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CINEMA/ESTRÉIAS
"ANTI-HERÓI AMERICANO"
Premiado em Cannes e em Sundance, longa examina as manias de quadrinista underground
Pacto com cinema traz sucesso a escritor
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Harvey Pekar é um cara de sorte: foi a sorte que levou Robert
Crumb a mudar-se para a esquina
de sua casa em Cleveland, ilustrar
algumas de suas histórias autobiográficas e fazer dele uma celebridade do underground americano do dia para a noite na década
de 60. E foi a também a sorte que
trouxe, em 2001, o casal de diretores Shari Springer Berman e Robert Pulcini à porta de sua mesma
casa em Cleveland com a proposta de rodar um filme sobre a sua
vida, vencedor de 18 prêmios
mundo afora, entre eles Cannes e
Sundance, além de uma indicação
ao Oscar de roteiro adaptado.
"Eu teria trabalhado com qualquer um àquela altura. Tinha acabado de me aposentar e precisava
do dinheiro de algum lugar. Eu teria feito um pacto com o diabo
por esse dinheiro", conta Pekar,
64, ex-arquivista de um hospital
de idosos em Cleveland, escritor
da série de HQs "American Splendor" e personagem principal do
filme de mesmo nome, que estréia
hoje no país sob o sugestivo título
"Anti-Herói Americano".
"A maioria dos americanos gosta dessa cultura do macho, do cara que briga, que possa falar sobre
como é ter estado numa guerra.
Eles querem um soldado sobre
um cavalo", critica o nosso anti-herói. "Eu fui expulso do Exército
quando era jovem. Era atrapalhado e mal conseguia passar nas inspeções ou arrumar minhas roupas. Não podiam manter alguém
como eu." Saiu em 1957 e, por um
novo "golpe de sorte", ficou de fora da Guerra do Vietnã, que estouraria oito anos depois.
Desde sua casa em... Cleveland
-"Hollywood não me oferece
nada que eu já não tenha aqui"-,
Pekar falou à Folha sobre o filme.
Folha - Você diz que fez "Anti-Herói Americano" para garantir o futuro de sua família. Ajudou?
Harvey Pekar - Sim, ajudou. Separei uma boa parte para a faculdade da minha filha. Fui chamado
para uns trabalhos para a revista
"Entertainment Weekly", escrevi
artigos para jornais, consegui um
contrato para lançar quatro novos
álbuns e também estou sendo
chamado para palestras em diferentes faculdades. Isso é muito dinheiro para os meus padrões. Falo por uma hora e volto para casa
com alguns mil dólares a mais.
Folha - Quão diferente é o sucesso agora em comparação com o que
teve no auge do underground?
Pekar - É uma escala muito
maior agora. Mesmo na minha
própria cidade, as pessoas passavam por mim e não diziam nada.
Agora elas me vêem e dizem "oi",
que viram o filme e gostaram. Essa é a última prova do sucesso para a maioria dos americanos: estar
num filme. Pelo menos você tem a
sua foto impressa nos jornais.
Folha - Seus quadrinhos são essencialmente autobiográficos. Como se sentiu sendo dissecado por
um terceiro em um filme?
Pekar - Tive sorte de ter encontrado pessoas criativas. Acabou se
tornando um filme inovador,
com uma qualidade pós-moderna de misturar gêneros e personagens. Essas coisas são importantes, e as pessoas não escreveram
muito sobre isso ainda. É que a
maioria dos críticos é realmente
estúpida. Não me refiro a você (risos), mas eles não são muito brilhantes aqui nos Estados Unidos.
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