São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 2000


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Biografia de ACM é próxima empreitada após "Corações Sujos"

DA SUCURSAL DO RIO

No jornalismo, descobertas laterais da última reportagem às vezes viram o ponto de partida para novos mergulhos investigativos. É assim a vida de repórter.
Mal comparando, foi o que aconteceu com Fernando Morais. Ao vasculhar a vida do magnata das comunicações Assis Chateaubriand para o livro ""Chatô", ele ouviu pela primeira vez referências à Shindô Remei.
""Foi uma ex-namorada de Chatô que me falou", conta Morais. ""Ela era filha de um ex-toko-tai, um matador, a quem Chateaubriand, aparentemente, teria ajudado a sair da cadeia."
O escritor guardou a pauta, a idéia a desenvolver. Há quatro anos, decidiu incluí-la num livro sobre personagens obscuros do século. Pouco depois, a trajetória da Shindô se impôs ao resto.
""O trabalho que eu faço não é muito diferente do que é feito na redação de um jornal. O que conta a meu favor é o tempo para pesquisar e escrever, que é maior."
Morais leu todo o processo sobre a Shindô no Tribunal de Justiça de São Paulo, visitou coleções de jornais e pesquisou os arquivos do Deops (Departamento de Ordem Política e Social), no Arquivo Público do Estado. ""Só aí pude passar às entrevistas com testemunhas, derrotistas e vitoristas, umas cem pessoas."
Dois pesquisadores trabalham sob sua orientação: em Tupã, uma das bases da Shindô, Paulo José de Oliveira e Silva; em Tóquio, Keiji Kono, um dekassegui que ele só conhece pela Internet.
Após perder a eleição em 98, quando foi o vice do candidato a governador Orestes Quércia (PMDB), Fernando Morais, ex-deputado estadual paulista, se mudou para Paris, onde vive no reduto boêmio de Saint Michel. ""No Brasil, a tentação de disputar eleição atrapalha minha vida profissional. Aqui estou salvo de cometer pecados dessa natureza."
Ele já sabe qual a empreitada seguinte a ""Corações Sujos", até segunda ordem o título do livro sobre a organização terrorista japonesa: a biografia do senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). Já acumulou 400 páginas de transcrição de depoimentos que tomou do presidente do Congresso e copiou o seu arquivo pessoal.
Se valer o retrospecto, os dois volumes a sair repetirão o sucesso dos anteriores. Desde ""Primeira Aventura na Transamazônica" (1970), livro-reportagem de estréia em co-autoria com Ricardo Gontijo e Alfredo Rizutti, Morais já foi editado em 18 países. Entre suas obras, estão ""A Ilha" (75), ""Olga" (85) e ""Chatô" (94).
O escritor acredita já ter vendido perto de 1,5 milhão de exemplares de seus relatos históricos e jornalísticos com sabor de literatura. E brinca: ""Nada que chegue às canelas das invejáveis cifras de um Paulo Coelho". (MM)


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