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TEATRO
"Morte e Vida Severina", de João Cabral de Melo Neto, tem montagem interativa em Portugal com grupo Ensaio Aberto
Peça hasteia bandeira do MST em Lisboa
ESPECIAL PARA A FOLHA
Um dos mais famosos "landmarks" de Lisboa, o Castelo de
São Jorge, foi ocupado esta semana por brasileiros. Hoje à noite, na
capital portuguesa, a companhia
teatral carioca Ensaio Aberto leva
uma montagem de "Morte e Vida
Severina", adaptação de poema
de João Cabral de Melo Neto
(1920 -1999), ainda mais carregada nas tintas sociais.
A montagem foi considerada,
algo poeticamente, pelo jornal
português "Diário de Notícias"
como "uma história de um percurso sem destino nem limites
(...) uma história de campos castanhos e secos, que aqui se projeta
sobre as águas azuis do Tejo".
A trajetória do lavrador que
emigra do sertão pernambucano
para o litoral, para o delta generoso dos rios que no interior deixado tudo lhe negaram, é razoavelmente conhecida em Portugal, especialmente pelas músicas de
Chico Buarque.
O diretor Luiz Fernando Lobo
optou, na montagem, por utilizar
as várias dependências do castelo,
obrigando o público a seguir os
personagens.
Ao "Diário de Notícias" explicou querer, com isso, que o espectador tome "contínuas decisões."
O elemento político-brechtiano
aí sugerido é levado ao paroxismo
com o hasteamento de uma bandeira do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra)
durante o espetáculo.
O problema fundiário brasileiro
vem sendo lembrado seguidamente em Portugal. Além de
"Morte e Vida Severina", o fotógrafo Sebastião Salgado ocupa,
com alarido, o espaço expositivo
do Parque das Nações (antiga Expo 98), em Lisboa.
Embora mostre as imagens da
sua série mundial "Êxodos", Salgado é referência no país por
"Terra", livro em prol do MST
que contou com textos do Nobel
português José Saramago.
Além disso, integrantes do PT e
do MST, que mantém núcleos oficiais em Portugal, também vêm se
manifestando este ano.
Por ocasião dos 500 anos do
"achamento" do Brasil, no último
22 de abril, cerca de 15 filiados organizaram uma manifestação durante show de Netinho. Aproveitaram para seguir o trio elétrico
do cantor portando faixas que
mencionavam "o menor salário
mínimo da América Latina" e
"discriminação econômica".
As músicas de Chico Buarque
compostas para a peça são executadas na montagem portuguesa
por quatro instrumentistas (em
violas caipiras, violão, violoncelo,
baixo acústico, cítara e acordeão).
A companhia teatral carioca Ensaio Aberto vem de uma itinerância por Portugal, onde já montou
"Companheiros", exibida em
praças públicas e vista, segundo o
diretor, por cerca de 30 mil pessoas.
(PAULO VIEIRA)
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