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STEVEN SODERBERGH
Diretor acha que a partir de agora vai sempre piorar
RUI PEDRO TENDINHA
DA PLANET SYNDICATION
É o homem das duas indicações
para o Oscar de melhor diretor,
uma por "Erin Brockovich" e outra por "Traffic". Steven Soderbergh vive dias de glória. Seu discurso lembra o de um menino entusiasmado pelas boas notas. Leia
trechos de sua entrevista.
Pergunta - 2000 é o seu ano...
Steven Soderbergh - A partir de
agora vai sempre piorar... Estou
brincando, nem penso na pressão
do próximo filme. Aconteceu por
acaso e em parte porque achava
mesmo que tinha de fazer "Traffic". Fiz força para que o filme estivesse concluído agora. A questão da guerra às drogas estava no
ar, e estivemos num ano de eleições. Se tivesse esperado para filmar em abril de 2001, a janela teria
se fechado... Não podemos esquecer que os EUA tiveram dois candidatos que consumiram droga
na universidade e que se recusaram a falar dessas experiências e
de suas idéias no combate ao tráfico. Enquanto o filme estiver em
exibição, o presidente estará escolhendo o novo czar antidrogas.
Pergunta - Você diz que gostaria
que este filme irritasse muita gente no combate à droga...
Soderbergh - É verdade. Mas as
reações têm sido positivas. Mostramos ao pessoal da DEA (agência antidrogas norte-americana) e
todos gostaram. O pessoal de esquerda também gostou, achou
que era pró-liberação das drogas.
Não há uma resposta simples. Era
fácil dizer para legalizar as drogas
e depois o governo controlar a situação com impostos, como se faz
com o álcool e o tabaco, mas isso
nunca vai acontecer. É uma violação de todos os nossos tratados
internacionais. Os EUA iriam se
tornar um centro de atração para
as pessoas de todo o mundo virem comprar drogas. Por mais
que tentássemos que todos os países legalizassem as drogas, isso
nunca seria possível. A única coisa que se pode fazer é deixar de
prender viciados em droga não-violentos. Não sei porque prendemos os drogados quando não fazemos o mesmo com os alcoólicos. As pessoas têm de olhar para
essa questão como um problema
de saúde pública, não como uma
questão criminal.
Pergunta - Você já experimentou
drogas?
Soderbergh - Claro. Cheguei às
drogas com um ponto de vista diferente, pois eu já era adulto, tinha
25 anos. Já tinha noção do que estava em jogo, já tinha visto outras
pessoas jogarem suas vidas fora
devido à droga. Fui um jovem que
sempre soube o queria fazer. Não
experimentei drogas como forma
de escape. Na adolescência não é
nada aconselhável experimentar
drogas. Além disso, há certo tipo
de drogas das quais não sou capaz
de chegar perto. Experimentei
drogas leves, como maconha, cogumelos... E sempre dentro das
circunstâncias mais controladas...
Não as experimentei como pretexto de festa, foi apenas curiosidade. Estou mais interessado em
experiências que nos façam expandir de forma consciente.
Pergunta - Como conseguiu convencer Michael Douglas a fazer este filme, já que ele teve problemas
de droga na família?
Soderbergh - Só soube depois de
convidá-lo (risos). Tivemos uma
longa conversa, quando ele mencionou o assunto. Aí ele disse que
o filme era relevante, pois compreendia as emoções do personagem. Ficamos sempre com os atores certos para os papéis.
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