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Projeto une influências ocidentais e orientais
DAVE KEHR
DO "NEW YORK TIMES"
Desde que "Kill Bill - Vol. 1" foi
lançado nos EUA, os fóruns de
discussão da internet fervilham
quanto às numerosas referências
que o filme faz à rica tradição dos
filmes de gênero asiáticos -tanto
às fitas de kung fu produzidas em
Hong Kong quanto às sagas de espadachins japonesas.
Com o lançamento de "Kill Bill
- Vol. 2" nos EUA, o projeto de
Tarantino se torna mais claro e se
amplia: enquanto a primeira parte de seu épico ocorre sob o signo
do Oriente, a segunda é em larga
medida dedicada ao Ocidente
-ou seja, à tradição americana e
européia de filmes de vingança.
Com a densa rede de referências
oferecida em "Kill Bill", Tarantino
está ao mesmo tempo propondo
um jogo e defendendo um argumento, demonstrando o quanto
as culturas populares do Oriente e
do Ocidente se influenciaram
mutuamente ao longo dos anos e
que o novo estilo dos filmes de
ação se transformou em uma mistura inextricável das duas. "Kill
Bill" fecha o círculo, aglutinando
essas influências em um metafilme glorioso, maluco, inspirador e
profundamente pungente.
Não é necessário compreender
todas as referências de Tarantino
(algumas das quais esotéricas) para gostar de "Kill Bill", mas alguns
dados podem ajudar a criar uma
experiência mais agradável. As
notas abaixo são apenas sugestões
quanto a pontos básicos de entrada no complicado trabalho de Tarantino em "Kill Bill - Vol. 1" e estão longe de serem completas.
SONNY CHIBA - No roteiro de
Tarantino para "Amor à Queima-Roupa", o personagem de Christian Slater fala sobre uma sessão
dupla de filmes de Sonny Chiba
-"The Streetfighter" e "The Return of the Streetfighter", dois dos
mais violentos filmes de crime já
produzidos no Japão. Tarantino
utiliza a presença sinistra de Chiba em "Kill Bill" para fins de comédia, bem como de ameaça. Seu
personagem no filme, o mestre
armeiro Hattori Hanzo, que faz
para A Noiva (Uma Thurman)
sua espada de vingança, leva o nome de um samurai real, que Chiba
interpretou em uma série de TV
japonesa dos anos 70.
GORDON LIU - Talentoso astro dos filmes de kung fu dos irmãos Shaw, Liu conquistou a fama sob a direção de seu irmão,
Liu Chia Lang, em sucessos como
"A 36ª Câmara de Xaolin". "Kill
Bill" faz referência ao filme ao escalar Liu não como o pupilo que
ele interpretava então, mas como
o mestre de kung fu Pai Mei, que
ensina à Noiva a "técnica de cinco
pontos para explodir corações".
LUCY LIU - Como O-Ren Ishii,
líder do submundo de Tóquio,
Lucy Liu interpreta um personagem que mistura raízes japonesas,
chinesas e norte-americanas -as
quais representam, evidentemente, a genealogia de "Kill Bill" em si.
O visual de seu personagem parece se basear em "Lady Snowblood", filme de espadachins japonês de 1973, no qual a heroína é
uma jovem nascida na prisão que
prometeu vingar a morte de sua
família pelas mãos de uma quadrilha de trapaceiros.
"LOBO SOLITÁRIO" - "Kill
Bill" representa uma rara tentativa de combinar os estilos chinês e
japonês de artes marciais e, se
Gordon Liu representa a tradição
chinesa do kung fu lutado de
mãos limpas, Sonny Chiba defende a tradição de esgrima japonesa,
dos guerreiros samurais. Boa parte da violência estilizada de "Kill
Bill" deriva das tradições ultraviolentas de séries japonesas de cinema como "Lobo Solitário". O estilo de "Lobo", cujo fio central é um
samurai sem líder que vagueia
conduzindo seu bebê em um carrinho protegido por armadilhas
explosivas, ressoa em "Kill Bill",
com o tema repetidamente mencionado de crianças inocentes
presas a adultos violentos.
Tradução Paulo Migliacci
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