São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 2005

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MinC pretende aperfeiçoar uso da lei

DA REPORTAGEM LOCAL

Secretário de Fomento e Incentivo à Cultura do MinC, Sérgio Xavier prevê para os próximos dias a edição de um decreto que aperfeiçoe o uso da Lei Rouanet.
Ele diz que, com os critérios atuais, "passa muito projeto que não seria o dos nossos sonhos".

 

Folha - O livro "O Pão da Paz" e o concerto de aniversário de Santo André são representativos do uso que o Ministério da Cultura julga adequado para a Lei Rouanet?
Sérgio Xavier -
É difícil elegermos um ou dois projetos que representem bem a lei. Estamos buscando criar novos mecanismos que garantam alguns aspectos muito relevantes para o bom funcionamento da lei.
Hoje, avaliam-se apenas o enquadramento na lei e a adequação do orçamento. Passa muito projeto que não seria aquele dos nossos sonhos, que o ministério apontaria como ideal. Mas, como a lei permite e o orçamento está adequado, o projeto é aprovado.

Folha - O que é exatamente "o enquadramento na lei"?
Xavier -
Seguir os objetivos exigidos pela lei, como "estimular a expressão cultural, viabilizar a expressão de todas as regiões, fazer com que haja difusão em escala nacional dos bens culturais", coisas desse tipo, que, muitas vezes, são muito genéricas.
Muitas vezes os projetos, de certa maneira, atendem isso. Queremos um filtro mais objetivo.
Queremos inserir o critério da contextualização do projeto -seus impactos na área onde será implantado e as interações com outras ações já em curso e também o critério de avaliação com as políticas públicas de cultura.
Não vamos entrar no mérito artístico, estético. A liberdade de expressão vai estar sempre garantida. Mas o projeto que é feito para um público pequeno, que tem acesso limitado, porque o ingresso é muito alto, certamente não vai ser aprovado com este novo tipo de avaliação.
Havia um conceito de que o benefício da lei deve ser para o produtor. Entendemos que o beneficiário final deve ser o público.

Folha - O fato de apenas dois projetos entre 172 haverem obtido 100% de captação em SP indica esgotamento da lei?
Xavier -
É muito natural que no começo do ano poucos projetos tenham captação total. Os meses de novembro e dezembro registram cerca de 70% das captações, porque é o período em que as empresas já têm idéia do seu faturamento, do balanço. Ficam com mais segurança para aplicar recursos.
Estamos discutindo com as empresas, para que haja um planejamento mais equilibrado. No ano passado, batemos recorde de projetos apresentados, mais de 9.000, e de captação, quase R$ 480 milhões. Neste ano, em São Paulo, 197 projetos já captaram R$ 46,8 milhões.
É absolutamente natural que muitos projetos tenham dificuldade de captação no primeiro semestre. Não dá para fazer uma análise muito pontual, a partir de dois projetos. Os números nunca dizem tudo. Nem o seu número pequenininho nem o grande que eu tenho aqui [R$ 46,8 milhões].

Folha - A revisão da Lei Rouanet limitará as captações feitas pelo próprio Estado?
Xavier -
Conceitualmente, achamos que a lei deve ser voltada para o produtor independente, não deve financiar o próprio Estado.
Muitas vezes, por razões de restrição orçamentária, ela é usada [pelo Estado], para que o sistema de cultura não entre em colapso.
Quando temos um Museu de Belas Artes (RJ) desmoronando, é natural que se use o instrumento disponível, embora não desejável.


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