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São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 2003

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"JOÃO WALTER TOSCANO"

Arquiteto constituiu obra de respeito ainda jovem, mas que é pouco documentada até hoje

"Utópica normalidade" de Toscano ganha reflexão

GUILHERME WISNIK
CRÍTICO DA FOLHA

O livro "João Walter Toscano", sobre a obra do arquiteto, representa uma grande contribuição ao estudo e ao debate crítico da arquitetura brasileira.
Bem documentado, com fotos e desenhos, além de uma seleção de projetos representativa, o livro se destaca pelo seu compêndio crítico: contém uma apresentação do "mestre" Fernando Távora, um balanço de Alexandre Alves Costa e análises de Lourival Gomes Machado e Luís Saia. Estas últimas, da década de 1960, dão substância teórica e medida histórica à qualidade da obra inicial do arquiteto.
Como muitos em sua geração, Toscano constituiu ainda jovem uma obra de respeito. Característica que descreve tanto a natureza dos programas abordados (campi universitários, clubes) quanto a segurança das soluções. Reside aí a importância do livro, pois, devido à escassez de material publicado na área, a relevante produção de arquitetos como Toscano é ainda pouco divulgada.
O livro permite compreender, ainda, o sentido de coerência que perpassa a obra do arquiteto. Assim, pode-se perceber a permanência de uma busca pelo sentido clássico de estabilidade das construções, atitude que pressupõe o funcionamento do mundo segundo uma "utópica normalidade", que Alves Costa identifica à sua confiança no projeto moderno.
Tal confiança aparece nas duas primeiras fases de sua produção: a primeira (1957-1962), mais ligada à obediência aos princípios do racionalismo arquitetônico, com influências da "escola carioca" e de Mies van der Rohe, e a segunda (1964-1974), parte integrante do chamado "brutalismo paulista".
Mas seria a continuidade dessa confiança no projeto moderno hoje algo ingênuo ou ultrapassado? Eis uma questão difícil, mas que, na produção de Toscano, parece bem equacionada.
Pois foi passado o período heróico da arquitetura paulista que o arquiteto ousou mais, produzindo resultados ora duvidosos, como o edifício do Centro Empresarial do Aço (1989), ora brilhantes, como a Estação Largo 13 de Maio (1985). Mais dificilmente enquadrável em uma corrente, ou estilo, a Estação Largo 13 representa uma síntese própria.
Uma arquitetura que leu belamente tanto a elegância técnica do uso da estrutura metálica em produções estrangeiras quanto a espacialidade unificada e aberta, da tradição brasileira, fundada no uso político do concreto armado e do pórtico estrutural serial.

João Walter Toscano
   
Autor: Rosa Camargo Artigas
Editora: Unesp
Quanto: R$ 110 (186 págs.)


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