|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Werneck filma garotas de periferia
Baseado em livro de Eliane Trindade, "Sonhos Roubados", de Sandra Werneck, mostra a vida de três amigas no Rio
Segundo diretora, universo pobre feminino, com questões como gravidez e prostituição, ainda é pouco tratado no cinema brasileiro
FERNANDA EZABELLA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao comparar filmes com filhos, Sandra Werneck diz que
"Sonhos Roubados" é como
aquele que demanda mais cuidados. E, assistindo na tela às
histórias das três amigas adolescentes na periferia carioca,
carentes de família e com uma
vida toda desestruturada, dá
para entender melhor o sentimento maternal da diretora.
"Foi o filme mais difícil de levantar recursos e eu tinha que
prestar muita atenção para não
cair no vulgar", diz Sandra, que
também é produtora e codistribuidora de "Sonhos Roubados", premiado no Festival do
Rio 2009 como melhor filme
pelo júri popular e melhor atriz
para Nanda Costa.
Jéssica (Nanda Costa), Daiane (Amanda Diniz) e Sabrina
(Kika Farias) são estudantes e
moram em comunidade do Rio,
onde driblam com humor problemas como falta de dinheiro e
emprego, gravidez precoce, tráfico de drogas etc. A prostituição surge como uma saída, embora elas a vejam apenas como
uma atividade eventual.
"O cinema brasileiro sempre
falou dos meninos, como em
"Cidade dos Homens", "Cidade
de Deus". As meninas, quando
aparecem, são sempre como
coadjuvantes amorosas, você
nunca sabe qual é o universo
delas", diz Sandra, que, como
documentarista, já havia mergulhado no tema nos filmes
"Damas da Noite" e "Meninas".
"Existe uma população enorme de jovens que vão ser o futuro do país e a gente tem de olhar
para eles [...] Acho que é um lado meu maternal, de mulher,
de olhar para os jovens."
Foi fazendo "Meninas"
(2006), que a diretora descobriu o livro que inspirou "Sonhos Roubados", chamado "As
Meninas da Esquina", da jornalista Eliane Trindade, da Folha.
Livro
O filme ficcionaliza e condensa a vida real de seis adolescentes que registraram, em textos ou gravadores, detalhes de
suas rotinas para o projeto da
jornalista. O livro reúne os depoimentos em formato de diários. Bastante espontâneos, os
textos supreendem pelo tratamento dado à questão da exploração sexual.
O texto investiga meninas de
lugares diferentes, do Norte,
Nordeste e Sudeste. Em ambos,
no entanto, é possível ver a importância dos laços de amizade
que unem as protagonistas do
filme e que foram fundamentais para o trabalho de Eliane.
"Essas meninas não criam
vínculos facilmente, mas,
quando criam, são muito fortes", diz a jornalista. "Muitas
pessoas diziam que elas não levariam os diários até o final.
Uma chegou a vender o gravador. Mas, uma vez que se sentiam respeitadas, ouvidas, nunca falharam comigo."
Texto Anterior: Foco: Pelé diz que seu retrato feito por Andy Warhol é "orgulho para brasileiros" Próximo Texto: Crítica: Jovens atrizes dão vida e graça a roteiro engessado Índice
|