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Crítica
Jovens atrizes dão vida e graça a roteiro engessado
ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL
Há uma sina a perseguir
os filmes brasileiros
que vão à periferia para, de lá, extrair um olhar humanizado: a transformação dos
personagens em uma soma de
histórias. É como se, em cada
um deles, fosse possível colocar
todos os dramas, sonhos e experiências que, numa pesquisa
de campo, surgem diluídos em
mil pessoas. Pois as protagonistas de "Sonhos Roubados" são
esse apanhado de vivências que
o livro de Eliane Trindade capturou e o filme de Sandra Werneck condensou.
Melancólicas e alegres, ambiciosas e simplórias, mulheres e
meninas, Jéssica (Nanda Costa), Daiane (Amanda Diniz) e
Sabrina (Kika Farias) nos são
apresentadas, uma a uma, a
partir do dado mais comum de
suas rotinas. Uma tem de cuidar da filha pequena; outra apaga, numa casa com um quê de
lugar estranho, as velinhas de
14 anos; a terceira se desdobra
para servir os clientes do bar do
"seu China".
Feitas as apresentações, a diretora, que havia experimentado o universo juvenil no documentário "Meninas" (2006),
enquadra as três ao mesmo
tempo. Define assim a amizade
entre elas como fio condutor do
roteiro. "Sonhos Roubados" seguirá essa estrutura até o final.
Se a opção narrativa é duvidosa, o mesmo não se pode dizer da escolha e do empenho
das três garotas. As atrizes encarnam à perfeição a leveza inconsequente da juventude, o
peso dos sonhos que elas veem
escorrer por entre os dedos.
Estranhamente, mais do que
às personagens em si, é a Nanda, Amanda e Kika que nos vinculamos. Até mesmo ao dizer
frases que parecem muito mais
diagnóstico social do que diálogo real entre garotas-como "O
que adianta eu ter 17 anos se eu
não posso nem ir "pro" baile?"
ou "Vou querer uma festa de
quinze anos cheia de arranjo de
flores que nem eu vi na revista"- elas se mostram naturais.
Engraçadas e frágeis, elas dão
vida ao roteiro engessado pela
ânsia de abarcar uma realidade
complexa, difusa. Werneck, por
medo de julgar as personagens,
parece ter evitado encará-las
de frente. Mas, olhando-as de
viés, conseguiu fazer com que o
filme fosse, a um só tempo, leve
em seus dramas, esperançoso
em seu desalento.
SONHOS ROUBADOS
Diretor: Sandra Werneck
Onde: nos cines Bombril, Extra Anchieta Cinemark e circuito
Classificação: 16 anos
Avaliação: bom
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