São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 2000


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CANNES
Jornalistas franceses foram os mais efusivos ao comemorar a Palma de Ouro dada ao longa de Lars von Trier
Imprensa européia aprova premiação

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Alguns dos principais diários europeus aplaudiram ontem a concessão da Palma de Ouro do 53º Festival Internacional de Cinema de Cannes à tragédia musical "Dancer in the Dark" (Dançarina no Escuro), do diretor dinamarquês Lars von Trier, 44. Reafirmando a tendência revelada durante o festival, os maiores elogios vieram da imprensa francesa.
O diário conservador "Le Figaro" abria em manchete na primeira página: "A Palma à audácia". A seguir, sustentava que a decisão do júri espelhou o fato de que "a competição há muito tempo não era tão aberta".
Na mesma linha, o jornal regional "Nice Matin" citava em título interno a cantora islandesa Björk, premiada como melhor atriz. "Há muito tempo não se via uma premiação tão calma e consensual", sustentava, classificando o filme de Von Trier como "uma obra-prima visionária e um melodrama sublime".
Por sua vez, o diário progressista "Libération" abria seu comentário destacando a ausência do cinema francês da lista de premiados. Para o "Libé", passando por cima das fortes críticas recebidas por "Dancer" pela imprensa internacional, "a escolha do júri coincidiu com a da crítica e do público, diferentemente do que aconteceu no ano passado quando "Rosetta" venceu "Tudo sobre Minha Mãe", de Almodóvar".
Ainda segundo o diário francês, "a premiação corta com muita clareza uma nova cartografia do cinema mundial, onde o novo centro de gravidade da Europa direciona-se para o norte. Quanto ao cinema americano, encontra-se marginalizado".
Depois de muito criticar a ausência de concorrentes da Itália no festival, a imprensa italiana elogiava ontem o resultado e também registrava a ausência da França na premiação. "Se a França esnobou o cinema italiano, o júri esnobou o cinema francês", escreveu o crítico Tullio Kezich no "Corriere della Sera", de Milão.
Já o diário romano "La Repubblica" dizia na primeira página: "Cannes premia o musical e o oriente". "É uma bela satisfação poder dizer por uma vez que venceu o melhor", defendia a crítica Irene Bignardi. "(O presidente do júri Luc) Besson conseguiu, a um só tempo, assinalar uma tendência e dar a Cannes uma Palma de Ouro popular."
Os bastidores da premiação começaram também a vir à luz nos jornais de ontem. Luc Besson reconheceu que "Dancer" o emocionou. "Não era um grande fã de "Ondas do Destino". Já este me atingiu completamente, e isso reflete o sentimento de todos."
Ou quase. O representante da Itália no júri, o cineasta Mario Martone, apressou-se a esclarecer ontem que a vitória de Von Trier "não foi um veredicto unânime". "Defendi os filmes asiáticos, de qualidade total e de nível superior a todos os outros. Falo até mesmo de filmes não premiados, como "Tabu", de Nagisa Oshima, e "Eureka", de Ayoama Shinji", assegurou Martone.
A imprensa norte-americana também não se entusiasmou tanto com o resultado do festival. A revista "Variety" ressaltou que a premiação de "Dancer in the Dark" foi previsível já que o "filme era muito popular entre os franceses e o presidente do júri, Luc Besson, era reconhecidamente seu grande fã" e que "desde 95, com a agora famosa escola Dogma, Von Trier tem sido dama de honra de Cannes".


O jornalista Amir Labaki esteve em Cannes a convite da organização do festival

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