São Paulo, sexta-feira, 23 de março de 2001

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CINEMA/ESTRÉIAS

"HOMENS DE HONRA"

Cuba Gooding Jr., vencedor do Oscar de coadjuvante, defende personagem vítima de preconceito

Filme mergulha no racismo da Marinha

ESPECIAL PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

Depois de ser lançado por John Singleton em "Boyz 'N the Hood -°Os Donos de Rua", em 91, Cuba Gooding Jr. viveu o jogador de futebol norte-americano agenciado por Tom Cruise em "Jerry Maguire" e, com ele, faturou o prêmio máximo do cinema em 97.
Mas é somente agora, na pele de Carl Brashear -o primeiro negro a se tornar um mergulhador na Marinha norte-americana e o primeiro amputado (ele perdeu a perna em um acidente de trabalho em 66) a ser promovido a chefe-, que o ator interpreta seu papel mais importante. Para ele, a vida de Carl Brashear jamais poderia deixar de ser contada. "O papel me conquistou porque a intolerância racial é abordada de forma direta e a solução fica longe dos socos e pontapés."
Questionado sobre o racismo que orbita por Hollywood, Gooding Jr. disse que, da mesma forma que Brashear ignorou as agressões, atores negros devem parar de falar sobre o problema e lutar por um lugar ao sol.
"Você deve imaginar que, porque ganhei um Oscar, chovem roteiros em minha mesa, certo? Mas não é assim. Ainda são poucos os papéis dados a negros em Hollywood. Se o roteiro não especifica a cor do personagem, subentende-se que ele é branco."
Gooding Jr. discorda da forma agressiva que Spike Lee trata a questão. "Sei que ele quer apenas passar uma mensagem pertinente e importante, mas às vezes acho que exagera na forma."
Casado com uma mulher branca, Cuba Gooding Jr. não nega que seus filhos sejam alvo de brincadeiras de mau gosto por causa da cor da pele, mas que, quando a mensagem dada por filmes como "Homens de Honra" ecoar além de Hollywood, o cenário será outro. "Na hora certa, meus filhos entenderão que nada disso importa, e que o fundamental é o que somos e conquistamos."
No filme, Gooding Jr. divide a tela com Robert De Niro. "Claro que contracenar com De Niro é assustador, mas inacreditável foi sentir a mesma coisa por Cruise, ter que fazer meu personagem se impor ao dele e ainda levar um Oscar por isso."
Para viver Brashear, Gooding Jr. conversou com o personagem real, hoje um homem de 70 anos. "Ele não tem arrependimentos, mágoas ou traumas. Isso é extraordinário se levarmos em conta as humilhações pelas quais ele passou. Na pele dele, eu teria desistido no primeiro ato."
(MILLY LACOMBE)


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