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"Oriundi" brilha em silêncio no Rio
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto a França canta o "Funiculì Funiculà" para dezenas de
autores italianos, no Salão de Paris, o Brasil serve silêncio para o
lançamento mais importante de
um grande escritor "oriundi".
Franco Terranova nasceu em
Nápoles, em 1923. Deixou para
trás a Europa arrasada pela guerra
depois de ver um filme com Zé
Carioca. Seu navio achou o Brasil
em 47. A pouca bagagem, as noites sem nenhum tostão, dormidas
na praia, os desconhecimentos de
língua, amigos e trabalho tomaram sete anos de sua vida.
Mas em 1954 o jovem napolitano já começava a entrar na história da arte brasileira. Naquele ano,
ele passou a cuidar, meio por acaso, de uma pequena, minúscula,
galeria de arte. Foi pequena só nas
dimensões (leia no pequeno texto
ao lado por quê). O mesmo vale
para a literatura de Terranova.
Ele começou polinizando alguns poemas, diminutos como
haikais, no prestigioso "Suplemento Literário", do "Jornal do
Brasil" dos anos 50. "O Girassol",
o mais famoso, foi com o qual começou a escrever em português.
Ganhou elogios dos grandes
poetas-críticos Mário Faustino
(1930-62) e Ferreira Gullar, foi publicado na Itália, mas seguiu pela
sombra. Foi colhendo elogios,
mas sempre publicando edições
alternativas, quase sempre pela
Massao Ohno, ombro amigo dos
poetas sem-editora.
Depois de cinco livros pouco divulgados, Terranova abriu o ano
de 2002 publicando pela primeira
vez por uma grande casa editorial.
Não lançou um, nem dois, mas
três livros ao mesmo tempo. "Trilogia do Vento" é o nome que junta os três pequenos volumes lançados pela Nova Fronteira: "Diário 1895/1995", "1001 Noites no
Carandiru" e "Assassinato de Primeiro Grau em Ipanema".
Nos primeiros livros, como em
"palavrausência", Terranova fazia
de modo independente caminho
paralelo ao dos concretos, usando
poucas palavras e recursos editoriais pioneiros (como "janelinhas" no papel que permitiam diversas leituras do mesmo poema).
Em "Diário" e em "1001 Noites"
ele segue uma poesia mais próxima do livro que antecedeu a trilogia, "Memórias Rumores".
Em uma espécie de poesia-prosa, faz uma livre e sensível reconstituição de experiências pessoais,
a partir do nascimento de sua mãe
(que hoje tem 106 anos e vive na
Itália). Em "1001 Noites", dialoga,
no mesmo registro poético, com
as almas penadas do fatídico massacre do Carandiru, de 1992.
O terceiro livreto marca a maior
mudança na trajetória literária do
napolitano que abraçou o Rio de
Janeiro -ele se considera brasileiro. Em "Assassinato de Primeiro Grau...", a poesia-prosa vira
prosa poética, e pela primeira vez
seu texto ganha um enredo bem
marcado: uma história de amor
seguida de assassinato banal.
"Só um grande escritor pode
criar. Imperdível", afirma o escritor Doc Comparato no posfácio
do livro, rimando com os elogiosos posfácios dos outros volumes,
de Affonso Romano de Sant'Anna e de Marco Lucchesi. E é tudo.
Galerista amado pelos artistas,
Terranova dá, com a "Trilogia do
Vento", mais um passo na sua trajetória de "escritor de escritores".
TRILOGIA DO VENTO (DIÁRIO 1895/
1995, 1001 NOITES NO CARANDIRU E
ASSASSINATO DE PRIMEIRO GRAU EM
IPANEMA). De: Franco Terranova.
Editora: Nova Fronteira (tel. 0/xx/21/
2537-8770). Quanto: R$ 13 (cada um).
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