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ANÁLISE
O ano Miramax
AMIR LABAKI
da Equipe de Articulistas
Hollywood piscou. O Oscar
99 lembra o de 81. A surpreendente e merecida vitória de
"Shakespeare Apaixonado" remete ao triunfo de "Carruagens
de Fogo", outro projeto britânico a se impor sobre a produção americana.
Várias tradições da Academia foram rompidas. A mais
marcante é o raro triunfo do
humor, seja pelo domínio da
premiação por "Shakespeare",
ou pelos incríveis três prêmios
a "A Vida É Bela".
O feito mais impressionante
foi o prêmio de ator para Roberto Benigni. Ele tornou-se o
primeiro homem a levar a estatueta interpretando em outra
língua que não o inglês.
Também incomum foi a falta
de sintonia entre as duas categorias principais, ocorrida apenas 17 vezes nas 70 edições anteriores do Oscar.
O cinema americano venceu
naquilo em que é indiscutivelmente superior: técnica. Basta
ver os prêmios para "O Resgate
do Soldado Ryan".
O "ano do Oscar globalizado"
acabou tornando-se o "ano Miramax", com os dez prêmios
arrebatados por "Shakespeare"
e "A Vida É Bela". O ataque à
ofensiva publicitária dos irmãos Weinstein deve crescer.
Se apenas exploraram, com
competência e bolsos profundos, as velhas regras do jogo, a
onda murcha. Caso se prove
que recursos ilícitos de convencimento foram usados, a subsidiária da Disney pode apagar
amanhã o Oscar de hoje.
No caminho dos Oscar de
"Central" havia a Miramax.
Nas duas categorias que disputou, o filme foi superado por
longas da distribuidora.
Adotada como musa pela Miramax, Gwyneth Paltrow é uma
estrela em ascensão que soube
explorar as potencialidades de
seu papel em "Shakespeare".
Fernanda Montenegro já fizera
história ao ser indicada. Se vencesse, teria feito milagre.
O provincianismo americano
reafirmou-se com o descaso na
apresentação dos concorrentes
a filme estrangeiro, relegados a
brevíssimos trechos exibidos
numa telinha. A exceção foi a
estranha projeção imediatamente anterior do clipe de "A
Vida É Bela" como indicado
também na categoria principal.
A escolha de Sophia Loren
para apresentá-lo e depois entregar o prêmio para o melhor
filme estrangeiro vai alimentar
teorias contra a lisura da decisão. Podem argumentar que o
favoritismo de Benigni era evidente, mas soou suspeito.
Duas surpresas fizeram justiça. O veterano James Coburn
recebeu reconhecimento por
seu corajoso papel em "Temporada de Caça". Por sua vez, o
prêmio de roteiro adaptado para Bill Condon aplaude sua
sensível incursão na história da
homofobia da Hollywood clássica com "Deuses e Monstros".
Nada, contudo, superou o
desconforto da entrega do Oscar especial a Elia Kazan, 90. O
boicote de aplausos não vingou, mas tampouco Kazan recebeu a recepção consagradora
de praxe. Apesar do apoio de
Martin Scorsese e Robert De
Niro, o mal-estar no palco foi
até maior que na platéia. Foi o
isolado instante memorável de
toda a cerimônia.
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