São Paulo, sábado, 23 de junho de 2007

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Jamil Maluf rege Rossini divertido

Montagem de "A Italiana em Argel" no Municipal de SP tem direção cênica de Hugo Possolo, do grupo Parlapatões

Em entrevista à Folha, maestro fala sobre particularidades do compositor italiano e planos para o teatro que dirige

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Teatro Municipal de São Paulo apresenta hoje a primeira das cinco récitas de "A Italiana em Argel", ópera engraçadíssima de Gioacchino Rossini (1792-1868), estreada em Veneza, em 1813, quando o compositor tinha apenas 21 anos.
A Orquestra Experimental de Repertório estará sob a regência de Jamil Maluf, também diretor do teatro. A direção cênica é de Hugo Possolo, do grupo Parlapatões.
A ópera conta a história acidentada de Isabela (Luisa Francesconi), que vai a Argel, governada por Mustafá (Stephen Bronk) para resgatar seu noivo, Lindoro (André Vidal).
Estão também no elenco Douglas Hahn, Denise Tavares, José Gallisa e Edinéia de Oliveira. Para o maestro Jamil Maluf, Rossini é "delicioso de ouvir", um compositor "para os gourmets musicais". Eis trechos de sua entrevista.  

FOLHA - "A Italiana" é simples de ouvir. É também de produzir?
JAMIL MALUF
- Rossini é delicioso de ouvir. É um compositor para gourmets musicais. Quando entramos na linguagem dele, acabamos nos divertindo com a inteligência e a perspicácia que ele demonstra. "A Italiana" é complicadíssima. Tínhamos feito essa ópera apenas uma vez, com figurinos emprestados, mas sem coro e acompanhada de piano, numa vesperal lírica. Eu a escolhi por ter sido uma das primeiras obras-primas de Rossini.

FOLHA - Em que sentido?
MALUF
- Os temas em Rossini são sempre curtinhos, quase células temáticas, mas ele faz um trabalho brilhante na variação deles. Há, por exemplo, um final "de estupefação" do primeiro ato, quando o enredo fica tão complicado que ameaça dar um curto-circuito na ópera. O tema é trabalhado de modo onomatopaico pelos personagens. Mais importante do que ter 50 melodias é ter três ou quatro que virem uma estrutura interessante.

FOLHA - Em 1992 o sr. regeu um "Barbeiro de Sevilha", baseado numa edição crítica da partitura de Rossini. A idéia se mantém?
MALUF
- A orquestra de Rossini é pequena, parecida com a de Mozart. Mas se fazia "O Barbeiro" com três trombones e uma tuba. Originariamente Rossini usava na orquestra um único trombone. Suas partituras sofreram interferências incríveis nas mãos de editores. Mas hoje podemos trabalhar com edições restauradas pela Fundação Rossini, da Itália. Na "Italiana" estamos trabalhando com a revisão do Azio Corghi.

FOLHA - Falando em Mozart, "A Italiana em Argel" é uma espécie de "Rapto do Serralho", às inversas: a noiva vai buscar o noivo raptado por muçulmanos, quando em Mozart era o rapaz que resgatava a moça...
MALUF
- É a chamada "ópera de resgate". O que reflete também a fascinação que existia na Europa pelo Oriente islâmico.

FOLHA - Quais as dificuldades de cantar "A Italiana"?
MALUF
- O papel de Isabela é um dos mais difíceis de contralto belcantista. Eu demorei para encenar porque é difícil elencar. Luisa Francesconi é uma grande Isabela. Ela faz a verdadeira coloratura, e não o glissando entre as notas, como se vê com freqüência. Ela tem a técnica e a predisposição física do aparelho fonador.

FOLHA - Por que, das três óperas montadas nesse ano, essa é a primeira que o sr. rege?
MALUF
- O ano tem sido bastante agitado. Há o anexo do teatro, há a reforma do palco (em 10 de agosto serão abertos os envelopes para a escolha da empreiteira), o que fechará o teatro no segundo semestre, e há a central de produção, que será inaugurada até dezembro, com seis galpões e arquivos para pesquisa, na zona norte. Daqui a quatro anos o Municipal chegará ao seu centenário. Vamos dotá-lo dos procedimentos mais modernos de cenotécnica, acústica e iluminação.

FOLHA - No segundo semestre não haverá, então, montagem lírica?
MALUF
- Já fechamos a programação, mas apenas com música sinfônica, de câmera e balé. Quanto às óperas do ano que vem, o objetivo é aumentar o número de produções por meio de permutas.

FOLHA - Como assim?
MALUF
- Acabou de acontecer no Chile a terceira reunião dos teatros latino-americanos de ópera. Eles e nós nos dispomos a permutar produções. Ópera é um empreendimento caro. O Municipal foi feito para ser um teatro de ópera. Completamos a vocação sinfônica da Sala São Paulo. A idéia é termos um teatro de repertório, com permutas, co-produções e central de produção.


A ITALIANA EM ARGEL
Quando:
hoje, dias 25, 27 e 29, às 20h30, e 1º de julho, às 17h
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, centro, tel. 0/ xx/11/3222-8698)
Quanto: R$ 20 a R$ 40 (ou R$ 10 a R$ 20, no dia 25)


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