São Paulo, segunda, 23 de junho de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

POLÊMICA
Jorge Antunes afirma que centro cultural censurou obras
Maestro obtém liminar e garante inscrição em projeto do CCBB

WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília

O compositor e maestro Jorge Antunes, professor da Universidade de Brasília, obteve na última sexta-feira liminar que garantiu a inscrição dele e a apresentação de uma série de microcanções escritas por ele para o projeto "Estréias Brasileiras", do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio.
Antunes afirmou à Justiça que sofreu "censura artística" por parte do CCBB, pois teria tido sua obra vetada. As microcanções, intituladas "Seis Missivas BB", utilizam trechos de cartas enviadas a ele por instituições ligadas ao Banco do Brasil nos últimos três anos negando apoio aos seus trabalhos.
Segundo o maestro, as canções de curta duração foram escritas "com bastante humor e irreverência". Os títulos das seis microcanções são: "CCBB-1995 Negando Apoio às Minióperas", "FBB-1996 Negando Apoio à Ópera Olga", "CCBB-1996 Negando Apoio às Minióperas", "CCBB-1996 Negando Informação dos Nomes dos Membros da Comissão de Seleção de Projetos", "BB-1997 Negando Apoio à Ópera Olga" e "BB-1997 Negando Apoio às Minióperas".
Todas essas cartas, de acordo com o maestro, foram em resposta a pedidos de apoio às suas óperas e minióperas, em especial para "Olga", baseada na vida da líder comunista Olga Benário, mulher de Luiz Carlos Prestes -concluída em 94, mas ainda não encenada.
O projeto "Estréias Brasileiras" é produzido pela empresa Crescente Produções Artísticas Ltda, com apoio do CCBB, e busca novas músicas eruditas para serem apresentadas em teatros e posteriormente gravadas em CD.
No dia 15 de fevereiro, a diretora da Crescente, Maria Júlia Vieira Pinheiro, e o diretor musical Guilherme Bauer contrataram Jorge Antunes para produzir uma obra com seis minutos de duração para canto e piano, por R$ 250 de cachê. O compromisso era exibir a música no dia 8 de julho.
De acordo com o maestro, ao tomar conhecimento do conteúdo das microcanções, a direção do Centro Cultural informou à Crescente que não permitiria sua apresentação. Antunes afirma que a razão para o veto foi o "prejuízo à imagem do centro, que passaria a correr o risco de não mais receber verbas do Banco do Brasil".
"Isso é uma posição infantil do centro, pois eles não querem ver divulgados os textos das cartas que eles mesmos escreveram", disse Antunes. A obra deveria ser interpretada pelo barítono Ignácio de Nono, que se recusou a apresentá-la. Segundo o maestro, "apoiando a posição do CCBB".
A decisão de recorrer à Justiça, segundo disse o maestro, deve-se "ao cansaço de tantas respostas negativas e à desconfiança de preconceito estético e de perseguição ideológica".
No ano passado, Antunes tentou, sem sucesso, fazer com que o Centro Cultural do Banco do Brasil divulgasse o nome das pessoas que fazem a seleção de projetos culturais. Ele pensou em recorrer à Justiça, mas desistiu.
Agora, no pedido à Justiça, Antunes requereu -e obteve com a liminar- sua inscrição no projeto e a apresentação da peça na data marcada. Para isso, baseou-se no artigo 220 da Constituição de 88, que estabelece a livre expressão intelectual, artística, científica e de comunicação "independentemente de censura ou licença".



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.