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CANNES
Jornalistas franceses foram os mais efusivos ao comemorar a Palma de Ouro dada ao longa de Lars von Trier
Imprensa européia aprova premiação
AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
Alguns dos principais diários
europeus aplaudiram ontem a
concessão da Palma de Ouro do
53º Festival Internacional de Cinema de Cannes à tragédia musical "Dancer in the Dark" (Dançarina no Escuro), do diretor dinamarquês Lars von Trier, 44. Reafirmando a tendência revelada
durante o festival, os maiores elogios vieram da imprensa francesa.
O diário conservador "Le Figaro" abria em manchete na primeira página: "A Palma à audácia". A
seguir, sustentava que a decisão
do júri espelhou o fato de que "a
competição há muito tempo não
era tão aberta".
Na mesma linha, o jornal regional "Nice Matin" citava em título
interno a cantora islandesa Björk,
premiada como melhor atriz. "Há
muito tempo não se via uma premiação tão calma e consensual",
sustentava, classificando o filme
de Von Trier como "uma obra-prima visionária e um melodrama sublime".
Por sua vez, o diário progressista "Libération" abria seu comentário destacando a ausência do cinema francês da lista de premiados. Para o "Libé", passando por
cima das fortes críticas recebidas
por "Dancer" pela imprensa internacional, "a escolha do júri
coincidiu com a da crítica e do público, diferentemente do que
aconteceu no ano passado quando "Rosetta" venceu "Tudo sobre
Minha Mãe", de Almodóvar".
Ainda segundo o diário francês,
"a premiação corta com muita
clareza uma nova cartografia do
cinema mundial, onde o novo
centro de gravidade da Europa direciona-se para o norte. Quanto
ao cinema americano, encontra-se marginalizado".
Depois de muito criticar a ausência de concorrentes da Itália
no festival, a imprensa italiana
elogiava ontem o resultado e também registrava a ausência da
França na premiação. "Se a França esnobou o cinema italiano, o
júri esnobou o cinema francês",
escreveu o crítico Tullio Kezich
no "Corriere della Sera", de Milão.
Já o diário romano "La Repubblica" dizia na primeira página:
"Cannes premia o musical e o
oriente". "É uma bela satisfação
poder dizer por uma vez que venceu o melhor", defendia a crítica
Irene Bignardi. "(O presidente do
júri Luc) Besson conseguiu, a um
só tempo, assinalar uma tendência e dar a Cannes uma Palma de
Ouro popular."
Os bastidores da premiação começaram também a vir à luz nos
jornais de ontem. Luc Besson reconheceu que "Dancer" o emocionou. "Não era um grande fã de
"Ondas do Destino". Já este me
atingiu completamente, e isso reflete o sentimento de todos."
Ou quase. O representante da
Itália no júri, o cineasta Mario
Martone, apressou-se a esclarecer
ontem que a vitória de Von Trier
"não foi um veredicto unânime".
"Defendi os filmes asiáticos, de
qualidade total e de nível superior
a todos os outros. Falo até mesmo
de filmes não premiados, como
"Tabu", de Nagisa Oshima, e "Eureka", de Ayoama Shinji", assegurou Martone.
A imprensa norte-americana
também não se entusiasmou tanto com o resultado do festival. A
revista "Variety" ressaltou que a
premiação de "Dancer in the
Dark" foi previsível já que o "filme era muito popular entre os
franceses e o presidente do júri,
Luc Besson, era reconhecidamente seu grande fã" e que "desde 95,
com a agora famosa escola Dogma, Von Trier tem sido dama de
honra de Cannes".
O jornalista Amir Labaki esteve em Cannes a convite da organização do festival
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