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CRÍTICA
Prudente, Villela mantém irreverência
SERGIO SALVIA COELHO
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Gabriel Villela abre o festival com uma insolência
prudente, se é que pode existir
algo assim. É prudente quando
se apóia em efeitos garantidos:
põe uma criança no palco logo
na primeira cena, amacia a
postura rígida dos bailarinos
com ternos narizes de palhacinhos, costura o espetáculo com
uma narrativa facilmente reconhecível, o "Sonho de uma
Noite de Verão" shakespeareano, sem desta vez misturar com
nenhuma outra fonte, para que
se possa acompanhar a história
pelo programa.
Villela é prudente assim também por abandonar o pretensioso hermetismo que havia na
sua versão de "Gota d'Água", o
que condiz melhor com a ingenuidade reivindicada por ele e
se limita a efeitos que já funcionaram em outros espetáculos
seus, repetindo "Replay", por
exemplo.
Mas nem por isso o diretor
abre mão da irreverência. É pelos olhos de uma criança que se
deve ver o espetáculo, parece
avisar. Assim, nenhuma insolência é ofensiva. A peça de
Shakespeare é um velho livro
empoeirado, cheio de blablablá, não significando nada de
muito sério: no fundo (ou melhor, no raso), o que os namorados querem é dormir juntos
ao som de Roberto Carlos; o
que libera a elite é a breguice representada pelos seres da floresta. O balé clássico "czarista"
perde a pompa, denunciado
pela malícia do teatro de rua, e
os dançarinos estão liberados
para rir, gritar de dor por forçar
a postura, tropeçar e fingir
manter a pose. A coreografia
da Cia. de Dança de Minas Gerais, que merece uma análise
mais habilitada que a minha,
brinca com os limites da dança,
sem abrir mão de ser dança, e
todos ficam felizes.
Nos aplausos finais, Villela
agradece, levantando a menina
da primeira cena, como se estivesse se escudando no pueril.
Se desencumbiu bem da tarefa
traiçoeira de abrir um festival
com um espetáculo leve, às vezes divertido, às vezes lírico,
ternamente cafona como uma
bailarina de porcelana de casa
de avó.
Tem a elegância de não querer abafar de saída, mas lança
mão desse seu personagem mineiro, falsamente ingênuo, que
desautoriza qualquer outra
pretensão maior que a sua. É
como se dissesse: "Isso é só teatro, mas eu gosto. É só essa bobajada cheia de pó mesmo. Entrem e fiquem à vontade".
Muito obrigado, seu Gabriel,
pela hospitalidade mineira.
Mas vamos ver se a gente consegue ir mais fundo na função,
nos dez dias de festival que temos pela frente. E o senhor
mesmo quando volta a fazer
jus à genialidade que já lhe atribuíram?
Avaliação:
O crítico Sergio Salvia Coelho viaja
a convite da organização do 11º FTC
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