, que é a fossa interminável da mulher, depois do abandono por seu jovem amante.
Aí falta imaginação para mostrar outra coisa além de uma mulher que fuma e bebe sem parar e não fala com ninguém. E "Post-Coitum" dá uma murchada solene.
Para terminar: qualquer espectador advertido terá notado que o cinema francês, com raras exceções (os filmes de Rohmer, sobretudo), não filma mais Paris.
Quando filma, o faz timidamente, como aqui. É como se os franceses não fossem capaz de reconhecer a beleza e a atração desses lugares. Precisa vir um polonês, tipo Kieslowski, para fazê-lo.
É verdade que "Post-Coitum - Animal Triste" tenta evitar a chatice que muitas vezes com razão (e outras sem) se atribui ao cinema francês. Se tivesse cuidado um pouco mais de seus exteriores, o filme andaria melhor.

Filme: Post-Coitum - Animal Triste Produção: França, 1997 Direção: Brigitte Roüan Com: Brigitte Roüan, Patrick Chesnais, Boris Terral Quando: a partir de hoje, no Espaço Unibanco de Cinema - sala 4


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