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'Descobri sua vida de
carne e osso', diz autor
da Redação
John Lee Anderson já morou na
Colômbia, em Taiwan, Indonésia,
Libéria, Alasca, Inglaterra, Honduras. "Foram 14 ou 15 países",
diz, sem conseguir fechar a conta.
Filho de um diplomata e de uma
escritora de livros infantis, Anderson começou a carreira de jornalista somente em 1979, no Peru, escrevendo para o semanal "Lima
Times", de língua inglesa.
Trabalhou para o jornalista Jack
Anderson (que não é seu parente)
e cobriu, por exemplo, a disputa
entre Inglaterra e Argentina pelas
Malvinas. Também trabalhou para
a revista "Time".
Escreveu um livro sobre guerrilhas e, depois disso, decidiu preparar a biografia de Che.
Anderson falou à Folha, por telefone, de Granada, na Espanha,
onde vive agora.
(HCS)
Folha - Após quase mil páginas
sobre Che, como está a imagem
dele para você: melhor ou pior?
John Lee Anderson - Depois de
passar por muitas posições durante a produção do livro, minha opinião agora é muito parecida à de
quando comecei. Acredito que ele
é uma figura que afeta nossa vida
ainda hoje, dessas que só aparecem de vez em quando.
Mas não tenho ilusões normalmente associadas a Che Guevara.
Eu o vejo como o que há de mais
puro entre os homens do seu tipo.
Houve algumas surpresas sobre
sua personalidade, porque ele foi
muito mistificado. Mas descobri
qual foi sua vida de carne e osso.
Folha - É comum a comparação
de Che com Dom Quixote. Che não
é visto hoje mais como um personagem de ficção do que uma pessoa de carne e osso?
Anderson - Na consciência popular, Che é mais que uma pessoa
viva, está à beira da mitologia.
Mesmo conhecendo mais sobre
ele, entendo o processo de mistificação. Ele representa ideais descompromissados. Sei que estou falando num nível superficial, mas é
nesse nível que é entendido imediatamente. O que o fez marcante é
que ele não se curvava. Sempre ia
adiante com seus ideais, estivessem certos ou errados. Por isso ele
é admirado mesmo por quem não
concorda com sua política.
Folha - Você é comunista, socialista, liberal...
Anderson - Eu não me enquadro ideologicamente. Provavelmente, sou uma pessoa idealista,
sou atraído por outras pessoas
com ideais.
Sou mais realista, não acredito
num dogma particular, mas tenho
de dizer que, certamente, não estou na direita. Sou um humanista,
estou na esquerda, mas não gosto
de dogmas.
Folha - Che não acreditava nas
forças de Laurence Kabila. Kabila
chegou ao poder na República Democrática do Congo. Quem estava
certo, Che ou Kabila?
Anderson - É preciso lembrar
que Kabila tinha 20 e poucos anos,
um jovem irresponsável. É ainda
cedo para dizer o que Kabila
aprendeu nestes 30 anos. Mas Che
escreveu no seu diário que Kabila,
apesar de todos os defeitos, era
uma o único com capacidade para
liderar as massas. De certa forma,
acertou.
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