São Paulo, domingo, 23 de abril de 2006

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CRÍTICA

Silvio Santos e os ídolos de antanho

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

Entra logo depois de "Ídolos", o programa, e o contraste é curioso. "Rei Majestade" traz de volta para a TV cantores e cantoras que já tiveram seu momento de glória e estão em relativa hibernação.
O público decide qual deles merece participar de um CD. Enquanto isso, em "Ídolos" procuram-se novas vozes e caras.
Silvio Santos não dá ponto sem nó -é evidente que há uma estratégia por trás disso, só não se sabe qual poderia ser. Por que estrear quase que ao mesmo tempo dois programas em torno do universo da música e da idéia de sucesso de massa?
Qualquer especulação que se faça em termos da lógica de programação do SBT -leia-se, de Silvio Santos- é um negócio arriscado. Errática e sujeita a mudanças de horário de última hora, cancelamento de programas sem o menor aviso, a grade da emissora é um mistério.
O que parece é que se quer garantir, numa mesma noite, o público mais jovem e novidadeiro e a sua audiência cativa, mais velha e menos exigente. É como se, ao mesmo tempo em que aposta numa produção mais cuidada e mais cara, Silvio Santos tivesse a nostalgia do precário.
De qualquer maneira, em termos de antropologia musical, "Rei Majestade" é divertido. Desfilam lá homens e mulheres (bem) acima dos 40 anos, apresentam novamente seus hits -com playback assumido- e voltam para, desta vez, enfrentar uma música de "hoje" (embora esse "hoje" inclua "As Rosas Não Falam" e "Vem Quente que Eu Estou Fervendo", por exemplo).
Alguns já velhinhos, passados dos 80, outros enfrentando com maior ou menor galhardia a meia-idade, os artistas também são flagrados em seu cotidiano de pais e mães, nas suas casas mais ou menos modestas, na memória de seu sucesso e no presente pouco glamouroso.
Visto na seqüência de "Ídolos", soa como uma advertência ao que pode ocorrer com o futuro daqueles aspirantes ao estrelato.
O auditório vibra, é claro, com as reminiscências da era do rádio, da jovem guarda, do brega de todos os tempos.
As mini-entrevistas conduzidas por Silvio Santos dão conta de como esses "reis" e "rainhas" do passado se mantêm nos palcos anos, às vezes décadas, depois de arrefecido o pico de popularidade. Com aquele sadismo que lhe é característico, Silvio Santos tripudia em cima da idade, do esquecimento, da humildade da vida dos participantes.
A tal da "majestade" (o título do programa é uma alusão ao dito popular "quem já foi rei, não perde a majestade") só transparece por vezes, numa voz surpreendentemente firme em um octogenário, num carisma que reaparece uma vez em cima do palco, numa canção injustamente esquecida.
Um mundo quase antípoda ao dos "ídolos" ansiosos, chorosos e espalhafatosos de uma hora antes.


@ - biabramo.tv@uol.com.br


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