São Paulo, terça, 23 de junho de 1998

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"Tambores do Maranhão" saem em documentário

Divulgação
Roupa característica da festa do boi-de-zabumba, exibida em uma cena do vídeo "Tambores do Maranhão"



Vídeo de Paulo Cesar Soares mostra festas populares do Estado e rituais de origem africana em vias de extinção, ainda desconhecidos dos próprios habitantes locais


BRUNO GARCEZ

da Reportagem Local

O centro histórico de São Luís, capital maranhense eleita Patrimônio da Humanidade em 97 pela Unesco, não é a única relíquia histórica que tem o Estado.
O diretor Paulo Cesar Soares se voltou, em seu documentário rodado em vídeo "Tambores do Maranhão", para outra relíquia maranhense: os vários ritmos de origem africana que podem ser ouvidos nas festas populares e nos terreiros do Maranhão.
O vídeo exibe desde festas tradicionais, como as distintas manifestações do bumba-meu-boi presentes em São Luís, até ritos quase extintos, caso da congada, praticada pela comunidade de descendentes de quilombolas do Frechal, região situada a cerca de 250 km de São Luís.
Não é a primeira vez que Paulo Cesar Soares pesquisa ritmos e manifestações populares. Em 95, o diretor realizou "Bahia de Todos os Ritmos", que mostrava a cultura negra de Salvador vista por meio da dança e da música.
No ano seguinte, Soares, ao visitar o Maranhão, se fascinou com a grande variedade de ritmos e festejos populares presentes no Estado. "Há no Maranhão uma riqueza musical muito grande, ainda pouco difundida", diz Soares.
Após um ano de pesquisas, o di retor deu início às filmagens. Em três meses, Soares e sua equipe percorreram mais de 3.000 quilô metros captando imagens de fes tas e ritos maranhenses.
Algumas das imagens são cenas pouco conhecidas até mesmo por maranhenses. É o caso da congada, praticada pela comunidade do Frechal e quase desconhecida no resto do Maranhão.
No ritual da congada, uma música de forte acento africano acompanha uma cerimônia dedicada a divindades católicas. As festas do bumba-meu-boi -as celebrações de rua mais populares do Maranhão-, que acontecem em junho, são mostra das em toda a sua diversidade.
O ritmo do bumba-meu-boi apresenta cinco estilos diferentes. Os gêneros mais populares são o boi-de-zabumba, que tem forte acento africano e é tocado com baquetas em grandes tambores, e o boi-de-matraca, característico da ilha de São Luís, que tem andamento acelerado e cujo ritmo é ditado por duas baquetas, que, batidas uma na outra, criam um som agudo.
Há outros ritmos tradicionais exibidos em "Tambores do Mara nhão", como a dança do coco, praticada por habitantes da região do Cajueiro, e o caroço, surgido no Vale do Parnaíba.
O vídeo mostra também ritos religiosos, como o tambor de mina, religião de origem africana semelhante ao candomblé. Nas cerimônias da religião, tambores, cabaças e um agogô acompanham cânticos entoados em iorubá. O reggae, gênero musical muito popular em São Luís, foi deixado de lado no documentário. O dire tor diz que preferiu optar pelos ritmos tradicionais do Estado.
"Tambores do Maranhão" terá pré-estréia no dia 2 de julho no Teatro Arthur de Azevedo, em São Luís, e o diretor está negociando a exibição do documentário em ca nais pagos e de TV aberta.


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