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10º FESTIVAL DE TEATRO DE CURITIBA
MOSTRA OFICIAL
"Dias Felizes", "Ir e Vir" e "Jogo", do autor irlandês, integram programação do Felizes para Sempre, de Brasília
Projeto apresenta três textos de Beckett
FERNANDO MARQUES
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em "Dias Felizes", peça do irlandês Samuel Beckett, a madura
Winnie gasta as horas em tarefas
triviais, mas é como se praticasse
os atos mais transcendentes. Limitada pelas paredes de casa e
acompanhada do marido, o monossilábico Willie, a personagem
dedica-se a decifrar o que diz a legenda na escova de dentes ou tenta encontrar prazer em pentear-se. Humor e drama se condensam
em gestos prosaicos, no que se
pode chamar de metafísica do
dia-a-dia. A patética Winnie, afinal, se parece com todo mundo.
O espetáculo, com Vera Holtz e
William Ferreira, sob a direção de
Adriano e Fernando Guimarães,
integra o projeto Felizes para
Sempre, de Brasília. O projeto
reúne ainda dois outros textos de
Beckett, "Ir e Vir" e "Jogo", estes
traduzidos sob encomenda por
Barbara Heliodora.
Instalação plástica e performances também fazem parte de Felizes para Sempre, que se desdobra
em dois espetáculos a serem vistos na Mostra Oficial do 10º Festival de Teatro de Curitiba (FTC).
"Dias Felizes" estréia hoje, no Solar do Barão. No mesmo local, a
partir do dia 30, aparecem "Ir e
Vir" e "Jogo".
Adriano e Fernando Guimarães
recorreram a Heliodora, tradutora reconhecidamente competente, por entender que a enganosa
simplicidade de Beckett exige
atenção aos jogos de linguagem,
nas "falas descarnadas até o essencial", segundo explicam.
Antes de assistir a "Dias Felizes", os espectadores visitam exposição com armários nos quais
estão guardadas velhas fotos de
família ou câmeras de vídeo que
invertem os esquemas habituais
de contemplação: o público vê ao
mesmo tempo em que é visto. "As
coisas têm vida própria", dizem
os irmãos Guimarães, referindo-se às "situações alheias à vontade
dos personagens" e à incontornável passagem do tempo, temas comuns a exposição e espetáculos.
Vera Holtz conta que "o sistema
emocional complexo" proposto
por Beckett foi traduzido por diretores e atores no sentido da
"identificação imediata". Os esforços da ingênua e solitária Winnie para preencher seus dias miúdos podem corresponder a "qualquer tipo de solidão".
A intenção foi trazer Beckett das
alturas metafísicas para a vida cotidiana: trata-se da "metafísica
que está na vida", diz Holtz. As
grandes questões existenciais do
amor e da morte comprimem-se
nas esperanças singelas de Winnie: "Que dia feliz este também terá sido, mais um, apesar de tudo
até agora", contenta-se a personagem, em fala citada pela intérprete.
Os trabalhos reunidos no projeto Felizes para Sempre já foram
mostrados no Rio, no ano passado, e em Brasília, em janeiro e fevereiro deste ano (a primeira versão do projeto data de 1998).
Duas performances inéditas,
com os atores Alessandro Brandão e Míriam Virna, estão previstas para o festival em Curitiba. A
temporada realiza-se no Solar do
Barão, de meados do século 19.
Projeto: Felizes para Sempre
Concepção e direção: Adriano e
Fernando Guimarães
Quando: "Dias Felizes", dia 23, às 21h30,
dias 24 e 25, às 20h; "Ir e Vir" e "Jogo", dia
30, às 21h30, dias 31 e 1º de abril, às 20h
Onde: Solar do Barão (r. Carlos
Cavalcanti, 533)
Patrocinadores: Brasil Telecom e
Centro Cultural Banco do Brasil
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