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Diretor foi menino-prodígio do jornalismo musical
DE NOVA YORK
Leia a seguir entrevista que Cameron Crowe deu à Folha à época
do lançamento de "Quase Famosos" nos EUA.
O cineasta é o sujeito mais invejado pelos jornalistas no mundo
inteiro: começou a escrever para a
"Rolling Stone" aos 16 anos,
quando a revista e o rock estavam
no auge, foi desvirginado por três
tietes e hoje dirige filmes bacanas
("Singles", "Jerry Maguire") em
Hollywood.
OK, o mais invejado por este
jornalista.
(SÉRGIO DÁVILA)
Folha - O que você fez entre "Quase Famosos" e "Vanilla Sky", seu
próximo filme (com Tom Cruise e
Cameron Diaz)?
Cameron Crowe - Fui de férias
para Londres, de onde voltei com
horas e horas de imagens.
Fui ao lugar onde David Bowie
gravou o primeiro clipe vestido de
Ziggy Stardust. Hoje é uma xerox.
Você começa a olhar com cara de
curioso e o sujeito do caixa diz,
com tédio: "Sim, foi filmado aqui.
Você quer algo mais?".
Folha - Você ainda se sente como
o menino do filme?
Crowe - Exatamente.
Agora, as pessoas acreditam
que eu sei mais do que sei, o que é
muito assustador e piora muito o
trabalho.
Quando eu tinha 15 anos, todo o
mundo me explicava as coisas como se eu fosse de outro planeta,
mas foi assim que consegui minhas melhores entrevistas.
Folha - Steve Miller não quis dar
entrevista naquela época, dizendo
que você era muito novo. Hoje,
concordaria com ele?
Crowe - Boa pergunta. Emocionalmente, talvez. Profissionalmente, não.
Mas tive meu coração partido
algumas vezes. Ainda não tinha tido nenhuma namorada quando
comecei a viajar com as bandas,
então estava procurando uma garota, mas as garotas estavam procurando rockstars. Exatamente
como está no filme.
Folha - Você foi mesmo desvirginado por três groupies, a lendária
Pennie Lane entre elas?
Crowe - (envergonhado) Sim.
Pennie hoje em dia é uma mulher
madura que tem sua própria fazenda alternativa aqui perto. Mas
na época eu pensava: "Uau, este é
o tipo de garota de que eu gosto,
que me entende".
E elas queriam conversar comigo, claro, mas para saber mais sobre eles, os roqueiros, e o que elas
deveriam fazer para conquistá-los.
Folha - Fale a verdade: você se envolveu com as bandas só para conquistar as menininhas...
Crowe - Não deu nem tempo de
pensar sobre isso, porque já estava terminando o colegial quando
comecei a fazer reportagens para
a "Rolling Stone".
Era realmente o que eu mais
gostava de fazer, ouvir rock e escrever.
Folha - A "Rolling Stone" é hoje
uma sombra do que foi, não?
Crowe - Eu continuo não perdendo uma edição. Mas uma cena
de "Quase Famosos" explica o
que acho da revista hoje em dia.
Um sujeito fala: "Vamos sair na
capa da "Rolling Stone", cara! Uma
banda com um hit só nunca sairia
na capa da "RS'!". Pois é, hoje em
dia basta uma musiquinha e um
bom decote...
Folha - É verdade que ninguém
na revista sabia que você tinha 16
anos quando começou?
Crowe - É verdade, mas não foi
daquele jeito que o editor Ben-Fong Torres descobriu. Ele ligou
para minha casa um dia e minha
irmã atendeu.
Até então, eu tinha conseguido
enganá-lo falando com uma voz
bem grossa. Sempre achava que
se eu agisse como o Robert Redford e o Dustin Hoffman no filme
"Todos os Homens do Presidente", iria conseguir me safar (risos).
Sempre interrompia os telefonemas, "Espere só um minuto,
Ben", mexia em uns papéis e fingia que estava muito ocupado.
Mas, no dia em que minha irmã
atendeu, ela imediatamente me
desmascarou. Cheguei em casa e
ela veio gritando: "Acabei de contar para o Ben-Fong Torres que
você tem 16 anos". Eu quase desmaiei de desespero.
Ela ainda tentou consertar: "Ele
foi muito amigável. Acho que gostou de saber a verdade". Eles acabaram publicando essa história
toda na revista e virou meio o
meu cartão de visitas. Tornei-me
o menino-prodígio, em vez do
impostor.
Depois ele me disse que, quando descobriu, ficou com muita
raiva, porque ele mesmo, aos 16
anos, sonhava em ser um dos repórteres da "RS"...
Folha - E sua mãe era mesmo tão
presente na sua vida?
Crowe - Exatamente como no filme, pelo menos até aquele ponto.
Depois ficou mais complicado,
ela começou a ler minhas reportagens e a se aprofundar no conhecimento das bandas e, claro, ficou
cada vez mais preocupada (risos).
Mas ela ainda não parou de fazer campanha para que eu estude
direito e abandone esta vida de cineasta, sempre envolvido com
"essa gente louca"...
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