São Paulo, sexta-feira, 23 de março de 2001

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Estréia "Quase Famosos", filme que sobre um adolescente que segue uma banda desconhecida para escrever um texto para a "Rolling Stone"

Era um garoto...

Divulgação
A banda fictícia Stillwater, que sai em turnê e é acompanhada pelo jornalista-mirim de "Quase Famosos", que estréia hoje


LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Cameron Crowe, o diretor do adorável "Quase Famosos" ("Almost Famous"), filme que estréia hoje nos cinemas brasileiros, era um garoto que, como vários, amava o rock e a "Rolling Stone".
Era o começo dos anos 70, e o local, a ensolarada Califórnia (pós-)hippie. E então com 15 anos, o teen Crowe, amante de bandas como Led Zeppelin e Allman Brothers, começou a escrever resenhas de músicas para um jornaleco de San Diego. Até que seus textos chegaram nas mãos do histórico editor Ben Fong-Torres, da revista "Rolling Stone".
Admirado com a escrita do moço, Torres convidou Crowe para escrever para a famosa publicação. Sem saber que se tratava de um adolescente que nem tinha terminado o colégio.
Essa é a história real da trajetória teen do hoje diretor Cameron Crowe, que com a câmera no ombro estreou em 1989 com o ótimo filme teen "Diga o Que Quiserem" ("Say Anything"), fez a versão hollywoodiana da revolução grunge com "Vida de Solteiro" ("Singles") em 1992 e depois ganhou fama e fortuna com o sucesso "Jerry Maguire" em 1996.
Essa é mais ou menos a história deste "Quase Famosos", semibiográfica, que põe Crowe na pele do jovem Patrick Fugit e bota na corrida ao Oscar de melhor atriz coadjuvante a estonteante Kate Hudson (groupie da banda fictícia Stillwater) e a excelente Frances McDormand (mãe do garoto).
"Quase Famosos", que também disputa a estatueta nas categorias roteiro original e edição, é rock'n'roll. E se o filme fosse um disco, seria "Led Zeppelin 4", algo depois dos Beatles e anterior aos Sex Pistols.
A revolução cultural já foi feita, e o filme é um "paz e amor" bem diferente do que prega nossa novela das seis. Aqui o pano de fundo é a inclusão do binômio sexo e drogas no cabeça de quem escuta Simon & Garfunkel cantarem que é preciso sair (de casa, da vida monótona) para descobrir a América.
O filme pode ser visto por algumas óticas.
Uma delas é como a de um libelo adocicado do rock (e do jornalismo musical) íntegro e honesto, uma vez que o maior crítico musical que a América já teve, Lester Bangs, que foi "fritado" na "Rolling Stone" porque só escrevia críticas negativas, aparece em "Almost Famous" para ser o guru do pequeno jornalista. "Seja honesto e impiedoso", ensinou Bangs.
Ou a de um filme cujo eixo está não no próprio William Miller, o menino, ou em qualquer membro da banda Stillwater, a qual o garoto persegue em turnê pela América para sua entrevista-passaporte para a "Rolling Stone". Mas nas mulheres: na irmã que dá os "malditos" discos de rock para Miller antes de abandonar a família em busca da tal "liberdade", na mãe que tenta preservar os bons costumes diante da "ameaça desestabilizadora" chamada rock e principalmente na doce groupie Penny Lane, que muito além de ser uma apaixonada pelo líder da banda se entrega, isso sim, à causa do rock'n'roll.
"Quase famosos", ainda, diverte na qualidade de um veículo nostálgico.
É feito na medida para quem consumiu cultura pop no início dos anos 70. Para quem David Bowie, Beach Boys, The Who e Lynyrd Skynyrd são nomes que fazem bater um sino.
E ideal também para quem atualmente se dedica ao rock e está cansado de só ouvir as histórias de "como era bom o meu tempo", narradas por amigos mais velhos ou pelos pais, ou por parentes, que antigamente tinham o cabelo bem mais comprido do que hoje.



Quase Famosos
Almost Famous

    
Direção: Cameron Crowe
Produção: EUA, 2000
Com: Billy Crudup, Jason Lee, Frances McDormand, Kate Hudson
Quando: a partir de hoje nos cines Belas Artes, Eldorado, Internacional Guarulhos, Jardim Sul, Pátio Higienópolis, West Plaza e circuito




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