São Paulo, sexta, 23 de janeiro de 1998.



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Longa divide homossexuais nos Estados Unidos

do "USA Today"

"Será que Ele É?" é uma das primeiras grandes produções de Hollywood com protagonistas masculinos juntos em uma trama romântica, rematada por um beijo.
Nos anos 50, quando Hollywood começou a falar sobre homossexualismo, os homossexuais eram almas torturadas, como as de "De Repente, no Último Verão" (59). Nesta década, eles são drag queens ou pacientes de Aids, como em "A Gaiola das Loucas" (96) e "Filadélfia" (93).
O filme, produzido pela Paramount, tenta atrair grandes platéias homossexuais sem desinteressar outros espectadores, que podem desistir de assistir o filme ao saber que se trata de um romance entre dois homens.
"Esse não é um filme gay", afirma o vice-diretor da Paramount, Rob Friedman. "É apenas uma comédia. E esse é o único rótulo necessário ao filme."
Apesar do esforço da produtora, o beijo de Kline em um homem se tornou o foco das atenções.
"Nas entrevistas que dou, é assustador como 90% das pessoas me fazem perguntas do tipo: 'Você teve que pedir autorização de sua mulher para fazer a cena? Quantas vezes ela foi feita?'. É algo insano", afirma o ator.
E o fato de eles serem homens normais -que não estão vestidos como drag queens e não são vítimas de nenhuma doença- tem suscitado a atenção da comunidade homossexual.
Além disso, o filme tem exibições beneficentes programadas para a National Gay and Lesbian Task Force, em Los Angeles, e para o instituto Hetrick Martin, em Manhattan, que orienta homossexuais e bissexuais.
Mas a comunidade gay está dividida. Algumas cenas de "Será que Ele É?", como a que se passa na escola em que Kline leciona -em que estudantes comentam procedimentos das práticas homossexuais-, têm provocado uma reação negativa dos espectadores.
"Odiei o filme, cheio de estereótipos. E a cena dos estudantes atingiu o mais baixo denominador comum do humor", disse Christian Hirko, artista de Los Angeles.
Kline diz ter tentado eliminar a cena do longa. "Não é engraçada."
Mas o roteirista de "Será que Ele É?", Paul Rudnick, que é homossexual, defende a cena. "Adolescentes conversam sobre isso e especulam sobre o tema. Quis passar a sensação de que há muita ignorância no mundo, e que isso pode ser engraçado e também pode ser mudado", disse. "Ninguém tinha a intenção de fazer uma obra política ou liberal. Quisemos fazer uma boa comédia, o que é bem mais difícil do que tudo isso."



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