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CRÍTICA
Silvio Santos e os ídolos de antanho
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Entra logo depois de "Ídolos", o programa, e o contraste é curioso. "Rei Majestade"
traz de volta para a TV cantores e
cantoras que já tiveram seu momento de glória e estão em relativa hibernação.
O público decide qual deles
merece participar de um CD. Enquanto isso, em "Ídolos" procuram-se novas vozes e caras.
Silvio Santos não dá ponto sem
nó -é evidente que há uma estratégia por trás disso, só não se
sabe qual poderia ser. Por que estrear quase que ao mesmo tempo
dois programas em torno do universo da música e da idéia de sucesso de massa?
Qualquer especulação que se
faça em termos da lógica de programação do SBT -leia-se, de
Silvio Santos- é um negócio arriscado. Errática e sujeita a mudanças de horário de última hora, cancelamento de programas
sem o menor aviso, a grade da
emissora é um mistério.
O que parece é que se quer garantir, numa mesma noite, o público mais jovem e novidadeiro e
a sua audiência cativa, mais velha
e menos exigente. É como se, ao
mesmo tempo em que aposta
numa produção mais cuidada e
mais cara, Silvio Santos tivesse a
nostalgia do precário.
De qualquer maneira, em termos de antropologia musical,
"Rei Majestade" é divertido. Desfilam lá homens e mulheres
(bem) acima dos 40 anos, apresentam novamente seus hits
-com playback assumido- e
voltam para, desta vez, enfrentar
uma música de "hoje" (embora
esse "hoje" inclua "As Rosas Não
Falam" e "Vem Quente que Eu
Estou Fervendo", por exemplo).
Alguns já velhinhos, passados
dos 80, outros enfrentando com
maior ou menor galhardia a
meia-idade, os artistas também
são flagrados em seu cotidiano
de pais e mães, nas suas casas
mais ou menos modestas, na memória de seu sucesso e no presente pouco glamouroso.
Visto na seqüência de "Ídolos",
soa como uma advertência ao
que pode ocorrer com o futuro
daqueles aspirantes ao estrelato.
O auditório vibra, é claro, com
as reminiscências da era do rádio, da jovem guarda, do brega
de todos os tempos.
As mini-entrevistas conduzidas por Silvio Santos dão conta
de como esses "reis" e "rainhas"
do passado se mantêm nos palcos anos, às vezes décadas, depois de arrefecido o pico de popularidade. Com aquele sadismo
que lhe é característico, Silvio
Santos tripudia em cima da idade, do esquecimento, da humildade da vida dos participantes.
A tal da "majestade" (o título
do programa é uma alusão ao dito popular "quem já foi rei, não
perde a majestade") só transparece por vezes, numa voz surpreendentemente firme em um
octogenário, num carisma que
reaparece uma vez em cima do
palco, numa canção injustamente esquecida.
Um mundo quase antípoda ao
dos "ídolos" ansiosos, chorosos e
espalhafatosos de uma hora antes.
@ - biabramo.tv@uol.com.br
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