São Paulo, sábado, 23 de janeiro de 1999

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ARTES PLÁSTICAS
Mostra em Londres traz o Monet do século 20


Exposição que abre hoje na Royal Academy of Arts traz 79 obras do impressionista que, segundo curadora, "se reinventou até o fim'


ISABEL CLEMENTE
de Londres

Suas pinturas estão entre as imagens mais reproduzidas do mundo. Suas exposições batem recorde de público onde quer que sejam montadas.
Que o mestre do impressionismo Claude Monet (1840-1926) é um fenômeno de popularidade, poucos contestam, mas que uma mostra sobre o seu trabalho ainda consegue ter originalidade, só os que já viram sua última exposição, em Boston, nos EUA, podem dizer.
Depois da bem-sucedida temporada americana, em que foi vista por quase 600 mil pessoas, a mostra "Monet no Século 20" abre hoje, na Royal Academy of Arts, em Londres, com 79 pinturas produzidas entre 1900 e a morte do pintor.
O foco nesses 26 anos da carreira de Monet trouxe à tona o lado de um pintor "obcecado pela idéia de pintar e que se reinventou até o fim de sua vida", diz MaryAnne Stevens, curadora da Royal Academy of Arts, que, junto com outros três especialistas, montou a exposição.
Estão lá as famosas séries das ninféias e da ponte japonesa do jardim de Giverny, sua residência na França, o Parlamento britânico e a Veneza reproduzida por memória anos após a viagem que Monet tanto resistiu em fazer.
Pode-se dizer que a famosa série de 37 pinturas da cidade italiana nasceu da insistência de Alice Hoschedé, segunda mulher de Monet.
Monet, preso à fascinação de reproduzir, sob as diferentes luzes do dia, seu jardim em Giverny, opôs-se à idéia de passar férias em Veneza até o dia da viagem, conta Paul Hayes Tucker, um especialista da Universidade de Massachusetts, também curador da mostra.
A paixão por Veneza foi imediata. Era 1908 e por lá o casal Monet ficou por dez semanas.
Em uma carta enviada à sua filha, Alice registrou: "Monet está aproveitando muito. E não é maravilhoso ele não estar pintando aquelas ninféias?".
As pinturas voltaram inacabadas para a França. Permaneceram esboços por três anos. Com a morte de Alice, em 1911, Monet ficou sem pintar por seis meses. O trabalho foi finalizado com lembranças.
Também estão em exibição pinturas e esboços encontrados no ateliê de Monet, em Giverny, e que só vieram ao conhecimento público décadas após a morte do artista.
Monet produziu cerca de 450 pinturas neste século, de um legado total estimado em 6.000 obras.
Londres foi outra fonte de inspiração para Monet. Do ateliê instalado no sexto andar do hotel Savoy, com vista para o rio Tâmisa, saíram 97 pinturas.
Uma novidade da exposição é a reunião inédita de quatro dos grandes painéis criados por Monet para o projeto "Grand Décorations", presente para o governo francês pelo dia do armistício.
Assim chegava o pintor, quase cego pela catarata e marcado por tragédias pessoais -perdeu duas mulheres e um filho- ao que é considerado o ápice e o resumo de sua carreira.
Afinal, o que faz Monet ser tão popular? "Ele é muito acessível. Suas obras não demandam um extenso conhecimento para serem entendidas. Os temas são apresentados de uma maneira imediata e profunda", diz MaryAnne Stevens.
Essa exposição é a continuação de uma história que começou a ser contada em 90, com a exposição "Monet in the 1890's" -a última década do século 19-, realizada em Londres, Boston e Chicago.
E como toda "mostra Monet" supera algum recorde, a de Londres já entra para a história britânica como a que mais vendeu ingressos por antecipação. Foram mais de 132 mil ingressos vendidos.
Se a demanda do público crescer ainda mais, a Royal Academy of Arts poderá deixar a exposição aberta 24 horas por dia no último fim-de-semana.
Depois dessa exposição, restará algum aspecto inexplorado da carreira de Monet?
"A década de 80, do século 19, ainda não recebeu uma mostra específica que resuma a importância histórica desse atribulado período da vida de Monet", diz MaryAnne Stevens.



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