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OSCAR
Diretor afirma que campanha da Miramax surtiu efeito, mas não há nada que a impeça de agir agressivamente
Foi uma vitória de marketing, diz Salles
CLAUDIO CASTILHO
especial para a Folha, em Los Angeles
A falta de uma vitória brasileira
na cerimônia do Oscar, realizada
anteontem, em Los Angeles, não
desanimou a equipe de "Central
do Brasil", que ficou até o começo
da madrugada na festa oficial do
evento, Governor's Ball. "Ficamos
juntos o tempo inteiro, solidários
um com o outro e conscientes de
que há de haver sempre humildade
tanto na vitória quanto na derrota", disse o diretor Walter Salles à
Folha logo após o término da cerimônia. Leia a entrevista.
Folha - Você já desconfiava da vitória de "A Vida É Bela"?
Walter Salles - Temos que aplaudir Roberto Benigni por ter conseguido ultrapassar o gueto do filme
estrangeiro. A campanha milionária da Miramax acabou surtindo
efeito não somente ao ajudar na
imagem de Benigni, que se transformou num verdadeiro fenômeno de massa nos EUA, como também em todas as categorias.
Fico surpreso que filmes como
"Além da Linha Vermelha" e "O
Resgate do Soldado Ryan" tenham
perdido de uma produção como
"Shakespeare Apaixonado". Foi
uma vitória de marketing quantitativa. Vemos mais uma vez a máquina extremamente azeitada da
Miramax surtindo efeito. E não há
nada que proíba estúdio algum de
agir com tamanha agressividade.
Folha - Você vê solução para esse
tipo de desigualdade de forças?
Salles - Como "O Resgate do Soldado Ryan" saiu perdendo, quem
sabe Spielberg e outros nomes de
peso da indústria comecem a pensar a mudar o sistema. No caso de
"Central", acredito que, mesmo se
a Sony Pictures investisse 20 vezes
mais do que gastou em marketing
do filme, o resultado continuaria
sendo o mesmo. Isso em função de
Benigni ter se tornado um fenômeno de exportação nos EUA.
Folha - O que mais o entristece
com os resultados desse Oscar?
Salles - Lamento o fato de o talento magnífico de Fernanda Montenegro não ter sido reconhecido.
Mas Fernanda é uma pessoa incrível e reagiu com a tranquilidade e a
elegância que lhe são comuns.
Folha - Qual foi o momento da
festa que mais o agradou?
Salles - O ponto alto da festa foi a
homenagem que fizeram a Kubrick. Já a homenagem a Elia Kazan foi um absurdo. Não consegui
ficar no teatro e, ao lado de umas
300 pessoas, fui para fora.
Folha - Poderia citar um exemplo
do que tenha sido óbvio na noite?
Salles - A derrota de "Central do
Brasil" é um exemplo. Quando Sophia Loren foi apontada quatro
dias antes para apresentar o prêmio na categoria, passei a não ter
mais dúvidas da vitória de "A Vida
É Bela". Sabia que as cartas estavam marcadas e que os critérios de
escolha eram decodificáveis.
Folha - Valeu a pena chegar até o
fim dessa estrada?
Salles - Lógico. Foram 14 meses
de muito trabalho. Percorremos
vários lugares falando do filme e
do cinema nacional. Gostaria de
agradecer a todos os que nos
apoiaram e fico feliz com essa trajetória. Para mim, afetivamente o
ciclo de "Central" se fechou semana passada em Vitória da Conquista, um dos locais de gravação do
filme. Nosso filme saiu da Central
do Brasil em busca do impossível
centro do Brasil. Ao retornar a essa
locação eu tive a sensação de que a
viagem tinha se encerrado. O Oscar aconteceu depois de o tempo
regulamentar ter se esgotado.
Folha - Quais são seus planos?
Salles - Vou ficar mais uma semana nos EUA para, ao lado de Arthur Cohn, tentar fechar futuros
projetos. Temos quatro em vista,
alguns roteiros escritos e outros
em desenvolvimento, mas nada
ainda definido. Talvez venhamos a
acertar uma colaboração da produtora de Robert Redford.
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