ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REDAÇÃO

Fugindo do convencional na abordagem da vida e da obra de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), o diretor Paulo Thiago, 57, no documentário "Poeta de Sete Faces" -cuja primeira parte é exibida amanhã na TV Cultura- opta por dialogar com o lugar que esse escritor ocupa no imaginário de seus leitores.
Para isso, abusa de encenações e ilustrações de poemas através de músicas, coreografias e declamações de versos. "Quis construir um Drummond metafórico, às vezes chego à quase caricatura", diz o diretor lembrando as cores fortes com que o poeta é interpretado pelo ator Carlos Gregório.
"Mais que uma biografia, faço a trajetória poética de Drummond. A história de sua vida serve como pano de fundo para tratar de sua obra e da própria história do Brasil", diz o cineasta, autor também de "Policarpo Quaresma" (1998).
O documentário, que estreou nas telas de cinema na Mostra de Tiradentes (MG) em 2002 e depois participou da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, segue a ordem cronológica para colocar em paralelo a biografia e a obra do autor. A didática com que a história de vida do poeta é apresentada ajuda a entender seus momentos literários.
A infância com a família, o primeiro livro publicado, as andanças profissionais do gabinete de funcionário público para o palanque de Gustavo Capanema até a sua morte. Tudo está registrado com imagens de arquivo.
Entrelaçando o real (inclusive com entrevistas do poeta) com a fantasia e sem medo da descaracterização poética, desfilam pela tela, entre outras surpresas, a guitarra de Samuel Rosa, vocalista do Skank, tocando versos do mineiro, e as vozes de Tônia Carrero e Paulo Autran lendo textos.
A parte do pensamento sobre a obra fica com personalidades como Ferreira Gullar, Luiz Costa Lima, Benedito Nunes e Adélia Prado, esta num raro testemunho.
"Na verdade, este é um grande ensaio sobre a obra de Drummond", diz o diretor, que está terminando "O Vestido", baseado num poema do itabirano.