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FILME CRÍTICA
Clichês para rir e chorar
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
"Patch Adams", o novo filme estrelado por Robin Williams, defende uma idéia que, de tão óbvia, não
precisa de muita defesa: os doentes
devem ser tratados com muito carinho e pouca burocracia.
Como a "mensagem positiva" do
filme não deixa muito o que discutir (quem é contra dar carinho e
alegria aos pacientes?), o que resta
é observar como o cinemão americano manipula sem pudor os sentimentos da platéia.
O personagem-título, Hunter
"Patch" Adams (Williams), é um
homem um tanto desajustado que,
depois de tentar o suicídio e se internar por vontade própria num
hospício, resolve se tornar médico
para melhorar a qualidade de vida
das pessoas enfermas.
Para encaixotar essa boa história
no padrão "filme edificante para
rir e chorar", o roteiro espalhou
obstáculos no caminho do bom samaritano.
Na escola de medicina, o reitor
malvado (Bob Gunton) quer podar
seus métodos não-usuais de "cura
pelo riso"; um colega invejoso
(Philip Seymour Hoffman) o acusa
de "colar" nas provas; a bonitinha
da classe (Monica Potter) o despreza acintosamente; um paciente
terminal (Peter Coyote) o trata como a um cachorro.
Com suas piadas infames, seu
sorriso "cativante" (pelo menos a
intenção é essa) e sua obstinação
quase mística, Adams consegue
vencer, uma por uma, todas as resistências, menos a do reitor vilão,
que ele terá de derrotar no final
apoteótico e catártico.
Embora "baseado numa história
real", como diz o letreiro de abertura, o roteiro de "Patch Adams"
parece produzido por um programa de computador ou por uma daquelas reuniões sinistras de executivos de estúdio, tão bem retratadas por Robert Altman em "O Jogador".
Clichês
Todos os clichês das comédias
dramáticas americanas estão costurados no filme.
A começar pelos personagens: o
idealista que luta contra o "sistema"; o velho maluco que, na verdade, é um gênio excêntrico (e milionário); o jovem egoísta que recebe uma "lição de vida" e aprende a
ser solidário; a mocinha inacessível que aos poucos converte sua
hostilidade em amor.
Tudo isso organizado em cenas e
situações dramáticas igualmente
infalíveis: a borboletinha colorida
que sobrevoa o personagem à beira do abismo e o impede de se matar; o clímax no tribunal, onde o
bem e o mal se defrontam num torneio de retórica sentimental.
Claro que a escolha do ator também não foi casual. Perguntaram
ao computador: qual é o astro indicado para alternar caretas engraçadas e expressões de choro, contar
piadas rápidas e inspirar piedade?
A resposta não podia ser outra: Robin Williams.
O astro é a prova viva de que tudo, inclusive os atores, se transforma em fórmula previsível no cinema industrial. Claro que, aqui e ali,
seu talento explode em pura e incontível energia cômica.
Algumas piadas -como a da
porta da faculdade transformada
numa imensa vagina- são memoráveis. À parte isso, o filme é de
uma eficiência maquiavélica. Com
seu sentimentalismo pegajoso, vai
fazer o maior sucesso.
Filme: Patch Adams - O Amor É Contagioso
Produção: EUA, 1998
Direção: Tom Shadyac
Com: Robin Williams, Daniel London,
Monica Potter, Bob Gunton
Onde: em São Paulo, no SP Market 3, Interlar
Aricanduva 12, Center Norte 2, Paulista 3,
West Plaza 2 e circuito
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