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Tempo atravessa todos os textos
ESPECIAL PARA A FOLHA
Beckett escreveu "Dias Felizes",
"Jogo" e "Ir e Vir" entre 1961 e
1965. A questão do tempo, na ficção e na vida, atravessa os três textos. Nos 80 minutos de "Dias Felizes", o andamento é mais solto e
imita o tempo natural. Em "Ir e
Vir", cena circular de sete minutos e meio, os momentos arrastam-se. Em "Jogo", que apresenta
triângulo amoroso em pouco
mais de 20 minutos, o tempo se
acelera de maneira tragicômica.
As três mulheres de "Ir e Vir"
contam umas às outras segredos
que o público não chega a captar.
Sóbrias, hieráticas, lembram as
tias de "Dorotéia", peça de Nelson
Rodrigues. Os segredos, presumivelmente de caráter sexual, fazem
as figuras quebrarem o silêncio
com gritos de susto.
Em "Jogo", os atores pronunciam, em andamento rapidíssimo, frases carregadas de pequenas mesquinharias, típicas das situações de adultério. A luz incide
alternadamente sobre os personagens em ritmo oligofrênico e
preciso. As criaturas ouvem pouco umas às outras e, no limite, não
escutam a si próprias.
As três peças, encenadas com rigor geométrico e requinte visual,
tematizam os limites impostos
aos personagens. A linguagem e a
própria psicologia dos personagens mostram-se essenciais, lapidares. As figuras de Beckett parecem pueris, incapazes de dominar
ou, até, de entender o mundo à
volta. Vale lembrar que Beckett se
deixou influenciar pelo music-hall e pelas farsas do cinema mudo, espécie de comicidade a que
soube emprestar tons de tragédia.
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