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Em protesto, artista esvazia galeria
Na ressaca da Arco, feira que acabou nesta semana em Madri, Iran do Espírito Santo faz exposição sem objetos em SP
Em vez de apresentar telas ou esculturas, artista cobriu as paredes da galeria com um degradê cinza, 52 tons que vão do preto ao branco
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto as galerias ainda
calculam o lucro das vendas na
Arco, feira de arte que acaba de
terminar em Madri, o artista
Iran do Espírito Santo abre hoje, na Fortes Vilaça, uma exposição vazia, crítica ao mercado.
A exemplo da próxima Bienal
de São Paulo, que deixará um
andar vago, Espírito Santo esvaziou os dois andares da galeria e cobriu suas paredes com
um degradê cinza: são 52 tons
que vão do branco ao preto em
faixas da mesma largura.
"Ocupar a galeria com esse
vácuo é minha maneira de refletir sobre a produção de objetos para um mercado voraz. É
como se tivesse embargado o
espaço", diz o artista.
Da mesma forma, Espírito
Santo cobriu de cinza as paredes internas de um museu pela
primeira vez em 1997, quando
imitou do lado de dentro os tijolos da fachada da instituição
em San Francisco. Um projeto
parecido seria repetido anos
depois no MAM-SP, na Bienal
de Veneza e, por último, na
mostra individual que fez na
Estação Pinacoteca em 2007.
"O cinza é uma constante em
meu trabalho. Acho interessante porque reduz tudo à luz, entre claro e escuro", afirma, lembrando também a alusão que
faz à fotografia em preto-e-branco. Na adolescência, Espírito Santo trabalhou em laboratórios fotográficos e nunca esqueceu as gradações de luz dos
testes de revelação.
Mas dessa vez o artista diz interpretar o espaço da galeria
sem referências figurativas.
Enquanto o andar de baixo
apresenta as faixas na vertical,
o espaço no andar de cima recebeu faixas de tinta na horizontal, embaralhando os sentidos.
Espírito Santo dobrou o número de tons em relação à última mostra que fez, misturando, com a ajuda de assistentes
no ateliê, tintas de parede branca e preta para chegar às 52 faixas que cobrem a galeria.
"O seqüenciamento do cinza
traz uma escala para o espaço,
permite modular a galeria com
uma luz ilusória", afirma. O resultado é uma experiência "seca, iconoclasta e serena".
Aval do mercado
Ao contrário do que aconteceu na Arco, colecionadores
não poderão mandar embrulhar as obras para levar para casa e instituições que gostarem
do trabalho terão de fazer um
convite para que Espírito Santo
faça um novo site-specific.
"O mercado dominou tudo. O
que dava um aval para a arte antes eram as instituições. Hoje
as galerias determinam o que
vai para os museus. É algo promíscuo", opina Espírito Santo.
Quanto à data de abertura,
uma semana depois da Arco e
meses antes do início do que foi
alardeado como a Bienal do vazio, ele diz que foi apenas coincidência -a propósito, sete
obras suas foram vendidas na
Arco, a mais cara delas por US$
60 mil, arrematada para uma
coleção particular.
IRAN DO ESPÍRITO SANTO
Quando: abertura hoje, às 14h; de
ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das
10h às 17h; até 20/3
Onde: galeria Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, São Paulo;
tel. 0/xx/11/3202-7066)
Quanto: entrada franca
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