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ARTES PLÁSTICAS
MinC deve repassar R$ 3 mi em vez de R$ 10 mi; artista turca se retira, e Taiwan provoca polêmica
Bienal começa contando perdas e danos
DA REPORTAGEM LOCAL
A 25ª Bienal Internacional de
São Paulo tem início hoje contabilizando perdas e polêmicas. A
mais recente refere-se à sala do
Museu Fine Arts de Taipé (Taiwan). Convidado a participar do
núcleo das representações nacionais no evento, Taiwan se tornou
um núcleo à parte, anteontem,
por decisão de Carlos Bratke, presidente da Fundação Bienal.
"Fui informado de que o Itamaraty não reconhece Taiwan como
um país independente, seguimos
essa orientação", diz Bratke. Segundo a assessoria de comunicação do Itamaraty, "o Brasil somente reconhece a República da
China, com capital em Pequim.
Quando consultados, informamos essa posição".
"Fomos convidados a participar
da Bienal como representação nacional e pagamos nossa presença.
Só aqui fomos informados de que
não estaríamos incluídos nessa
categoria. Fomos desrespeitados
pela instituição. Ninguém nos explica nada", diz Fang-wei Chang,
curadora da sala.
"Só não fechamos a sala por respeito aos brasileiros, que não têm
nada a ver com isso", diz a curadora. De qualquer forma, no catálogo dos países, pronto antes da
polêmica, Taiwan está incluído.
A sala apresenta 38 imagens do
fotógrafo Chien-chi Chang, realizadas com internos de uma colônia psiquiátrica em Taipé. É um
conjunto forte, todos estão acorrentados. "A obra é resultado de
seis anos de negociações, e as fotos foram feitas em apenas três
horas", diz o artista.
Outra polêmica envolveu a artista turca Ayse Erkmen, uma das
cinco artistas a representar a cidade de Istambul. Ela retirou-se da
Bienal, na quarta passada, acusando a instituição de "censura
política". Erkmen veio ao Brasil
em setembro passado para escolher o local da obra, um conjunto
de faixas feitas por uma comunidade de uma favela em Santana.
Ela decidiu estendê-las no vão nobre do pavilhão. "Foram os brasileiros que não quiseram a obra lá,
sugeri outros lugares, mas a artista foi intransigente", diz Alfons
Hug, curador da Bienal.
Entretanto a mais grave das perdas é financeira. Bratke começou
a semana com a certeza de que o
Ministério da Cultura repassaria
R$ 10 milhões para o evento, e hoje tem garantia de apenas R$ 3 milhões. A verba é decorrente de
uma emenda da bancada paulista
no Congresso ao Orçamento da
União que destina R$ 13,68 milhões para projetos culturais.
No entanto o Museu de Arte
Moderna de São Paulo também
conseguiu parte desse valor, mais
até que a Bienal: R$ 4,5 milhões.
Sobram agora R$ 6,18. "Não é seguro que todo esse valor seja repassado à Bienal, isso depende de
acordos políticos", afirma o deputado federal Paulo Kobayashi,
coordenador da bancada paulista
no Congresso.
"A situação é difícil, mas não catastrófica. Nossas despesas estão
parceladas, ainda buscamos patrocínio", diz Bratke. O presidente lançou nesta semana sua recandidatura ao cargo com o mesmo
time de curadores para a 26ª Bienal. "Vários conselheiros vieram
me procurar sugerindo minha
candidatura", conta Bratke. A
eleição deve ocorrer até três meses após o fim da Bienal, em junho. Os curadores não confirmam interesse em continuar.
"Bratke não nos procurou, não tenho interesse", diz Agnaldo Farias, curador do núcleo brasileiro
na Bienal. "Eu sou do Instituto
Goethe, aguardo um novo posto
na América Latina", afirma Hug.
Segundo a Folha apurou, outros conselheiros já pensam em
lançar a produtora cultural Frances Reynolds Marinho ao cargo.
(FABIO CYPRIANO)
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