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"Nudez é uniforme", diz Beecroft
DA REPORTAGEM LOCAL
Ela é a artista mais badalada da
Bienal e também a que provoca
mais expectativa, pois será a única
a fazer uma performance no
evento. Será a primeira no Brasil,
após 49 já realizadas. Por isso,
amanhã, a italiana Vanessa Beecroft realiza "VB50", para 3.000
convidados.
Ela não participa, mas comanda
um pelotão de 50 mulheres no pavilhão da Bienal. É hypada, mas
não unanimidade. "Beecroft
transformou-se numa espécie de
"easy-listening", transformando
em banal o que pretende ser uma
crítica", diz Gerard Hemsworth.
As meninas, só de sapatos, já estarão posicionadas em formato
de um tabuleiro de xadrez quando os convidados entrarem.
Aproveitando um dia de sol no
parque Ibirapuera, Beecroft conversou com a Folha sobre a nova
performance.
(FCY).
Folha - Como será a obra?
Vanessa Beecroft - As modelos
estarão no lugar marcado quando
as pessoas entrarem e elas poderão se mover naturalmente, dentro das regras que estabeleço.
Folha - Quais são as regras?
Beecroft - Eu as darei por escrito.
Em geral, elas não podem conversar, cair e estabelecer contato com
o público. Regras bem genéricas.
Mas 50% depende delas, em desenvolver uma personalidade
própria. Elas só não podem falar e
quebrar a composição.
Folha - Você irá participar?
Beecroft - Nunca participo.
Folha - E como chegou a esse tipo
de trabalho?
Beecroft - Foi por acidente. Desde meus 14 anos faço desenhos de
modelos, foi assim também quando frequentei a Academia de Arte.
Nunca fiquei satisfeita com a imagem gráfica ou a pintura. Quando
fui convidada por um professor
para uma exposição, levei algumas aquarelas e também as meninas que serviram de modelo. Elas
acabaram tornando-se a parte
mais forte do trabalho. Assim, decidi usar mulheres como matéria.
Folha - Suas modelos costumam
estar nuas, mas soube que você
não gosta de nudez...
Beecroft - Gosto de usar a nudez
como se fosse um uniforme, como se as garotas vestissem nudez.
Mas é uma nudez urbana. É uma
afirmação de algo, não deve haver
conforto na nudez.
Folha - É seu primeiro trabalho no
Brasil, onde mulheres são famosas
pela sensualidade. Isso será incorporado na performance?
Beecroft - Normalmente gosto
de fazer o oposto. Nos EUA há
muito puritanismo, e lá fiz obras
sensuais. Aqui será diferente. O
trabalho é mais sobre beleza, e terá também alguma violência com
referências em pinturas clássicas.
Folha - E porque usar modelos e
não gente comum?
Beecroft - Busco pessoas com
características parecidas, pois é
como se eu construísse a imagem
de apenas uma pessoa a partir das
várias modelos. Creio que faço
um super-retrato feito da diversidade, da multiplicidade.
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