São Paulo, sábado, 23 de março de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

MinC deve repassar R$ 3 mi em vez de R$ 10 mi; artista turca se retira, e Taiwan provoca polêmica

Bienal começa contando perdas e danos

DA REPORTAGEM LOCAL

A 25ª Bienal Internacional de São Paulo tem início hoje contabilizando perdas e polêmicas. A mais recente refere-se à sala do Museu Fine Arts de Taipé (Taiwan). Convidado a participar do núcleo das representações nacionais no evento, Taiwan se tornou um núcleo à parte, anteontem, por decisão de Carlos Bratke, presidente da Fundação Bienal.
"Fui informado de que o Itamaraty não reconhece Taiwan como um país independente, seguimos essa orientação", diz Bratke. Segundo a assessoria de comunicação do Itamaraty, "o Brasil somente reconhece a República da China, com capital em Pequim. Quando consultados, informamos essa posição".
"Fomos convidados a participar da Bienal como representação nacional e pagamos nossa presença. Só aqui fomos informados de que não estaríamos incluídos nessa categoria. Fomos desrespeitados pela instituição. Ninguém nos explica nada", diz Fang-wei Chang, curadora da sala.
"Só não fechamos a sala por respeito aos brasileiros, que não têm nada a ver com isso", diz a curadora. De qualquer forma, no catálogo dos países, pronto antes da polêmica, Taiwan está incluído.
A sala apresenta 38 imagens do fotógrafo Chien-chi Chang, realizadas com internos de uma colônia psiquiátrica em Taipé. É um conjunto forte, todos estão acorrentados. "A obra é resultado de seis anos de negociações, e as fotos foram feitas em apenas três horas", diz o artista.
Outra polêmica envolveu a artista turca Ayse Erkmen, uma das cinco artistas a representar a cidade de Istambul. Ela retirou-se da Bienal, na quarta passada, acusando a instituição de "censura política". Erkmen veio ao Brasil em setembro passado para escolher o local da obra, um conjunto de faixas feitas por uma comunidade de uma favela em Santana. Ela decidiu estendê-las no vão nobre do pavilhão. "Foram os brasileiros que não quiseram a obra lá, sugeri outros lugares, mas a artista foi intransigente", diz Alfons Hug, curador da Bienal.
Entretanto a mais grave das perdas é financeira. Bratke começou a semana com a certeza de que o Ministério da Cultura repassaria R$ 10 milhões para o evento, e hoje tem garantia de apenas R$ 3 milhões. A verba é decorrente de uma emenda da bancada paulista no Congresso ao Orçamento da União que destina R$ 13,68 milhões para projetos culturais.
No entanto o Museu de Arte Moderna de São Paulo também conseguiu parte desse valor, mais até que a Bienal: R$ 4,5 milhões. Sobram agora R$ 6,18. "Não é seguro que todo esse valor seja repassado à Bienal, isso depende de acordos políticos", afirma o deputado federal Paulo Kobayashi, coordenador da bancada paulista no Congresso.
"A situação é difícil, mas não catastrófica. Nossas despesas estão parceladas, ainda buscamos patrocínio", diz Bratke. O presidente lançou nesta semana sua recandidatura ao cargo com o mesmo time de curadores para a 26ª Bienal. "Vários conselheiros vieram me procurar sugerindo minha candidatura", conta Bratke. A eleição deve ocorrer até três meses após o fim da Bienal, em junho. Os curadores não confirmam interesse em continuar. "Bratke não nos procurou, não tenho interesse", diz Agnaldo Farias, curador do núcleo brasileiro na Bienal. "Eu sou do Instituto Goethe, aguardo um novo posto na América Latina", afirma Hug.
Segundo a Folha apurou, outros conselheiros já pensam em lançar a produtora cultural Frances Reynolds Marinho ao cargo.
(FABIO CYPRIANO)


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