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LIVRO LANÇAMENTO
Che usou careca, mas era só um disfarce
HAROLDO CERAVOLO SEREZA
da Redação
O empresário uruguaio Adolfo
Mena González chega a La Paz em
busca de dados econômicos para a
Organização dos Estados Americanos. É novembro de 1966.
Em 8 de outubro de 1967, estará
magro e enfraquecido pela asma.
Será capturado pelo regime militar
boliviano e terá, depois de morto,
suas mão cortadas. A data diz
quem era, na realidade, González:
Ernesto Che Guevara.
Nascido argentino, e cubano
após a revolução de 1959, Che é a
personagem da história do século
20 que mais merece a nacionalidade de latino-americano (no século
19, o posto fica para Simón Bolívar).
Os 30 anos da morte de Che não
passarão em branco, em parte por
culpa de John Lee Anderson.
O jornalista norte-americano
passou cinco anos pesquisando a
vida do guerrilheiro. Entre outras
coisas (como a foto ao lado), obteve a informação da região onde estaria enterrado o corpo do guerrilheiro na Bolívia. Publicada no
"The New York Times", a notícia
reabriu o caso. O governo boliviano realizou buscas e achou corpos
de outros militantes. Mas o de Che
não chegou a ser encontrado.
A pesquisa de Anderson resultou
em "Che - Uma Biografia". Outras virão.
O livro de Anderson é um detalhado levantamento jornalístico
da vida do guerrilheiro. A foto do
Che empresário, entretanto, não é
reveladora do conteúdo da biografia. Nela prevalece a figura jovem e
decidida, personificada na foto
que correu o mundo (Anderson,
aliás, revela quando essa foi feita).
Admirador de Che sem ser militante, Anderson viajou pela América Latina quase inteira, conhecendo os países que Che percorreu
antes de chegar a Cuba. Também
esteve na União Soviética.
Duas experiências parecem ter
sido fundamentais na formação
política de Che.
Na Bolívia, em 1953, viu o governo pós-revolucionário ceder às
pressões dos EUA e os camponeses
só serem recebidos nos ministérios
após banhos de inseticida.
Na Guatemala, em 1953 e 54, Che
viu um regime progressista ser
derrubado após a ação da CIA, a
agência de inteligência norte-americana. Concluiu que a via democrática estava, então, obstruída.
O livro evita, a todo custo, descambar numa hagiografia, numa
santificação. Não omite os defeitos
do jovem que assinou cartas como
"Stálin 2º", pediu um jipe a Evita
Perón e sonhou com a reconciliação entre chineses e soviéticos.
Mas não é o que sobra da vida de
Che. Sobra o Che que tentou exportar a revolução e que, em alguns casos, conseguiu. O livro, por
exemplo, chega ao mercado sem
dizer que Laurent-Désiré Kabila
chegou ao poder no ex-Zaire.
Livro: Che - Uma Biografia
Autor: John Lee Anderson
Lançamento: Objetiva
Preço: R$ 49,50 (948 págs.)
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