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Redford saúda Altman em Sundance
AMIR LABAKI
enviado especial a Park City
O ator e cineasta Robert Redford,
presidente do Sundance Institute,
fez questão de abrir oficialmente,
na noite de anteontem, o Sundance Film Festival. Nem sempre o faz.
Havia, desta vez, um motivo nobre: celebrar Robert Altman.
"Este festival é uma homenagem
anual aos cineastas independentes, sua coragem, suas histórias,
sua visão, paixão e empenho", começou Redford, portando óculos
de grau e trajando um sobretudo
preto sobre a camisa escura de gola
alta e calça de veludo. "Nessa definição de cinema independente,
não há melhor exemplo do que Robert Altman."
Não foi a primeira vez que o festival louvou o legado do diretor de
"Nashville". Em 1991, Altman mereceu uma rara retrospectiva dentro do evento. Agora, coube ao
Sundance o privilégio do lançamento mundial de seu novo filme,
"Cookie's Fortune".
O título é propositalmente ambíguo. Pode tanto ser entendido, e
traduzido, como "A Sorte de Cookie" ou "A Fortuna de Cookie".
Cookie é o apelido da alquebrada
viúva Jewel Mae (Patrícia Neal),
que não suporta as saudades de
Buck, morto recentemente.
Para suportar o tédio cotidiano
da minúscula Holly Springs, no
Mississippi, Cookie conta apenas
com a amizade do faz-tudo Willis
(Charles Hulton), um daqueles sábios bebedores de bourbon insuperáveis com a vara de pescar.
Da família de Cookie restam apenas duas neuróticas sobrinhas, Camille (Glenn Close) e Cora (Julianne Moore), além de uma rebelde
sobrinha-neta, Emma (Liv Tyler).
Aos poucos, "Cookie's Fortune"
vai se revelando uma comédia policial. Cookie opta por se reunir a
Buck, Camille tenta disfarçar seu
suicídio, e o pobre Willis quase paga o pato.
Altman goza o que pode a política do vilarejo. O ex-Robin Chris
O'Donnell está constrangedor como um jovem guarda atrapalhado
que namora Emma.
Ned Beatty o compensa, exibindo a competência de sempre como
um policial zeloso, mas cético.
"Cookie's Fortune" embala
quando se apóia no charme do tinhoso Willis. Tudo, porém, descamba quando voltam à cena as irmãs Orcutt.
A autoritária Camille, uma solteirona que mata o tempo dirigindo teatro na paróquia local, vira
um antipático personagem de cartum na composição caricata de
Glenn Close. Não muito diferente é
a sorte da submissa Cora, vivida
por Julianne Moore.
A década de 90, iniciada tão extraordinariamente por Altman
com "O Jogador" e "Short Cuts",
encerra-se assim, com sua terceira
obra menor consecutiva, depois de
"Kansas City" e "The Gingerbread
Man".
"Cookie's Fortune" apresenta,
sim, uma leveza rara em sua filmografia. Funcionou como uma abertura alegre e despretensiosa. Mas
de Robert Altman sempre se espera mais.
˛
O crítico
Amir Labaki está em Park City como
membro do júri latino-americano.
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