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NETVOX
Salvando a Web
MARIA ERCILIA
do Universo Online
A Internet é um meio muito
volátil. Páginas aparecem e
desaparecem, links se alteram
caducam, mensagens vão e
vêm sem que ninguém se preocupe em arquivá-las. A própria
facilidade para tirar e pôr informação aumenta o pouco-caso com a memória da rede. Ninguém dá conta de atualizar o emaranhado de hipertexto que se forma, com links
quebrados em todas as pontas.
O projeto Internet Archive
(http://www.archive.org) tenta fotografar esse rodamoinho de informação em movimento. Seu
fundador, Brewster Kahle, tem
a doida ambição de salvar toda a Internet.
Para Kahle, trata-se de uma
missão possível e até razoável.
A Internet não é tão extensa
quanto se supõe, afirma ele.
Em texto publicado no final
do ano passado na "Scientific
American", Kahle afirmava
que a Web, então estimada em
50 milhões de páginas, não
passava de 1,5 terabytes (ou
milhões de megabytes).
Para comparar: a Biblioteca
do Congresso norte-americano
acumula o equivalente a 20 terabytes de dados. Kahle estima
a vida média de uma página
de Web em 75 dias.
É muito fácil aumentar esse
bolo. Conservá-lo de forma inteligível já é outra história. É
como tentar capturar o vôo de
uma borboleta -dificílimo e
provavelmente inútil.
O gosto de Kahle por indexação não é de hoje. Quem usa a
Internet há alguns anos lembra do WAIS (Wide Area Information Servers), criado por
ele. Era o único instrumento de
busca disponível na rede. O Internet Archive é uma idéia
meio quixotesca -é complicado recolher
de forma centralizada
material tão
heterogêneo e
produzido
por milhares
de fontes.
Uma alternativa seria
reproduzir
bases de dados que são
mantidas por
empresas e
criar uma estrutura para
que sites mais
informais
possam ser
também arquivados.
Esse esforço colossal lembra o
abortado projeto Xanadu
(http://www.xanadu.com.au/the.project), um dos grandes fracassos
da história da informática.
Ted Nelson, criador da palavra
hipertexto, consumiu 30 anos e
uma quantidade de dinheiro
no que seria uma biblioteca
eletrônica mundial, com uma
sofisticada indexação e um sistema de direitos autorais.
A visão de Nelson era grandiosa e antecipou o que a Web
é hoje, mas falhou. Nelson quer
migrar os restos de Xanadu
para a Web, embora a considere imperfeita. "Ver a Web é
descobrir que tenho um filho
crescido -e que ele é um delinquente", observou.
Nelson afirmou certa
vez que a visão que o influenciou na
construção
de Xanadu
foi um rodamoinho de
água que viu
num quadro,
e que desde
então sonha
interromper
o fluxo natural de esquecimento e
perda.
Alguns de
seus ex-discípulos levaram a metáfora tão
ao pé da letra que hoje estão
metidos na ainda mais mirabolante criogenia -congelam
pessoas mortas, na esperança
de que a ciência as ressuscite.
Se Nelson sonhou com o hipertexto três décadas antes da
Web, Vannevar Bush antecipou o próprio Nelson. Em 45,
escreveu um texto histórico,
"As We May Think" (http://www.atlantic.com/), em que afirmava: "O homem construiu uma
civilização tão complexa que
precisa mecanizar mais completamente seus registros".
Nesse texto, Bush propõe um
aparelho imaginário, o memex, com características de hipertexto e indexação automática. Uma dispositivo de extensão da memória, baseado em
microfilme. Coincidentemente,
Bush foi diretor da ARPA,
agência do governo norte-americano que lançaria a pedra
fundamental da Internet.
Antes ainda de Bush, em 38,
H.G. Wells formulou o conceito
do World Brain, ou cérebro
mundial. "Uma Enciclopédia
Mundial já não se apresenta
como uma fila de livros impressos... (...) Essa organização
enciclopédica pode ter a forma
de uma rede", escreveu.
A Internet é mais ou menos a
concretização dessas fantasias,
de abarcar todo o conhecimento do mundo numa espécie de
modelo ampliado do cérebro.
Tem as principais características dessas visões: hipertexto,
acessibilidade, ubiquidade.
Mas tem um aspecto que ninguém previu ou desejou: como
a mente humana, é capaz de
esquecer. Talvez seja melhor
deixá-la assim.
Você acha que vale a pena arquivar a
Internet? Escreva para netvox@uol.com.br
BARRACO NA WEB
Bianca's Smut Shack (http://www.bianca.com) é um dos sites mais antigos da Web -tem freguesia certa e uma aura "cool" que só crescem com o tempo.
É um bate-papo de sexo, mas se distingue dos outros pela malícia e humor.
Agora, com certeza sua popularidade vai aumentar: a Radio Shack, rede de lojas de eletrônicos, processa Bianca pelo uso da palavra "shack" (barraco).
O absurdo é total, e o processo deve fracassar -enquanto isso, acompanhe a campanha contra a Radio Shack no barraco de Bianca.
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