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POLÊMICA
Jorge Antunes afirma que centro cultural censurou obras
Maestro obtém liminar e garante inscrição em projeto do CCBB
WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília
O compositor e maestro Jorge
Antunes, professor da Universidade de Brasília, obteve na última
sexta-feira liminar que garantiu a
inscrição dele e a apresentação de
uma série de microcanções escritas por ele para o projeto "Estréias
Brasileiras", do Centro Cultural
Banco do Brasil (CCBB), no Rio.
Antunes afirmou à Justiça que
sofreu "censura artística" por
parte do CCBB, pois teria tido sua
obra vetada. As microcanções, intituladas "Seis Missivas BB", utilizam trechos de cartas enviadas a
ele por instituições ligadas ao Banco do Brasil nos últimos três anos
negando apoio aos seus trabalhos.
Segundo o maestro, as canções
de curta duração foram escritas
"com bastante humor e irreverência". Os títulos das seis microcanções são: "CCBB-1995 Negando Apoio às Minióperas",
"FBB-1996 Negando Apoio à
Ópera Olga", "CCBB-1996 Negando Apoio às Minióperas",
"CCBB-1996 Negando Informação dos Nomes dos Membros da
Comissão de Seleção de Projetos", "BB-1997 Negando Apoio à
Ópera Olga" e "BB-1997 Negando Apoio às Minióperas".
Todas essas cartas, de acordo
com o maestro, foram em resposta
a pedidos de apoio às suas óperas e
minióperas, em especial para "Olga", baseada na vida da líder comunista Olga Benário, mulher de
Luiz Carlos Prestes -concluída
em 94, mas ainda não encenada.
O projeto "Estréias Brasileiras"
é produzido pela empresa Crescente Produções Artísticas Ltda,
com apoio do CCBB, e busca novas músicas eruditas para serem
apresentadas em teatros e posteriormente gravadas em CD.
No dia 15 de fevereiro, a diretora
da Crescente, Maria Júlia Vieira
Pinheiro, e o diretor musical Guilherme Bauer contrataram Jorge
Antunes para produzir uma obra
com seis minutos de duração para
canto e piano, por R$ 250 de cachê.
O compromisso era exibir a música no dia 8 de julho.
De acordo com o maestro, ao tomar conhecimento do conteúdo
das microcanções, a direção do
Centro Cultural informou à Crescente que não permitiria sua apresentação. Antunes afirma que a razão para o veto foi o "prejuízo à
imagem do centro, que passaria a
correr o risco de não mais receber
verbas do Banco do Brasil".
"Isso é uma posição infantil do
centro, pois eles não querem ver
divulgados os textos das cartas que
eles mesmos escreveram", disse
Antunes. A obra deveria ser interpretada pelo barítono Ignácio de
Nono, que se recusou a apresentá-la. Segundo o maestro,
"apoiando a posição do CCBB".
A decisão de recorrer à Justiça,
segundo disse o maestro, deve-se
"ao cansaço de tantas respostas
negativas e à desconfiança de preconceito estético e de perseguição
ideológica".
No ano passado, Antunes tentou, sem sucesso, fazer com que o
Centro Cultural do Banco do Brasil divulgasse o nome das pessoas
que fazem a seleção de projetos
culturais. Ele pensou em recorrer à
Justiça, mas desistiu.
Agora, no pedido à Justiça, Antunes requereu -e obteve com a
liminar- sua inscrição no projeto
e a apresentação da peça na data
marcada. Para isso, baseou-se no
artigo 220 da Constituição de 88,
que estabelece a livre expressão intelectual, artística, científica e de
comunicação "independentemente de censura ou licença".
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