São Paulo, Terça-feira, 23 de Fevereiro de 1999
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Coreógrafo apresenta em setembro no país "Paradis", em que mistura danças de rua e hip hop ao balé clássico
José Montalvo mostra França mestiça no Brasil

ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha, em Paris

A França mestiça, com múltiplas raças compondo sua cultura, está presente nos espetáculos de José Montalvo, que introduziu as danças de rua -principalmente o hip hop- na dança contemporânea, para conquistar uma popularidade que não se via desde os bons tempos de Maurice Béjart.
Nova sensação da dança francesa, Montalvo e seu grupo prometem repetir no Brasil, a partir de 15 de setembro, em datas a serem confirmadas, o sucesso estrondoso que vêm saboreando na Europa, América do Norte e Ásia. Com apoio do Ministério das Relações Exteriores da França, a turnê brasileira é uma iniciativa de Agnés Nordmann, adida cultural do consulado francês em São Paulo.
Além de eliminar o marasmo que vinha tomando conta da dança francesa nos últimos anos, as criações de Montalvo têm o poder de apaziguar a França com suas diferenças raciais. Ao levar para o palco uma mistura heterodoxa, ele faz o balé clássico conviver com a dança africana e as manifestações populares surgidas nas periferias das cidades.
"Paradis", o espetáculo que será apresentado em São Paulo, Rio e Curitiba, tornou-se o carro chefe da companhia de Montalvo desde a estréia, em 1997.
Sucesso de crítica, "Paradis" elevou da noite para o dia a cotação do grupo de Montalvo, fundado em 1985 em parceria com a bailarina e coreógrafa Dominique Hervieu.
Depois de lotar teatros, seja nas Filipinas, Japão, Noruega ou Estados Unidos, "Paradis" permitiu a Montalvo ganhar a direção, no ano passado, do Centro Coreográfico de Créteil, em Paris, antes ocupado pela respeitadíssima Maguy Marin.
Em Créteil, bairro cuja população inclui imigrantes de diferentes etnias, Montalvo encontra ambiente ideal para promover seus "laboratórios" de convivência. Além da produção artística, ele costuma fazer da dança um instrumento de integração social.
Nascido em Valença, Espanha, Montalvo migrou para a França quando ainda era criança, por causa dos problemas políticos que seu pai enfrentou no país natal.
Com a mãe, dançarina de flamenco, Montalvo aprendeu a ver a dança como uma expressão cotidiana de alegria e prazer. Depois de formar-se em arquitetura em Toulouse, ele foi estudar artes plásticas em Paris, onde o universo das colagens dadaístas começou a determinar suas preferências estéticas.
Ele já havia criado alguns espetáculos quando interrompeu sua produção para desenvolver um trabalho junto aos pacientes de um hospital psiquiátrico de Paris, durante quatro anos.
"Tal experiência me fez crescer como ser humano. Não promovi dançaterapia, apenas colaborei com a equipe médica, procurando fazer com que cada paciente resgatasse a confiança em sua corporalidade", diz Montalvo.
Disposto a mostrar que a dança é uma expressão acessível, capaz de resgatar o sentimento de festa coletiva, Montalvo já comandou, num evento em Paris, 7.000 pessoas, reunidas pelo simples prazer de dançar. Segundo Agnés Nordmann, evento semelhante poderá se repetir no Sesc, durante a temporada de Montalvo em São Paulo.


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