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CRÍTICA
Cerimônia foi chocha
BIA ABRAMO
especial para a Folha
E os perdedores foram todos
os que ficaram acordados até
mais de 2h, vendo uma das cerimônias de entrega de Oscar
mais chatas e chochas dos últimos tempos.
A dupla Renato Machado e
Wilson Cunha, respectivamente apresentador e comentarista
da Rede Globo, pouco fez para
espantar o sono do espectador.
Comentarista, aliás, modo de
dizer, porque Cunha manifestou-se raramente e quando o
fez, soltou coisas do tipo "a vida pode ser bela apesar de Roberto Benigni", contra quem
torceu o tempo todo de forma
explícita e sem o menor pejo.
Não mereceu nem ao menos
um muxoxo a deslocadíssima
aparição do general Colin Powell -para apresentar "O Resgate do Soldado Ryan" e "Além
da Linha Vermelha"-, como
se um militar na vida real conferisse mais "verdade" à visão
de Hollywood sobre a guerra.
A outra personalidade extracinematográfica, o astronauta
John Glenn, lançou um daqueles clipões na homenagem a
personagens reais do cinema,
"heróis da humanidade", segundo a visão da indústria cinematográfica, um balaio onde
cabiam gatos como Ghandi e
Oskar Schindler. Necas de comentário, também.
A estratégia da Globo de esquentar a transmissão, com câmeras em Cruzeiro do Nordeste e em um telão no Rio de Janeiro, onde estava reunida parte da equipe de "Central do
Brasil" não funcionou. Espremidas entre anúncios e a transmissão de Los Angeles, as imagens da "torcida" só apareceram por três vezes e por pouquíssimos segundos.
A Globo entrou como uma
coadjuvante canhestra, mas o
prêmio máximo de chatice vai
mesmo para a entrega dos prêmios em si.
Whoopi Goldberg até que
tentou dar algum molho, vestindo-se a caráter para cada
concorrente a melhor figurino
e soltando algumas boas piadas, mas a festa septuagenária
precisa urgentemente de uma
reengenharia.
Este ano, parecia tudo requentado: os discursos, as homenagens, até as roupas. O
único momento de algum frisson foi o da homenagem polêmica a Elia Kazan, quando parte da platéia não se levantou ou
não aplaudiu, por conta do
passado de colaboração com o
macarthismo do diretor.
Nem mesmo as câmeras da
transmissão norte-americana
ajudaram: insistiam em meia
dúzia de astros e estrelas. Alguns compreensíveis pela importância, probabilidade de ganhar uma estatueta ou por glamour -Steven Spielberg, Tom
Hanks, Cate Blanchett. E outros, que não se sabe por que
apareceram tanto, como Geoffrey Rush, que, apesar de ter sido um dos primeiros perdedores (não levou o prêmio de ator
coadjuvante) e não ser assim
um primor de beleza, era constantemente focalizado.
Na verdade, talvez não tenha
sido só a festa que perdeu o interesse. Talvez Hollywood não
esteja conseguindo mais criar
mitos e mitologias nas quais
valha a pena acreditar. E daí
não há piada nem figurino que
segure.
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