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Coreógrafo apresenta em setembro no país "Paradis", em que mistura danças de rua e hip hop ao balé clássico
José Montalvo mostra França mestiça no Brasil
ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha, em Paris
A França mestiça, com múltiplas
raças compondo sua cultura, está
presente nos espetáculos de José
Montalvo, que introduziu as danças de rua -principalmente o hip
hop- na dança contemporânea,
para conquistar uma popularidade
que não se via desde os bons tempos de Maurice Béjart.
Nova sensação da dança francesa, Montalvo e seu grupo prometem repetir no Brasil, a partir de 15
de setembro, em datas a serem
confirmadas, o sucesso estrondoso
que vêm saboreando na Europa,
América do Norte e Ásia. Com
apoio do Ministério das Relações
Exteriores da França, a turnê brasileira é uma iniciativa de Agnés
Nordmann, adida cultural do consulado francês em São Paulo.
Além de eliminar o marasmo que
vinha tomando conta da dança
francesa nos últimos anos, as criações de Montalvo têm o poder de
apaziguar a França com suas diferenças raciais. Ao levar para o palco uma mistura heterodoxa, ele faz
o balé clássico conviver com a dança africana e as manifestações populares surgidas nas periferias das
cidades.
"Paradis", o espetáculo que será
apresentado em São Paulo, Rio e
Curitiba, tornou-se o carro chefe
da companhia de Montalvo desde
a estréia, em 1997.
Sucesso de crítica, "Paradis" elevou da noite para o dia a cotação
do grupo de Montalvo, fundado
em 1985 em parceria com a bailarina e coreógrafa Dominique Hervieu.
Depois de lotar teatros, seja nas
Filipinas, Japão, Noruega ou Estados Unidos, "Paradis" permitiu a
Montalvo ganhar a direção, no ano
passado, do Centro Coreográfico
de Créteil, em Paris, antes ocupado
pela respeitadíssima Maguy Marin.
Em Créteil, bairro cuja população inclui imigrantes de diferentes
etnias, Montalvo encontra ambiente ideal para promover seus
"laboratórios" de convivência.
Além da produção artística, ele
costuma fazer da dança um instrumento de integração social.
Nascido em Valença, Espanha,
Montalvo migrou para a França
quando ainda era criança, por causa dos problemas políticos que seu
pai enfrentou no país natal.
Com a mãe, dançarina de flamenco, Montalvo aprendeu a ver a
dança como uma expressão cotidiana de alegria e prazer. Depois
de formar-se em arquitetura em
Toulouse, ele foi estudar artes
plásticas em Paris, onde o universo
das colagens dadaístas começou a
determinar suas preferências estéticas.
Ele já havia criado alguns espetáculos quando interrompeu sua
produção para desenvolver um
trabalho junto aos pacientes de um
hospital psiquiátrico de Paris, durante quatro anos.
"Tal experiência me fez crescer
como ser humano. Não promovi
dançaterapia, apenas colaborei
com a equipe médica, procurando
fazer com que cada paciente resgatasse a confiança em sua corporalidade", diz Montalvo.
Disposto a mostrar que a dança é
uma expressão acessível, capaz de
resgatar o sentimento de festa coletiva, Montalvo já comandou,
num evento em Paris, 7.000 pessoas, reunidas pelo simples prazer
de dançar. Segundo Agnés Nordmann, evento semelhante poderá
se repetir no Sesc, durante a temporada de Montalvo em São Paulo.
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