São Paulo, sexta-feira, 23 de abril de 2004

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FESTIVAL

Eryk Rocha apresenta "invenção" em Cannes, que projetou Glauber

"Quimera" é "sonho-metragem" em competição

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

O sobrenome Rocha não é novidade no Festival de Cannes. Mas, pela primeira vez na história da mostra, é o nome de Eryk, e não o de seu pai, Glauber (1939-1981), que assina um título em competição -o curta "Quimera", anunciado anteontem na disputa da edição 2004 (de 12 a 23 de maio).
Nessa mesma categoria, Glauber Rocha competiu com "Di" (1977, prêmio especial do júri), depois de haver freqüentado a mostra de longas com "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964), "Terra em Transe" (1967) e "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro" (1969), que lhe deu o prêmio de melhor direção.
Questionado se "Quimera" apenas inaugura um percurso que deve ser constante em Cannes, Eryk Rocha diz: "É uma incógnita. Só o tempo vai dizer. Mas é gratificante estar em Cannes, um festival que sempre representou espaço para o cinema autoral, de invenção".
A invenção cinematográfica é proposta central em "Quimera", realizado em parceria com o artista plástico Tunga. "Interessa-me o trânsito entre as linguagens", diz Eryk. Aos 26 anos, o cineasta acha que "a mistura de estilos" é a marca de sua geração.
"Sofremos o bombardeio de influências, que vão desde a própria história do cinema (que é curta, porém muito rica) até a televisão e as artes plásticas, algo que me marcou através da minha mãe [a artista plástica e cineasta Paula Gaitán]", afirma.
Em "Quimera", imagens de um homem que se barbeia e de gatos se confundem, criando uma atmosfera em que sonho e realidade tornam-se indistinguíveis.
Por perceber "cada vez menos a fronteira entre ficção e documentário, cinema e artes plásticas", Eryk quis, com Tunga, "dar ao espectador a responsabilidade de construir o filme em sua cabeça". O resultado é um "sonho-metragem", na definição do artista plástico, ou uma "cine-instalação", nas palavras do cineasta.
Para romper também com os limites da exibição na sala escura, o filme deve ser exibido em galerias e outros espaços alternativos.
Sua produção, "totalmente independente", foi financiada pela empresa de Tunga, sem o auxílio das leis de incentivo cultural baseadas em renúncia de Imposto de Renda. "Acho importante testar outro modelo de produção", diz o diretor, por telefone, de Buenos Aires.
Na capital argentina, ele acompanha uma exposição em homenagem a Glauber Rocha no Malba (Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires) e uma retrospectiva da obra de seu pai exibida pelo Bafici, o festival de cinema independente da cidade.
Na volta ao Brasil, prevista para a próxima semana, Eryk seguirá com a montagem de seu segundo documentário em longa-metragem, "Intervalo Clandestino", cuja estréia está programada para as vésperas das eleições municipais, em outubro.
O primeiro longa do diretor, "Rocha que Voa" (2002), tratou da obra e das idéias de seu pai. Esse segundo trabalho documental "fala da política por meio do olhar dos anônimos".
"Intervalo Clandestino" foi filmado durante a campanha presidencial de 2002, mas, segundo Eryk, os "políticos quase não aparecem", já que o filme não pretende "falar da política do ponto de vista dos políticos, mas sim perguntar "O que é a política?", através do movimento da cidade".
"Quimera" (16 min.) tem estréia prevista no Rio para o próximo dia 7. Em São Paulo, o filme ainda não encontrou local de exibição.


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