São Paulo, sábado, 23 de janeiro de 1999

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Redford saúda Altman em Sundance

AMIR LABAKI
enviado especial a Park City

O ator e cineasta Robert Redford, presidente do Sundance Institute, fez questão de abrir oficialmente, na noite de anteontem, o Sundance Film Festival. Nem sempre o faz. Havia, desta vez, um motivo nobre: celebrar Robert Altman.
"Este festival é uma homenagem anual aos cineastas independentes, sua coragem, suas histórias, sua visão, paixão e empenho", começou Redford, portando óculos de grau e trajando um sobretudo preto sobre a camisa escura de gola alta e calça de veludo. "Nessa definição de cinema independente, não há melhor exemplo do que Robert Altman."
Não foi a primeira vez que o festival louvou o legado do diretor de "Nashville". Em 1991, Altman mereceu uma rara retrospectiva dentro do evento. Agora, coube ao Sundance o privilégio do lançamento mundial de seu novo filme, "Cookie's Fortune".
O título é propositalmente ambíguo. Pode tanto ser entendido, e traduzido, como "A Sorte de Cookie" ou "A Fortuna de Cookie". Cookie é o apelido da alquebrada viúva Jewel Mae (Patrícia Neal), que não suporta as saudades de Buck, morto recentemente.
Para suportar o tédio cotidiano da minúscula Holly Springs, no Mississippi, Cookie conta apenas com a amizade do faz-tudo Willis (Charles Hulton), um daqueles sábios bebedores de bourbon insuperáveis com a vara de pescar.
Da família de Cookie restam apenas duas neuróticas sobrinhas, Camille (Glenn Close) e Cora (Julianne Moore), além de uma rebelde sobrinha-neta, Emma (Liv Tyler).
Aos poucos, "Cookie's Fortune" vai se revelando uma comédia policial. Cookie opta por se reunir a Buck, Camille tenta disfarçar seu suicídio, e o pobre Willis quase paga o pato.
Altman goza o que pode a política do vilarejo. O ex-Robin Chris O'Donnell está constrangedor como um jovem guarda atrapalhado que namora Emma.
Ned Beatty o compensa, exibindo a competência de sempre como um policial zeloso, mas cético.
"Cookie's Fortune" embala quando se apóia no charme do tinhoso Willis. Tudo, porém, descamba quando voltam à cena as irmãs Orcutt.
A autoritária Camille, uma solteirona que mata o tempo dirigindo teatro na paróquia local, vira um antipático personagem de cartum na composição caricata de Glenn Close. Não muito diferente é a sorte da submissa Cora, vivida por Julianne Moore.
A década de 90, iniciada tão extraordinariamente por Altman com "O Jogador" e "Short Cuts", encerra-se assim, com sua terceira obra menor consecutiva, depois de "Kansas City" e "The Gingerbread Man".
"Cookie's Fortune" apresenta, sim, uma leveza rara em sua filmografia. Funcionou como uma abertura alegre e despretensiosa. Mas de Robert Altman sempre se espera mais.
˛


O crítico Amir Labaki está em Park City como membro do júri latino-americano.



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