São Paulo, domingo, 23 de maio de 2004

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TELEVISÃO

Finais das últimas temporadas de "Friends" e "Sex and the City" chegam ao Brasil e geram clima de fim de campeonato

Fãs se preparam para término de séries

Flávio Florido/Folha Imagem
O músico Marcelo Bernardes, 30, que tem o hábito de ir a megastores para tentar "converter" desconhecidos em fãs de "Friends"


BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Amizade é um bem eterno -eternidade que dura enquanto uma das partes continua perdoando as pequenas mancadas diárias do outro. Para quem tem como "amigos" os seis jovens adultos de "Friends" ou as quatro moças de "Sex and the City", a relação é perfeita, já que eles nunca cometem falhas. São amigos belos e engraçados, que sempre estão fielmente ao seu lado (na TV).
Mas, dessa vez, esses amigos virtuais vão cometer um grave atentado à boa convivência. Eles irão sumir sem maiores explicações, já que, nos EUA, essas séries acabaram. No Brasil, os fãs abandonados de "Friends" e "Sex and the City" -cujos episódios derradeiros irão ao ar, respectivamente, nos dias 6/7 na Warner e 2/8 no Multishow- tentam se conformar com a nova vida, com amigos a menos, e planejam encontros para assistir aos desfechos.
Para alguns fãs, o clima terá mais a ver com velório. "Vai ser um momento triste para as pessoas que amam "Friends". Quero estar sozinha na minha casa, com um balde de pipocas e lenços de papel, torcendo para o Ross ficar com a Rachel", diz a designer Elaine de Oliveira, 27.
Quem pode dar uma dica de como superar essa "separação" é a estudante de história Pollyana Assumpção, 21, que fez uma espécie de exorcismo coletivo. Ela baixou o último episódio pela internet no dia seguinte à exibição nos EUA. "Fiz um encontro com amigos para assistir ao último episódio e chorar em grupo."

Contágio via DVD
À primeira vista, pode parecer exagero dizer que há tal comoção entre fãs brasileiros, uma vez que, na TV aberta, as exibições dessas duas séries não arrebataram audiências espetaculares -atualmente o SBT exibe "Friends", e a Rede 21 (UHF) traz "Sex".
Entre os fãs sem TV a cabo, o "vício" se deu por outras vias, geralmente via DVDs com temporadas completas das séries ou episódios baixados pela internet.
"Meu processo de "adição" a "Friends" começou quando aluguei as temporadas na locadora. Foi quando passei a assistir aos episódios em seqüência que comecei a curtir", diz o analista de comércio exterior Maurício Souza Fonseca, 35, que comprou todas as caixas da sitcom lançadas no Brasil (uma caixa, que possui quatro DVDs, custa R$ 100, em média), além de baixar da internet a décima temporada.
Alguns fãs não se incomodam em pagar certos micos. O músico Marcelo Bernardes, 30, por exemplo, mesmo sendo telespectador do canal Warner, resolveu comprar todas as caixas de "Friends" .
Sua paixão fez com que adquirisse um hábito peculiar. Bernardes costuma passar um bom tempo "admirando" a sessão de DVDs de lojas. Quando aparece um estranho, ele puxa conversa e faz propaganda (gratuita) da série. "Já cheguei a convencer uma senhora que não conhecia "Friends" a comprar uma caixa."
Segundo a Warner, até agora foram vendidas entre 20 e 25 mil caixas de "Friends" (somando as cinco temporadas). A Fox não divulga as vendas de "Sex". Na locadora 2001, a quarta temporada de "Friends" é o DVD mais vendido; na Blockbuster, entre os 20 DVDs mais vendidos, figuram quatro temporadas de "Friends" e duas de "Sex" (as lojas também não divulgam números).
Se entrarmos na internet, uma rápida busca mostra que o número de fãs cresce a cada dia. A lista de discussão friendsBR, por exemplo, conta com 400 membros. Já no Orkut, os números impressionam. A comunidade Friends Brasil, por exemplo, contava com 462 membros até a última quinta-feira (uma semana antes, contava com 370 membros); Sex and the City Brasil tinha 142 membros no mesmo período (na semana anterior, 45 integrantes).

Manias e festas
A rede NBC, de "Friends", já deu suas dicas de como fazer uma festa inesquecível no dia do último episódio (leia texto ao lado), que, nos EUA, foi ao ar no último dia 6 e teve cerca de 51,1 milhões de telespectadores.
A dica da estudante de publicidade Louise Duarte, 29, é fazer uma festa em que não falte comida, com "pizza, cookies e coisas que lembram a série".
Os finais desses programas são segredos apenas para quem quer curtir o gosto da surpresa, afinal não faltam sites relatando os desfechos. Esse não é problema para a jornalista Carol Pansini, 26, que planeja assistir ao final de "Sex" com uma amiga. "Já sabemos com quem Carrie vai ficar, mas nem estamos tão ansiosas. Apenas queremos analisar juntas o que essa série quis transmitir."
Situação parecida vive a também jornalista Raphaela Ximenes, 30. "Não tenho lido nada sobre o que aconteceu e estou pedindo para ninguém me contar", diz. Ela não planeja seguir o guia da NBC. "Eu e alguns amigos vamos fazer apenas uma reunião. Somos "nerd", mas nem tanto."
Como disse o jornalista Thomas Friedman no "New York Times", o fim de "Friends" é emblemático. "São os únicos amigos que [os americanos] temos, e até eles estão indo embora", escreveu em texto sobre a Guerra no Iraque.
Por aqui, a barreira do idioma e da cultura não impediram que essas duas séries alterassem a vida de fãs. Carol, por exemplo, diz que varou as madrugadas do Carnaval deste ano em casa assistindo às temporadas.
Tal identificação faz com que alguns fãs "brinquem" de "Friends". Catarina Fürst, 25, diz que tem um grupo de amigos que se parece com a turma de Ross. "Tem um café em Belo Horizonte que lembra um pouco o Central Perk, e a gente sempre fica p. da vida se pegam nosso lugar no sofazinho." O estudante de publicidade Caio Pereira, 18, aprendeu a falar inglês prestando atenção nos diálogos ácidos de "Friends", além de ter considerado o Chandler da sua turma.
Mas amigos fiéis mesmo não vão embora, como o publicitário Carlos Wainer, 31. "Sei que na semana seguinte [ao final] eles estarão ali na TV novamente. E quem gosta não se cansa de assistir a episódios antigos, como se fossem novos."


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