|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Jamil Maluf rege Rossini divertido
Montagem de "A Italiana em Argel" no Municipal de SP tem direção cênica de Hugo Possolo, do grupo Parlapatões
Em entrevista à Folha, maestro fala sobre particularidades do compositor italiano e planos para o teatro que dirige
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Teatro Municipal de São
Paulo apresenta hoje a primeira das cinco récitas de "A Italiana em Argel", ópera engraçadíssima de Gioacchino Rossini
(1792-1868), estreada em Veneza, em 1813, quando o compositor tinha apenas 21 anos.
A Orquestra Experimental
de Repertório estará sob a regência de Jamil Maluf, também
diretor do teatro. A direção cênica é de Hugo Possolo, do grupo Parlapatões.
A ópera conta a história acidentada de Isabela (Luisa
Francesconi), que vai a Argel,
governada por Mustafá (Stephen Bronk) para resgatar seu
noivo, Lindoro (André Vidal).
Estão também no elenco Douglas Hahn, Denise Tavares, José Gallisa e Edinéia de Oliveira.
Para o maestro Jamil Maluf,
Rossini é "delicioso de ouvir",
um compositor "para os gourmets musicais". Eis trechos de
sua entrevista.
FOLHA - "A Italiana" é simples de
ouvir. É também de produzir?
JAMIL MALUF - Rossini é delicioso de ouvir. É um compositor
para gourmets musicais. Quando entramos na linguagem dele, acabamos nos divertindo
com a inteligência e a perspicácia que ele demonstra. "A Italiana" é complicadíssima. Tínhamos feito essa ópera apenas
uma vez, com figurinos emprestados, mas sem coro e
acompanhada de piano, numa
vesperal lírica. Eu a escolhi por
ter sido uma das primeiras
obras-primas de Rossini.
FOLHA - Em que sentido?
MALUF - Os temas em Rossini
são sempre curtinhos, quase
células temáticas, mas ele faz
um trabalho brilhante na variação deles. Há, por exemplo, um
final "de estupefação" do primeiro ato, quando o enredo fica
tão complicado que ameaça dar
um curto-circuito na ópera. O
tema é trabalhado de modo
onomatopaico pelos personagens. Mais importante do que
ter 50 melodias é ter três ou
quatro que virem uma estrutura interessante.
FOLHA - Em 1992 o sr. regeu um
"Barbeiro de Sevilha", baseado numa edição crítica da partitura de
Rossini. A idéia se mantém?
MALUF - A orquestra de Rossini
é pequena, parecida com a de
Mozart. Mas se fazia "O Barbeiro" com três trombones e uma
tuba. Originariamente Rossini
usava na orquestra um único
trombone. Suas partituras sofreram interferências incríveis
nas mãos de editores. Mas hoje
podemos trabalhar com edições restauradas pela Fundação Rossini, da Itália. Na "Italiana" estamos trabalhando
com a revisão do Azio Corghi.
FOLHA - Falando em Mozart, "A
Italiana em Argel" é uma espécie de
"Rapto do Serralho", às inversas: a
noiva vai buscar o noivo raptado por
muçulmanos, quando em Mozart
era o rapaz que resgatava a moça...
MALUF - É a chamada "ópera de
resgate". O que reflete também
a fascinação que existia na Europa pelo Oriente islâmico.
FOLHA - Quais as dificuldades de
cantar "A Italiana"?
MALUF - O papel de Isabela é
um dos mais difíceis de contralto belcantista. Eu demorei para
encenar porque é difícil elencar. Luisa Francesconi é uma
grande Isabela. Ela faz a verdadeira coloratura, e não o glissando entre as notas, como se
vê com freqüência. Ela tem a
técnica e a predisposição física
do aparelho fonador.
FOLHA - Por que, das três óperas
montadas nesse ano, essa é a primeira que o sr. rege?
MALUF - O ano tem sido bastante agitado. Há o anexo do
teatro, há a reforma do palco
(em 10 de agosto serão abertos
os envelopes para a escolha da
empreiteira), o que fechará o
teatro no segundo semestre, e
há a central de produção, que
será inaugurada até dezembro,
com seis galpões e arquivos para pesquisa, na zona norte. Daqui a quatro anos o Municipal
chegará ao seu centenário. Vamos dotá-lo dos procedimentos mais modernos de cenotécnica, acústica e iluminação.
FOLHA - No segundo semestre não
haverá, então, montagem lírica?
MALUF - Já fechamos a programação, mas apenas com música
sinfônica, de câmera e balé.
Quanto às óperas do ano que
vem, o objetivo é aumentar o
número de produções por meio
de permutas.
FOLHA - Como assim?
MALUF - Acabou de acontecer
no Chile a terceira reunião dos
teatros latino-americanos de
ópera. Eles e nós nos dispomos
a permutar produções. Ópera é
um empreendimento caro. O
Municipal foi feito para ser um
teatro de ópera. Completamos
a vocação sinfônica da Sala São
Paulo. A idéia é termos um teatro de repertório, com permutas, co-produções e central de
produção.
A ITALIANA EM ARGEL
Quando: hoje, dias 25, 27 e 29, às
20h30, e 1º de julho, às 17h
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, centro, tel.
0/ xx/11/3222-8698)
Quanto: R$ 20 a R$ 40 (ou R$ 10 a R$
20, no dia 25)
Texto Anterior: Crítica/ensaios: Naves alcança "espessura delicada" Próximo Texto: Saiba mais: Compositor marca fase de transição Índice
|