São Paulo, sábado, 23 de março de 2002

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"Nudez é uniforme", diz Beecroft

DA REPORTAGEM LOCAL

Ela é a artista mais badalada da Bienal e também a que provoca mais expectativa, pois será a única a fazer uma performance no evento. Será a primeira no Brasil, após 49 já realizadas. Por isso, amanhã, a italiana Vanessa Beecroft realiza "VB50", para 3.000 convidados.
Ela não participa, mas comanda um pelotão de 50 mulheres no pavilhão da Bienal. É hypada, mas não unanimidade. "Beecroft transformou-se numa espécie de "easy-listening", transformando em banal o que pretende ser uma crítica", diz Gerard Hemsworth.
As meninas, só de sapatos, já estarão posicionadas em formato de um tabuleiro de xadrez quando os convidados entrarem. Aproveitando um dia de sol no parque Ibirapuera, Beecroft conversou com a Folha sobre a nova performance. (FCY).

Folha - Como será a obra?
Vanessa Beecroft -
As modelos estarão no lugar marcado quando as pessoas entrarem e elas poderão se mover naturalmente, dentro das regras que estabeleço.

Folha - Quais são as regras?
Beecroft -
Eu as darei por escrito. Em geral, elas não podem conversar, cair e estabelecer contato com o público. Regras bem genéricas. Mas 50% depende delas, em desenvolver uma personalidade própria. Elas só não podem falar e quebrar a composição.

Folha - Você irá participar?
Beecroft -
Nunca participo.

Folha - E como chegou a esse tipo de trabalho?
Beecroft -
Foi por acidente. Desde meus 14 anos faço desenhos de modelos, foi assim também quando frequentei a Academia de Arte. Nunca fiquei satisfeita com a imagem gráfica ou a pintura. Quando fui convidada por um professor para uma exposição, levei algumas aquarelas e também as meninas que serviram de modelo. Elas acabaram tornando-se a parte mais forte do trabalho. Assim, decidi usar mulheres como matéria.

Folha - Suas modelos costumam estar nuas, mas soube que você não gosta de nudez...
Beecroft -
Gosto de usar a nudez como se fosse um uniforme, como se as garotas vestissem nudez. Mas é uma nudez urbana. É uma afirmação de algo, não deve haver conforto na nudez.

Folha - É seu primeiro trabalho no Brasil, onde mulheres são famosas pela sensualidade. Isso será incorporado na performance?
Beecroft -
Normalmente gosto de fazer o oposto. Nos EUA há muito puritanismo, e lá fiz obras sensuais. Aqui será diferente. O trabalho é mais sobre beleza, e terá também alguma violência com referências em pinturas clássicas.

Folha - E porque usar modelos e não gente comum?
Beecroft -
Busco pessoas com características parecidas, pois é como se eu construísse a imagem de apenas uma pessoa a partir das várias modelos. Creio que faço um super-retrato feito da diversidade, da multiplicidade.


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