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FESTIVAL
Eryk Rocha apresenta "invenção" em Cannes, que projetou Glauber
"Quimera" é "sonho-metragem" em competição
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O sobrenome Rocha não é novidade no Festival de Cannes. Mas,
pela primeira vez na história da
mostra, é o nome de Eryk, e não o
de seu pai, Glauber (1939-1981),
que assina um título em competição -o curta "Quimera", anunciado anteontem na disputa da
edição 2004 (de 12 a 23 de maio).
Nessa mesma categoria, Glauber Rocha competiu com "Di"
(1977, prêmio especial do júri),
depois de haver freqüentado a
mostra de longas com "Deus e o
Diabo na Terra do Sol" (1964),
"Terra em Transe" (1967) e "O
Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro" (1969), que lhe deu
o prêmio de melhor direção.
Questionado se "Quimera" apenas inaugura um percurso que
deve ser constante em Cannes,
Eryk Rocha diz: "É uma incógnita. Só o tempo vai dizer. Mas é
gratificante estar em Cannes, um
festival que sempre representou
espaço para o cinema autoral, de
invenção".
A invenção cinematográfica é
proposta central em "Quimera",
realizado em parceria com o artista plástico Tunga. "Interessa-me o
trânsito entre as linguagens", diz
Eryk. Aos 26 anos, o cineasta acha
que "a mistura de estilos" é a marca de sua geração.
"Sofremos o bombardeio de influências, que vão desde a própria
história do cinema (que é curta,
porém muito rica) até a televisão e
as artes plásticas, algo que me
marcou através da minha mãe [a
artista plástica e cineasta Paula
Gaitán]", afirma.
Em "Quimera", imagens de um
homem que se barbeia e de gatos
se confundem, criando uma atmosfera em que sonho e realidade
tornam-se indistinguíveis.
Por perceber "cada vez menos a
fronteira entre ficção e documentário, cinema e artes plásticas",
Eryk quis, com Tunga, "dar ao espectador a responsabilidade de
construir o filme em sua cabeça".
O resultado é um "sonho-metragem", na definição do artista plástico, ou uma "cine-instalação",
nas palavras do cineasta.
Para romper também com os limites da exibição na sala escura, o
filme deve ser exibido em galerias
e outros espaços alternativos.
Sua produção, "totalmente independente", foi financiada pela
empresa de Tunga, sem o auxílio
das leis de incentivo cultural baseadas em renúncia de Imposto
de Renda. "Acho importante testar outro modelo de produção",
diz o diretor, por telefone, de Buenos Aires.
Na capital argentina, ele acompanha uma exposição em homenagem a Glauber Rocha no Malba
(Museo de Arte Latinoamericano
de Buenos Aires) e uma retrospectiva da obra de seu pai exibida
pelo Bafici, o festival de cinema
independente da cidade.
Na volta ao Brasil, prevista para
a próxima semana, Eryk seguirá
com a montagem de seu segundo
documentário em longa-metragem, "Intervalo Clandestino", cuja estréia está programada para as
vésperas das eleições municipais,
em outubro.
O primeiro longa do diretor,
"Rocha que Voa" (2002), tratou
da obra e das idéias de seu pai. Esse segundo trabalho documental
"fala da política por meio do olhar
dos anônimos".
"Intervalo Clandestino" foi filmado durante a campanha presidencial de 2002, mas, segundo
Eryk, os "políticos quase não aparecem", já que o filme não pretende "falar da política do ponto de
vista dos políticos, mas sim perguntar "O que é a política?", através do movimento da cidade".
"Quimera" (16 min.) tem estréia
prevista no Rio para o próximo
dia 7. Em São Paulo, o filme ainda
não encontrou local de exibição.
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