São Paulo, sexta-feira, 23 de abril de 2010

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Werneck filma garotas de periferia

Baseado em livro de Eliane Trindade, "Sonhos Roubados", de Sandra Werneck, mostra a vida de três amigas no Rio

Segundo diretora, universo pobre feminino, com questões como gravidez e prostituição, ainda é pouco tratado no cinema brasileiro


FERNANDA EZABELLA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao comparar filmes com filhos, Sandra Werneck diz que "Sonhos Roubados" é como aquele que demanda mais cuidados. E, assistindo na tela às histórias das três amigas adolescentes na periferia carioca, carentes de família e com uma vida toda desestruturada, dá para entender melhor o sentimento maternal da diretora.
"Foi o filme mais difícil de levantar recursos e eu tinha que prestar muita atenção para não cair no vulgar", diz Sandra, que também é produtora e codistribuidora de "Sonhos Roubados", premiado no Festival do Rio 2009 como melhor filme pelo júri popular e melhor atriz para Nanda Costa.
Jéssica (Nanda Costa), Daiane (Amanda Diniz) e Sabrina (Kika Farias) são estudantes e moram em comunidade do Rio, onde driblam com humor problemas como falta de dinheiro e emprego, gravidez precoce, tráfico de drogas etc. A prostituição surge como uma saída, embora elas a vejam apenas como uma atividade eventual.
"O cinema brasileiro sempre falou dos meninos, como em "Cidade dos Homens", "Cidade de Deus". As meninas, quando aparecem, são sempre como coadjuvantes amorosas, você nunca sabe qual é o universo delas", diz Sandra, que, como documentarista, já havia mergulhado no tema nos filmes "Damas da Noite" e "Meninas".
"Existe uma população enorme de jovens que vão ser o futuro do país e a gente tem de olhar para eles [...] Acho que é um lado meu maternal, de mulher, de olhar para os jovens."
Foi fazendo "Meninas" (2006), que a diretora descobriu o livro que inspirou "Sonhos Roubados", chamado "As Meninas da Esquina", da jornalista Eliane Trindade, da Folha.

Livro
O filme ficcionaliza e condensa a vida real de seis adolescentes que registraram, em textos ou gravadores, detalhes de suas rotinas para o projeto da jornalista. O livro reúne os depoimentos em formato de diários. Bastante espontâneos, os textos supreendem pelo tratamento dado à questão da exploração sexual.
O texto investiga meninas de lugares diferentes, do Norte, Nordeste e Sudeste. Em ambos, no entanto, é possível ver a importância dos laços de amizade que unem as protagonistas do filme e que foram fundamentais para o trabalho de Eliane.
"Essas meninas não criam vínculos facilmente, mas, quando criam, são muito fortes", diz a jornalista. "Muitas pessoas diziam que elas não levariam os diários até o final. Uma chegou a vender o gravador. Mas, uma vez que se sentiam respeitadas, ouvidas, nunca falharam comigo."


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