São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 2011

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teatro

Galãs de novela se desafiam nos palcos

Versão de "Os Credores", de Strindberg, leva Gianecchini e Erik Marmo aos palcos sob direção de Elias Andreato

Espetáculo evidencia o poder destruidor das palavras ao flertar com a tragédia para retratar um triângulo amoroso

GABRIELA MELLÃO
DE SÃO PAULO

O credor que bate à porta para exigir o pagamento da dívida. Não quer dinheiro, mas vingança.
"Acho muito bom que você sinta o mesmo que senti", diz Gustavo, o credor, personagem de Reynaldo Gianecchini, ao vingar-se de Teka (Maria Manoella), mulher que o traiu e abandonou.
Depois de interpretar o vilão na novela "Passione", Gianecchini experimenta o mesmo estigma no teatro em "Cruel", espetáculo que estreia dia 27, às segundas e às terças no teatro Faap.
A obra é uma versão de "Os Credores" (1888), de August Strindberg, um dos mais importantes dramaturgos suecos, adaptada e dirigida por Elias Andreato.
Gustavo volta para a vida de sua ex-mulher para destruir o lar que um dia foi seu. Além de seduzi-la, envenena de ciúme seu atual marido, o inseguro Adolfo, encarnado por outro galã de novela, o ator Erik Marmo.
Ao eleger "Cruel" como título, Andreato chama a atenção para a impiedade do vilão. Não só. Com Strindberg, nada é tão óbvio. "A crueldade está presente em todos os personagens", diz o diretor.
Gustavo acaba despertando a crueza de Adolfo ao manipulá-lo. Da mesma forma, Teka semeia o mal através de seu coração ilimitado, aberto a todos, como ela mesma admite. "Teka é tão livre que é quase inconsequente. Não percebe como afetou os dois homens", diz Gianecchini.
Strindberg flerta com a tragédia para compor um triângulo amoroso. Nele, não há margem para esperança, nem mesmo a ilusória. "Em Shakespeare, Otelo mata Desdêmona por achar que ela o traiu. Em Strindberg, a destruição acontece aos poucos", diz Andreato.
Desde 1983, quando encenou "Senhorita Júlia", de Strindberg, o diretor deseja montar "Os Credores".
Considera uma raridade um texto que distribui a mesma força dramática entre os três personagens da trama.
"Isso é uma coisa única na dramaturgia", avalia.
Andreato opta em ambientar a peça no século 19, época em que o texto foi escrito, mas enfatiza que o texto nada tem de datado: "Essa doença humana de dominar o outro, querer o outro só para si, faz parte do nosso tempo e de todos os outros".
O diretor elimina os monólogos do texto original, buscando o que Strindberg tem de mais direto e cortante: "Não tenho mais tanto interesse em fazer teatro para poucos. Talvez minha função seja a de despertar o interesse do público a esses autores.
Outros poderão mergulhar com mais profundidade".
Tendo Gianecchini como um dos protagonistas, ele tem consciência de que irá atrair um público de televisão ao teatro. "Que venham por qualquer motivo, mas venham. Vão ver algo diferente do que estão acostumados", aposta Gianecchini.
O ator que já trabalhou em montagens de Zé Celso, Gerald Thomas e Aderbal Freire-Filho diz se recarregar no teatro. "Fazer uma peça me alimenta para umas quatro novelas", conclui. (GB)

CRUEL

QUANDO seg., e ter., às 21h; de 27/6 a 4/10
ONDE teatro Faap (r. Alagoas, 903; tel.0/xx/11/3662-7233)
QUANTO R$ 40
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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