São Paulo, terça, 23 de março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SHAKESPEARE IN LOBBY
Especulações sobre campanha da Miramax (10 estatuetas recebidas em 20) voltam a ganhar força
"Oscar do dinheiro" causa polêmica

ADRIANE GRAU
enviada especial a Los Angeles

CLÁUDIO CASTILHO
especial para a Folha, em Los Angeles

Os estúdios Miramax ganharam 10 dos 20 Oscar a que seus dois filmes, "Shakespeare Apaixonado" e "A Vida É Bela", concorriam, entre eles as de filme e atriz (para "Shakespeare" e Gwyneth Paltrow) e ator (para Roberto Benigni).
O fato de o concorrente direto "O Resgate do Soldado Ryan", do poderoso Steven Spielberg, ter levado apenas um importante (diretor) e de atuações consideradas fracas, como as de Paltrow, Benigni e do próprio "Shakespeare Apaixonado", terem sido premiadas, ressuscitou a polêmica sobre quão éticos teriam sido os irmãos Harvey e Robert Weinstein, da Miramax, em sua campanha pelo Oscar.
Para tentar ganhar os votos dos 5.557 membros votantes da Academia, a Miramax começou uma verdadeira guerra publicitária, investindo US$ 15 milhões. Jeffrey Katzenberg, sócio de Spielberg no DreamWorks, resolveu responder à altura. Voaram farpas e milhões.
Weinstein falou ontem com a imprensa, após o Oscar, desmentindo o exagero (leia texto à pág. 4-7). Disse, conforme se aventou ontem, que, se uma nova regra que imponha limites a serem gastos na divulgação for aprovada, ele será o primeiro a segui-la.
Spielberg foi menos diplomático que o colega durante o almoço para os indicados. "Eu acredito que devo seguir a estrada correta quando se trata de competição", disse então. "Tenho de acordar de manhã com respeito próprio."
Harvey Weinstein construiu sua carreira como o último titã hollywoodiano do século baseado justamente em seus dotes de publicitário. O filme espanhol "El Abuelo" e o iraniano "Filhos do Paraíso", por exemplo, tiveram seus direitos de distribuição comprados por Weinstein logo após receberem indicações para o Oscar de melhor filme estrangeiro.
Para Arthur Cohn, que participa, entre outros, da produção de "Central do Brasil" -que perdeu ontem o Oscar de melhor filme estrangeiro para "A Vida É Bela" e o de melhor atriz (Fernanda Montenegro) para "Shakespeare"-, o resultado é "decepcionante".
"Temos aí uma prova de que os milhões de dólares investidos pela Miramax fizeram de "A Vida É Bela" um enorme sucesso comercial. E, infelizmente, o dinheiro, mais uma vez, acabou influenciando no resultado da noite passada", disse.
Cohn afirmou não acreditar em mudanças nas regras: "Acho que, por mais poder que uma pessoa tenha, ninguém vai mudar o sistema. O meu medo maior é a possibilidade de esse tipo de jogo incentivar no futuro outros filmes indicados ao Oscar a se tornar obras comerciais, em vez de obras de arte".


Texto Anterior: Filmes e TV Paga
Próximo Texto: Público jamais desvendará os mistérios do Oscar
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.