São Paulo, sábado, 23 de janeiro de 1999

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MORUMBIFASHION BRASIL
Na moda de inverno tudo se transforma

Otavio Dias de Oliveira/Folha Imagem
Looks do desfile de inspiração circense de Sommer


ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha

Renovação, mudança e transformação foram alguns conceitos em andamento, na noite de anteontem no MorumbiFashion Brasil, na Fundação Bienal (parque Ibirapuera). O evento terminou ontem, depois de mostrar 19 coleções para o outono-inverno.
Para sua marca, a G, Glória Coelho desdobrou inspirações (Bosch, quimonos) em peças de qualidade e bom gosto, num desfile que valorizou a roupa acima de tudo.
Num retângulo branco, as modelos entravam, uma a uma, virando de um lado e de outro, para que materiais e acabamento pudessem ser conferidos.
Alguns looks ganham o caráter "dois em um", que dá o tom desta temporada, em saias que viram vestidos; mangas que viram bolsos; casacos dupla face; macacão/ vestido, que se desmembra e vira saia e camiseta; alças de vestidos que se transformam em bolsas. O zíper é a estrela, e as mudanças são feitas por duas assistentes que entram na passarela/palquinho, numa estrutura que lembra os últimos desfiles de Yohji Yamamoto e Issey Miyake, em Paris. Mas, claro, o processo é curioso de observar e, para o público, funciona.
Com o decorrer do desfile, entretanto, a estrutura se torna previsível e algo cansativa, com tantos looks. A roupa é sempre boa, seja nos quimonos estilizados do início ou nas calças que toda mulher precisa, de caimento perfeito, retas e com boca mais larga. Vale prestar atenção ao básico com malhas de gola alta e regatas pretas.
Quase toda em preto e branco, o inverno da G não tem erro, mixado com marrom, azul-marinho e cru. A noite traz ricas rendas em branco, lã felpuda e bordados em flores, formando estolas.
A Zoomp anuncia um inverno em que busca "desconstruir para reconstruir". O mote é pegar peças básicas, "clássicos", renovados por meio de pences, cortes e costuras. Na bela passarela de acrílico vermelho estão jaquetas perfecto, calças de couro; jeans em variações modernas; as camisetas; jaquetas brancas, em clima de hype invisível; você sabe que "está lá".
Itens como o macacão trompe-l'oeil dão continuidade à coleção de verão e tudo ganha perfume anos 80 (look new wave; a trilha sonora), trazendo de volta as origens da Zoomp. Venda garantida.
Laranja e vermelho vêm como opção ao preto, mas é o paetê o grande diferencial fashion da coleção, em jaquetas, vestidos, t-shirts e na parte de trás das deliciosas calças masculinas. O mesmo paetê é elemento importado de outras eras de Alexandre Herchcovitch, que assina o feminino.
A Cia. de Linho de Sonia Maalouli ainda é modinha e tendência, desta vez trabalhado pelas mãos de Henri Alavez e da stylist Chiara Gadaletta, que salvaram looks como camisa branca e microssaia. Os sapatos de salto foram caso à parte, com fôrma problemática causando momentos de tensão nas modelos e no público. De resto, destacam-se de um lado uma estampa listrada, em saias e vestidos, e, do outro, o pior xale do evento.
A cereja da noite foi a coleção de Marcelo Sommer, agora sim avançando dentro da linguagem do streetwear. O estilista se renova com um registro de circo; cachorros dálmata e inverno branco. Clowns urbanos e bailarinas clubber desfilam sobre uma passarela de pelúcia vermelha, entre adolescentes com malhas de lã tipo Campos do Jordão com debochadas estampas de bonecos de neve e skatistas (como nas ruas de Londres) com calças-kilt xadrez. A calça oversized de veludo tipo dálmata, verde e vermelha, é um "precisa-ter" oficial, como a camisaria masculina de estampas de flores.



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