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18º SALÃO DO LIVRO
Em Paris, músico e agricultor escritores, tímidos, tentam "despistar" público e mediadores
Chico e Raduan não dialogam com platéia
LUIZ ANTÔNIO RYFF
enviado especial a Paris
Um jogo de gato e rato entre,
de um lado, público e mediadores franceses
e, de outro, um
músico e um
agricultor que
escrevem, reconhecidamente tímidos e avessos a perguntadores
profissionais (imprensa) e amadores (público).
Dessa forma podem ser definidos os encontros que Chico Buarque e Raduan Nassar tiveram com
a platéia em Paris, durante o 18º
Salão do Livro.
Os dois -que no ano passado
participaram de leituras conjuntas
das próprias obras- foram as
atrações de duas mesas de debates.
Na primeira, dividiram atenções
com outra escritora que não costuma falar muito: Patrícia Mello,
mas que, pelo menos no debate,
fez uma exceção, tornando as vidas de Raduan e Chico mais fáceis.
O mediador, o jornalista Frederic Pagès, tentou "dificultar", perguntando se Chico gostava de ler
jornais, se Raduan gostava de ver
TV, ou se havia diferença entre literatura popular e erudita.
"Sinto decepcioná-lo, mas não
me preocupo com isso", respondeu Raduan, que pediu desculpas
ao público por não se interessar
por "especulações teóricas".
Pagès insistia. Enquanto questionava se estava havia uma desvalorização da escrita com o desenvolvimento das imagens, Raduan
balançava negativamente a cabeça
cobrindo o rosto com a mão.
Tanto ele quanto Chico, tentavam minimizar a aura de demiurgo do escritor. "Sou a favor da inutilidade da obra literária. Mas
quando você faz um livro, as pessoas perguntam se vai virar filme.
Como se só assim fosse virar algo
real", ironizou.
Chico refuta o status de poeta
por suas letras, não considera suas
canções como literatura e acredita
que essa separação também é feita
pelas pessoas. E que é visto como
um cantor que escreve -revelou
sua surpresa quando o enredo da
Mangueira em sua homenagem
não citou sua atividade literária.
Raduan, por sua vez, confessou
ter "três pés atrás" com relação
aos meios literários. "Tenho um
pouco de dificuldade de conviver
com o pedantismo. Escrever é
uma atividade superestimada. Podiam me tomar por uma pessoa
pretensiosa", afirmou ele.
Para a platéia, que espera revelações íntimas, os encontros devem
ter sido frustrantes. Raduan tentava escapar das perguntas. "Não tenho muito serviço a mostrar. Estava achando mais interessante a
conversa com Chico."
Após a leitura de trechos de seus
livros, perguntaram a Raduan se
ele acreditava em Deus. "Posso
responder no próximo salão do livro?", riu, se despedindo.
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